Para ministro da Agricultura, impacto da JBS na carne será longo
Blairo Maggi diz que produção do setor levará tempo para se reorganizar; ministério pediu ao BNDES atenção especial ao setor
Por Lu Aiko Otta
Atualização:
BRASÍLIA - O impacto negativo da crise da JBS sobre a produção brasileira de carne terá efeito prolongado, disse ao ‘Estado’ o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. “Penso que vai demorar um pouquinho para o setor se reorganizar”, comentou. “Até eles (JBS) voltarem a comprar mais, ou os frigoríficos que estão fechados reabrirem, vai tempo.”
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Ele tem conversado com donos de diversos frigoríficos que se encontram fechados, mas pensam em reabrir as portas. Essa volta à atividade, porém, não acontece da noite para o dia. Além de colocar a planta em condições físicas de operar e contratar funcionários, é preciso obter uma autorização de funcionamento do ministério. “Não é apertar um botão e sair trabalhando amanhã.”
A Agricultura estrutura um plano para reorganizar o setor de frigoríficos. “Alguma coisa vai ser feita”, assegurou o ministro. Porém, as opções estão em aberto. “Tem muitas peças sobre a mesa e a gente ainda precisa achar uma saída.” O fragilizado setor sofreu, nos últimos dias, mais um revés com o bloqueio temporário à entrada da carne brasileira nos Estados Unidos, mercado que não ocupa as primeiras posições nas exportações brasileiras do produto, mas serve de referência do mercado internacional.
Uma alternativa proposta pelos produtores é a criação de uma cooperativa que reativaria pequenos frigoríficos. Maggi, porém, não se mostrou entusiasmado, apesar de considerar a ideia boa. “Essas coisas não começam grandes”, comentou. “Até nascer pequeno, ganhar escala, aprender. Em um momento de crise como essa, fundar uma cooperativa e sair vendendo? Para quem?”
Segundo informou o Estado no dia 15, dois primos do ministro, Fernando e Eraí, estariam interessados nesse projeto. “Não falei mais com eles, mas acho que é conversa”, disse Maggi. “O foco deles é produção, sair abatendo bois não é o negócio deles.”
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Na quinta-feira, o ministro conversou com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, para pedir uma atenção especial ao setor. A oferta de linhas de crédito é considerada essencial para “manter o setor em pé”, segundo explicou o secretário executivo da pasta, Eumar Novacki.
Os produtores amargam a queda nos preços da carne pela desaceleração dos abates pela JBS. Antes da crise, era possível programá-los de um dia para o outro. Agora, segundo informações que chegam ao ministério, a demora é de até três semanas.
15 perguntas e respostas sobre a Operação Carne Fraca
1 / 1415 perguntas e respostas sobre a Operação Carne Fraca
3 - O consumidor deve deixar de comprar carne?
Não há recomendação oficial para suspender o consumo. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) recomenda que se priorize alimentos in nat... Foto: Carlos Silva/MapaMais
15 - Há exagero na divulgação?
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1 - O que é a Operação Carne Fraca?
Deflagrada no dia17 de Fevereiropela Polícia Federal, após uma denúncia contra um frigorífico no Paraná, a Operação Carne Fraca investiga um esquema d... Foto: DivulgaçãoMais
4 - Os produtos sob suspeita serão recolhidos?
O Idec encaminhou uma carta ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitando o recolhimento de mercadori... Foto: Carlos Silva/MapaMais
5 - Pedaços de papelão foram encontrados nas carnes?
De acordo com a PF, parte das carnes era misturada com papelão. A BRF disse que se trata de um mal-entendido e que o funcionário gravado na investigaç... Foto: Carlos Silva/MapaMais
6 - Que outros problemas as investigações apontam?
A PF afirmouque, nas gravações, sócios de um frigorífico falam sobre o uso de carne de cabeça de porco na produção de embutidos - o que, segundo a pol... Foto: DivulgaçãoMais
7 - Havia produtos com a bactéria salmonela?
Segundo a Polícia Federal, a partir de áudios da investigação, havia carnes da BRF contaminadas com salmonela que seriam exportadas para a Europa. No ... Foto: Amanda Pereobelli/EstadãoMais
8 - Como o governo reagiu?
Após divulgada a ação, o governo reiterou a confiança na qualidade do produto nacional, disse que iria acelerar o processo de auditoria nos estabeleci... Foto: Antonio Lacerda/EFEMais
9 - Quais os principais riscos à saúde associados ao consumo de carnes estragadas?
O principal problema são as infecções gastrointestinais causadas por bactérias presentes em carnes deterioradas e fora do prazo de validade, como as d... Foto: DivulgaçãoMais
10 - O consumo de carne contaminada por bactérias do gênero salmonella sempre leva a infecções graves?
Não necessariamente. Existem milhares de tipos de bactérias do gênero salmonella. Dois tipos são considerados mais prejudiciais à saúde pública: Salmo... Foto: Filipe Araújo/EstadãoMais
11 - Pessoas que consumiram carne deteriorada poderão desenvolver algum tipo de câncer?
É improvável. A maior parte dos tipos de tumor ocorre quando a pessoa se expõe ao agente cancerígeno por um longo período de tempo. Assim, para que ad... Foto: Amanda Perobelli/EstadãoMais
12 - O uso de ácido ascórbico (vitamina C) como conservante nas carnes é proibido no Brasil? Ele está associado a maior risco de câncer?
A utilização dessa substância é permitida no País como aditivo alimentar e, no caso das carnes, tem função de antioxidante, sem restrições quanto ao l... Foto: Amanda Perobelli/EstadãoMais
13 - Como minimizar o risco de ser contaminado por uma bactéria ao consumir carnes?
A principal orientação dos especialistas é consumir carne bem cozida, grelhada ou assada. As altas temperaturas utilizadas nesses processos são capaze... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
14 - Quais são os principais sinais de que a carne pode estar deteriorada?
Primeiro, é preciso observar a coloração: se ela estiver amarelada, esverdeada ou acinzentada, é sinal de que não está boa para consumo. A segunda car... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
A crise da JBS ainda não teve impacto nas exportações, disse o ministro. Ele voltou ao País na noite de segunda-feira passada, após um giro pela Ásia. Em Hong Kong, principal mercado da carne brasileira, ele agradeceu o secretário de Alimentos e Saúde, Ko Wing-man, pela compreensão demonstrada na crise. Hong Kong chegou a bloquear totalmente a entrada de cargas brasileiras, mas a medida foi rapidamente revertida.
Inspeção. O governo estuda mudanças no sistema de inspeção de frigoríficos, informou Novacki. Uma delas ajudará a superar críticas feitas pela União Europeia ao sistema brasileiro. Atualmente, a inspeção dos abates de carne para exportação é feita por pessoas pagas pelos próprios frigoríficos, dada a escassez de fiscais nas estruturas dos governos federal, estaduais e municipais. A ideia em análise na Agricultura é criar uma associação de fiscais que seriam pagos por um fundo formado com contribuições de frigoríficos. A pasta ficaria encarregada de coordenar a alocação dos fiscais, além de seu credenciamento e treinamento.