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Analistas não esperam por forte revés no mercado após rebaixamento da S&P

Para economistas, apesar de S&P tradicionalmente não mudar notas soberanas em ano de eleições, movimento não chega a surpreender

Por Caio Rinaldi , Ricardo Leopoldo , André Ítalo Rocha e Simone Cavalcanti
Atualização:

O rebaixamento da nota de crédito soberano do País pela agência de classificação de risco S&P Global, que passou de BB para BB-, deve gerar uma correção no câmbio e no preço dos ativos em bolsa nesta sexta-feira, 12. No entanto, por ser de certa forma um movimento esperado pelos analistas, a avaliação é de que esse impacto será pequeno entre investidores. 

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Na opinião do economista da 4E Consultoria, Juan Jensen, a maior parte do mercado já não trabalhava com a hipótese de aprovação da reforma da Previdência. Por isso, ele diz, "o preço dos ativos já refletia esta perspectiva. Vai haver uma correção pequena, com algum impacto em câmbio e bolsa".

Para Jensen, o fluxo de capital estrangeiro ao País pode ser mais impactado pela decisão da S&P Global, que apontou a demora do Congresso em aprovar reformas estruturais para melhorar a situação das contas públicas. Desta maneira, ressalta o economista, o dólar deve apresentar valorização na manhã de sexta-feira em relação ao real.++ S&P rebaixa nota do Brasil de BB para BB- Apesar do rebaixamento, diz Jensen, o quadro fiscal e econômico do País não foi alterado, o que evitaria um possível "efeito manada", com outras agências rebaixando a nota de crédito brasileira. "A situação fiscal é ruim e tende a continuar, não tem novidade neste cenário. A Previdência já era difícil de passar e já sabíamos que seria complicado em 2018", afirma.

O rebaixamento era esperado nas últimas semanas, à medida que falharam as negociações no Congresso pela reforma da Previdência Foto: Brendan Mcdermid/Reuters

O fator que teria maior potencial para afetar a precificação de ativos e câmbio neste ano, destaca o economista da 4E, são as eleições presidenciais.Urgência nas reformas. Já Guilherme Macêdo, sócio da Vokin Investimentos, acredita que o rebaixamento do Brasil deve fazer com que o juro de curto prazo dispare nesta sexta-feira e a Bolsa corrija parte da alta acumulada em 2018. Nos últimos dias o Ibovespa, índice de referência com as principais ações comercializadas na B3, fechou em alta. Nesta quinta-feira, 11, o índice fechou aos 79.365, alta de 1,79% para o dia.

Segundo Macêdo, embora um rebaixamento fosse esperado, havia dúvidas se a classificadora anunciaria um downgrade em ano eleitoral, o que contraria a tradição da S&P. Como nada foi anunciado no fim de 2017, um movimento do tipo em 2018 passou a ser visto como incerto.++ Minutos após rebaixamento, Meirelles comemora crescimento do Brasil no Twitter Apesar disso, o sócio da Vokin Investimentos disse que deve prevalecer no mercado a avaliação de que o rebaixamento vai aumentar o senso de urgência para aprovação da reforma da Previdência no Congresso. "Isso vai mostrar que o custo Brasil é maior e talvez isso chegue à cabeça dos legisladores, que vão perceber que é preciso fazer algo", afirmou Macedo. Além disso, ele considerou que a notícia arranha a credibilidade do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que chegou a dizer mais de uma vez que considerava improvável que alguma agência rebaixasse o Brasil antes da votação da reforma da Previdência. "E ele perde força como candidato à Presidência", acrescentou. Dólar. O diretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs, Alberto Ramos, o rebaixamento da nota soberana do Brasil pela S&P Global ratings "era mais ou menos esperado, com dificuldades para o avanço do ajuste fiscal". O rebaixamento é sinal importante para classe política sobre a importância da reforma da Previdência, que demorou para prosseguir", disse. "É um fato que certamente não ajuda." Para Ramos, a decisão da S&P de reduzir a nota do Brasil de BB para BB- e mudar a perspectiva de negativa para estável "deve trazer algum impacto em ativos, como dólar", mas deve ser de pouco tempo. "O efeito de rebaixamento pode ser relativo sobre ativos, pois já estava de certa forma precificado", apontou." Segundo o diretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs, o rebaixamento do Brasil pode impactar a gestão da política monetária pelo Banco Central, especialmente se ocorrer uma prolongada desvalorização do real ante o dólar. "Mas o efeito que acontecer, deve ser de curto prazo." Bolsa de valores. A reação dos mercados acionário e cambial ao rebaixamento da nota do rating soberano brasileiro pela S&P Global, de BB para BB-, não deve ser exagerada porque já estava precificada.

A avaliação é do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, para quem a decisão da agência de classificação de risco faz sentido, uma vez que a probabilidade de a reforma da Previdência passar no Congresso, mesmo em fevereiro, era muito reduzida.

"O mercado, em tese, já era para ter precificado que a aprovação não ia acontecer. Por isso, acredito que a reação não deve ser nada muito grandiosa ou intensa", disse ele, que acredita na votação das regras sobre a aposentadoria apenas no próximo governo, ou seja, a partir de 2019. Nesta quinta-feira, o Ibovespa fechou, na máxima, aos 79.365,43 pontos, em alta de 1,49% e o dólar à vista em queda de 0,61%, cotado a R$ 3,2156.

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"O rebaixamento da nota fica, então, como alerta para o Congresso e sociedade que não tem mais como escapar. A reforma da Previdência tem de passar", ressaltou o economista.

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