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Para OMC, turbulência na Europa deve afetar comércio

Grécia tem participação insignificante no mercado mundial, mas é o impacto no euro que preocupa os especialistas

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:

GENEBRA - A crise na Grécia ameaça afetar o comércio mundial. O alerta é do brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). As previsões da entidade publicadas em abril já indicavam que o fluxo de exportações seria decepcionante em 2015. Mas a estimativa não previa mais uma turbulência no maior mercado importador do mundo, a Europa.

"O comércio, como em qualquer outra atividade, é sensível aos operadores econômicos. O comércio quer duas coisas: estabilidade e previsibilidade", declarou Azevêdo.Segundo ele, na medida que a crise na Grécia justamente afeta a estabilidade da zona do euro, "é razoável pensar que pode ter um impacto no comércio". 

O diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, alerta para as consequências da crise grega no comércio internacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Para o brasileiro, porém, as consequências não se limitariam à Europa. "(O impacto) não seria apenas na região, mas em outras também", disse. Azevêdo admite, porém, que seria difícil por enquanto estimar o volume de uma eventual queda no comércio. 

A Grécia tem uma participação insignificante no mercado mundial. Mas é o impacto no euro que preocupa os especialistas. Uma nova desvalorização da moeda única e as incertezas poderiam afetar as exportações de dezenas de países, principalmente aqueles que tem a Europa como o maior destino de suas vendas. 

Nos últimos dias, os governos da Austrália e Índia já indicaram que temem um impacto em suas exportações. Na Suíça, o Banco Central foi obrigado a intervir no mercado financeiro para não permitir uma valorização excessiva do franco, o que significaria uma perda de competitividade para exportar para a zona do euro.

Em abril, a OMC já havia revisado para baixo do crescimento do comércio mundial em 2015. Segundo a entidade, a falta de crescimento nos emergentes e as dificuldades na Europa obrigaram a entidade a prever uma expansão menor dos fluxos comerciais neste ano. Originalmente, a previsão era de uma expansão de 5% em volume em 2015. Mas foi reduzida para 4,3% e, agora, caiu para 3,3%. Em 2016, ele será de 4%.

" O crescimento do comércio tem sido frustrante em anos recentes diante do crescimento baixo das economias depois da crise financeira", declarou Azevêdo na época. "Olhando para o futuro, prevemos que o comércio continue uma recuperação lenta. Mas com o crescimento econômico ainda frágil e tensões geopolíticas, essa tendência pode ser minada", alertou. No cenário, porém, não estava um calote da Grécia. 

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A crise europeia pode afetar ainda mais as exportações brasileiras, que passam por dificuldades. Em 2014, o Brasil sofreu a maior queda nas exportações entre as 30 principais economias do mundo, caiu no ranking dos maiores vendedores do mundo e perdeu participação no comércio internacional.

O Brasil registrou uma retração nas exportações de 7%. Ao final de 2014, o País era apenas o 25o maior exportador, superado por Tailândia, Suíça e Malásia. Em 2013, o Brasil era o 22o maior exportador do mundo, com 1,3% da fatia do comércio internacional e vendas de US$ 242 bilhões. Hoje, representa 1,2%.

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