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Para se livrar das contas, morador coloca casa à venda

Depois de anos vivendo em palafitas, população de Altamira tem dificuldade de arcar com despesas como IPTU e conta de luz

Por Daniel Teixeira , Renée Pereira , TEXTOS e FOTOS; ALTAMIRA (PA)
Atualização:
  Foto: DANIEL TEIXEIRA | ESTADAO CONTEUDO

O sonho da casa própria durou menos de um ano para o maranhense Izael do Nascimento, de 38 anos. Ex-morador da Invasão dos Padres, uma das maiores palafitas de Altamira, ele ganhou no ano passado uma residência novinha, com três quartos, dois banheiros, sala e cozinha, num terreno de quase 300 m². O imóvel era uma “benção” para quem morava em condições insalubres em um barraco de madeira, que a cada cheia do Rio Xingu enchia de água e destruía o pouco que tinha.

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A mudança para a casa nº 902, no bairro Jatobá, um dos cinco construídos pela Norte Energia para abrigar famílias atingidas pela Hidrelétrica Belo Monte, foi providencial. Na Invasão dos Padres, ele vivia com a mulher e a família da irmã num mesmo barraco. Com o imóvel, enfim teria um espaço para o casal e o bebê que viria pela frente. Mas Nascimento não tinha ideia de como era caro manter uma casa.

Hoje, com um bebê de um mês, ele tenta vender o imóvel por R$ 75 mil, por causa das despesas elevadas. A conta de luz é a principal delas. “Tenho três faturas sem pagar, que juntas somam mais de R$ 700”, afirma o morador, que vive de bicos. “Às vezes tenho a impressão de que estou pagando um financiamento da casa, e não a conta de luz, de tão alta que está.”

Casos como o de Nascimento têm sido muito comuns nos novos bairros de Altamira. Na cidade que abriga a terceira maior hidrelétrica do mundo, a conta de luz virou uma dor de cabeça para os moradores, que preferem vender os imóveis novos e procurar algo mais em conta, ou até voltar para um barraco. “As pessoas não estão acostumadas com essa estrutura. Uma amiga vendeu a casa por R$ 20 mil porque era grande demais para limpar e voltou pra um barraco”, conta Geovany Teixeira Gomes, ex-moradora de palafita.

Além disso, diz ela, como nunca pagaram pela energia, muitos não sabem economizar. “Por causa do calor, deixam o ar-condicionado ligado o dia inteiro. Aí a conta explode.” Mas essa explicação não serve para todo mundo. Jeová Pereira do Nascimento recebeu uma conta de R$ 800 e garante que já desligou tudo, até o chuveiro.

Reclamações. No bairro Jatobá, basta uma caminhada rápida para encontrar várias placas de “vende-se”. A alagoana Adiane Pereira da Silva também já desistiu da casa nova e quer se mudar para Vitória do Xingu, outra cidade atingida por Belo Monte. Além da conta de luz, ela reclama que acabou de receber o carnê do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). “Nem sei o que fazer com isso. Ainda não paguei”, diz a ex-moradora da Invasão dos Padres.

Outra reclamação da dona de casa é a qualidade da água. Nos primeiros meses na casa nova, ela lembra que a água era limpa, dava para cozinhar e beber. “Mas, de uns tempos pra cá, virou um barro só”, conta. Agora, diz ser obrigada a comprar quatro galões de água por mês para a família, o que pesou ainda mais no orçamento doméstico. “Nas palafitas, não pagava luz, não pagava IPTU e tinha água limpa.”

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Os imóveis dos novos bairros já foram construídos com ligação direta na rede de água e esgoto. A prefeitura de Altamira culpou a Norte Energia pelo problema. Segundo porta-voz da cidade, a construção da rede foi malfeita e tem exigido uma série de reparos. A Norte Energia, por sua vez, afirma que o sistema é moderno e adequado ao município, mas que a prefeitura ainda não tem estrutura nem recursos humanos com capacidade técnica para a operação e manutenção do sistema. A empresa vai propor a capacitação e o treinamento dos profissionais para lidar de forma correta com a rede.

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