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Paisagista vence prêmio Pensador de Cidades

Trabalho de Rosa Kliass transforma espaços degradados em cartões postais

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SÃO PAULO - Ao ser chamada para fazer o projeto de paisagismo do Parque da Juventude, em São Paulo, Rosa Kliass encarou o desafio eliminando inconvenientes. O primeiro deles foi iniciar o trabalho sem pensar no estigma do local, que por anos abrigou a Penitenciária do Carandiru. "Decidi não adotar o estigma. Foi melhor assim. Hoje, o lugar tem um astral para cima", diz.

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O trabalho da arquiteta paisagista, hoje com 82 anos, resultou não só em um novo espaço recreativo e cultural na cidade, mas também mudou a paisagem da região e melhorou a qualidade de vida da comunidade que vive no entorno.

Por esse feito, Rosa recebe o prêmio Pensador de Cidades: Luiz Antonio Pompéia, oferecido pela Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). A premiação, concedida bienalmente na cerimônia do Top Imobiliário, foi criada em homenagem a um dos fundadores da Embraesp e que dedicou boa parte de sua vida para melhorar a cidade. "Quando eu soube quem foram os vencedores anteriores fiquei muito orgulhosa", conta. "São profissionais que contribuíram para grandes melhorias."

Paisagismo. A trajetória profissional de Rosa é permeada por projetos que transformaram degradadas paisagens urbanas em cartões postais. Ela também é co-autora da reforma do Vale do Anhagabaú, em São Paulo. Nas regiões Norte e Nordeste, esteve à frente do Mangal das Garças e das Docas, em Belém, do Parque do Forte, em Macapá, e, em Salvador, dos parques da Lagoa do Abaeté e das Esculturas. Porém, sua menina dos olhos é o Parque da Juventude.

Convidada pelo escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini, vencedor do concurso feito pela Prefeitura para escolher a empresa responsável pela obra, a paisagista ficou encantada com as possibilidades que teria. Na época, o projeto sofreu alterações de quando foi apresentado. Porém, as mudanças favoreceram o que a paisagista sabe fazer de melhor: dar vida nova aos ambientes.

"O dono do escritório me ligou depois de algum tempo. E disse: ‘Rosa, antes nós tínhamos um projeto de arquitetura com um pouco de paisagismo. Agora, temos uma obra de paisagismo com um pouco de arquitetura’", relembra. O espaço a ser transformado diminuiu e, por conta disso, o paisagismo de Rosa ganhou mais destaque na obra.

Não é à toa que o Parque da Juventude virou um lugar que a paisagista vai com frequência até hoje. Nessas visitas ela toma a dimensão do que o espaço representa para quem o aproveita.

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"Quando fiz o desenho da área esportiva deixei de fora os alambrados das quadras", diz. "Não queria que lembrasse a prisão, as grades." Um dia, ela foi passear por lá com um professor americano de paisagismo, que lhe perguntou sobre essa decisão. "Aproveitei um guarda que passava para perguntar se as pessoas reclamavam da falta de alambrado, uma novidade até então", conta. "Para minha surpresa o homem olhou lentamente o espaço e respondeu que nunca reparou que não havia alambrado e que nunca ouviu nada dos visitantes."

Mas foi conversando com um morador da região que ouviu o elogio que considera mais tocante. "Perguntei a um rapaz, ao lado de sua namorada, se ambos estavam gostando do lugar. Ele respondeu que sim, mas que deveria ter sido feito 10 anos atrás. Assim, ele não teria perdido tantos amigos que fizeram escolhas equivocadas e foram parar no mau caminho."

O projeto do Parque da Juventude foi premiado na Bienal Internacional de Quito e na premiação anual do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

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