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Para BIS, dívida alta pode ‘parar’ emergentes

Desvalorização cambial elevou endividamento das empresas desses países; Brasil tem a segunda maior dívida, atrás apenas da China

Por Jamil Chade
Atualização:

BASILEIA - A desvalorização do real diante do dólar e o acúmulo de dívidas na moeda americana pelas empresas brasileiras nos últimos anos podem fazer a economia do País “parar”. O alerta é dos principais bancos centrais do mundo que, reunidos desde ontem em Basileia, na Suíça, apontam para o impacto da variação cambial nos investimentos nos países emergentes.

Em um documento sobre a análise da dívida em dólar nos emergentes, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) mostra que, se por anos o crédito na moeda americana foi barato e farto para muitos países, a mudança no cenário internacional e a desvalorização de suas moedas tornou a dívida um obstáculo para o crescimento dessas economias.

Contágio: indicadores ruins da China semana passada criaram instabilidade no mercado Foto: ALY SONG | REUTERS

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Ao final de 2015, um total de US$ 9,8 trilhões foi emprestado para o setor empresarial fora dos EUA, um volume recorde. Desse total, o que chama a atenção do BIS é o volume de empréstimos aos mercados emergentes: US$ 3,8 trilhões. Isso ocorreu, segundo os economistas, porque o dólar se depreciou por anos, o que tornava o empréstimo no exterior um alternativa viável. Com a inversão na curva no Brasil e em outros emergentes, o BIS aponta que muitos projetos podem “parar” ou serem “revertidos”.

Na avaliação da entidade, que serve como o banco central dos bancos centrais, os investimentos corporativos têm sido fundamentais no crescimento das economias emergentes nos últimos dez anos. Se essa tendência perde força por conta de um dólar mais caro, o resultado será uma economia em sérias dificuldades para crescer.

O BIS cita especificamente o caso brasileiro. Segundo o banco, os empréstimos entre empresas foram triplicados entre 2009 e 2015, passando de US$ 67 bilhões para US$ 206 bilhões. “Papéis brasileiros offshore e em dólar também triplicaram, de US$ 34 bilhões para US$ 107 bilhões”, alertou. No total, considerando também empresas não residentes, o total da dívida das empresas no Brasil atingiu US$ 322 bilhões. O valor seria o segundo maior entre os emergentes, perdendo apenas para a dívida da China denominada em dólares, avaliada em US$ 1,1 trilhão.

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“Metade do fluxo de investimentos diretos entre empresas ao Brasil pode representar a substituição de dívidas em dólar com baixo rendimento por dívidas na moeda doméstica com alto rendimento”, apontou o BIS.

O BIS chega a citar o caso da Petrobrás como um exemplo de empresa que captou no exterior, se endividou em dólar e, agora, é obrigada a pagar mais caro, diante da desvalorização do real. “A Petrobrás seria um exemplo”, aponta o banco. “Para pagar pelos custos de desenvolvimento do petróleo offshore diante da queda no fluxo de recursos por conta dos preços domésticos controlados de energia, a estatal brasileira ampliou sua dívida em dólares em 2009-2014.” Segundo o BIS, a empresa fez ofertas “de não menos de US$ 8 bilhões”.

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O BIS admite que as dívidas em dólares cresceram a um ritmo menor em 2015, em comparação a 2013 e 2014. As emissões líquidas dos emergentes despencaram no segundo semestre do ano passado, de US$ 41 bilhões no segundo trimestre para apenas US$ 5 bilhões entre julho e setembro. Mas em cinco dos 12 mercados emergentes examinados, entre eles o Brasil, a emissão se tornou negativa no segundo semestre de 2015.

China. Apesar de a crise no Brasil estar no foco dos economistas do BIS, o principal tema da reunião que termina hoje tem sido o impacto da China na economia mundial. O alerta dos BCs é de que uma economia chinesa que dê sinais claros de queda pode frustrar os planos europeus e americanos de consolidar suas recuperações.

As recentes turbulências em Pequim mostram, segundo os BCs, que a segunda maior economia do mundo está com sérias dificuldades e, pior, com dificuldades também para agir.

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Um dos principais nomes na reunião na Basileia era Zhou Xiaochuan, presidente do BC chinês e alvo de todas as atenções. A incerteza sobre os rumos da economia em Pequim foram ampliados depois as intervenções do BC chinês consideradas como “confusas” pelos demais xerifes das finanças internacionais.

Ontem, os reguladores chineses emitiram um comunicado para apontar que seu sistema financeiro é “estável e saudável”. Mas, em um ano, as reservas externas na China caíram em mais de US$ 500 bilhões, embora analistas apontem que o valor não é ainda uma fonte de preocupação diante das reservas originais de mais de US$ 3,3 trilhões.

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