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Para especialistas, empresas têm papel central na evolução da sustentabilidade

Boas práticas não significam abdicação do lucro, avaliam executivos durante seminário da Amcham em parceria com o 'Estado'

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:
Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu Foto: Felipe Rau/Estadão

As empresas têm papel central na evolução da sustentabilidade e boa gestão dos já escassos recursos do planeta. Em seminário promovido pela Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham) em parceria com o Estado, especialistas discutiram modelos de negócio inovadores e a urgente necessidade de disseminar uma forma diferente de consumir

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"Nós continuamos na mesma velocidade de utilização de recursos do planeta e as empresas são centrais para mudar isso", diz Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu. Organização sem fins lucrativos, o Akatu nasceu em 2002 e é focado na mobilização da sociedade para o consumo consciente. 

Ele relata que o mundo já consome 60% a mais de recursos do que é capaz de regenerar e que 16% da população é responsável por 78% do consumo, gerando instabilidade social e econômica.

"Até 2020, seriam necessárias tecnologias que reduzissem em 75% o uso de recursos naturais por unidade de produto. Trabalhar de forma sustentável e modo a ter o suficiente para todos e para sempre exige mudanças de tecnologia, políticas públicas e nova consciência dos consumidores", diz.

Ele afirma que é preciso tirar o foco da simples redução do consumo. "Não é limitar o consumo, é consumir diferente. As empresas precisam apostar em produtos e serviços radicalmente novos, que prezem pelo durável, o local, o compartilhado, o saudável e que tem aproveitamento integral", afirma.

Hugo Bethlem, sócio diretor da Unidade de Negócios de Sustentabilidade da GS&MD Gouvêa de Sousa e ex-vice presidente do Grupo Pão de Açúcar, afirma ainda que as boas práticas não significam abdicação do lucro, e que as duas coisas só andam juntas com boa liderança. "Não precisamos deixar de ser capitalistas, mas precisamos de líderes conscientes que se preocupem com as pessoas para quem trabalham, pessoas a quem servem e com o planeta", observa

As empresas do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&F Bovespa, por exemplo, se mostraram mais resistentes às turbulências econômicas. Entre 2005 e 2015, a valorização acumulada das ações dessas companhias foi de 100%, ante pouco mais de 25% do Ibovespa, o principal índice de ações do mercado brasileiro.

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Para implementar essas mudanças, no entanto, é necessário quebrar a maneira linear pela qual a indústria é vista, observa Luiz Carlos Dutra, sócio-diretor da FSB e ex-vice-presidente do Grupo Votorantim, da Unilever. "Temos de ver o impacto na cadeia como um todo, para torná-la não apenas produtiva, mas de valor", diz. Entretanto, ele observa, além de propósito e engajamento, é preciso multiplicar. "Se não houver escala, não vamos conseguir fazer a diferença de que precisamos", diz. 

Sistema B. Em sintonia com esses propósitos, tem crescido ao redor do mundo a adesão ao Sistema B, um movimento global que busca criar um ecossistema de empresas que valorizam o desenvolvimento social e sustentável. O conceito foi criado pelo B-Lab nos Estados Unidos em 2006, com a proposta de redefinir o sucesso para os negócios. Hoje, há mais de 1.850 empresas certificadas, sendo 247 na América do Sul. 

Para se certificar como empresa B, a companhia passa por um rigoroso processo de certificação que examina todos os seus aspectos, de impacto socioambiental e transparência a relações de trabalho "São 165 indicadores para avaliar a empresa como um todo", explica Ana Sarkovas, diretora executiva do Sistema B. "Ao aderir, ela tem de fazer uma mudança em seu estatuto social em que se compromete a ter responsabilidade social e a gerar retorno não só para o acionista, mas para todos os envolvidos em sua cadeia", diz.

A Natura é a única empresa brasileira de grande porte certificada como empresa B, e obteve o seu selo em 2014. "Para a Natura, a certificação B foi um encontro de propósitos e caminhos", afirma Marcelo Behar, diretor de Assuntos Corporativos da empresa. A Natura, que nasceu como uma empresa diferenciada por trabalhar com ingredientes naturais em suas formulações, tornou-se um exemplo mundial de boas políticas e práticas relacionadas a governança, comunidade e meio ambiente.

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"Muitos me perguntam se virou uma ONG", brinca Behar. "Nada disso: continua uma empresa que tem um propósito econômico, mas que quer ir além dele", diz. A empresa teve lucro líquido de 513,5 milhões em 2015.

Outra empresa brasileira certificada é a paulista Okena, que trata efluentes poluídos de empresas para, depois do tratamento, devolvê-los limpos à natureza. "A empresa B é uma ferramenta para a mudança social", diz Ricardo Glass, fundador e CEO da Okena. "É preciso que haja boa governança e até boas relações de trabalho. Precisamos do protagonismo do consumidor, do empresário consciente, do indivíduo", diz.

Os especialistas reforçam que, com a crise econômica, muitas empresas estão reavaliando seus modelos de negócio. "Temos sido procurados por muitas grandes empresas tentando redefinir seu modelo. A crise é uma ótima oportunidade para essa revisão e implementação de práticas mais sustentáveis, não só para as pequenas e novas, mas para os grandes grupos também", afirma Ana, do Sistema B. "Se é para recomeçar, vamos recomeçar do jeito certo, disse Behar, da Natura.

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