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Parcelar imóvel no longo prazo nem sempre é vantajoso

Ao invés de assumir dívida 'a perder de vista', consumidor pode adquirir moradia menor ou reduzir as parcelas do financiamento habitacional 

Por Hugo Passarelli
Atualização:

SÃO PAULO - O crescimento do crédito imobiliário e os juros menores tornaram mais fácil comprar um imóvel. Como contrapartida, os preços explodiram e o consumidor aceitou assumir um financiamento de prazo maior para conseguir encaixar no orçamento. Uma linha de crédito "a perder de vista", contudo, pode não ser vantajosa ao comprador.

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Na Caixa Econômica Federal, que acabou de reduzir o juro do crédito habitacional, o prazo médio dos financiamentos pulou de 18,3 anos para 25,3 anos de 2002 até este ano, um aumento de quase 40%, de acordo com o diretor de habitação do banco, Teotônio Rezende.

Mas, na ponta do lápis, mais parcelas a pagar não são sempre sinônimo de bom negócio. A simulação a seguir mostra o porquê. Um imóvel de R$ 500 mil, com entrada de R$ 100 mil, juro anual de 9% e financiado em 20, 25 ou 30 anos. Entre o menor e o maior prazo, a diferença das prestações é de R$ 555 (R$ 3.994 e R$ 4.549, respectivamente). É um valor que decidirá se você assumirá (ou não) uma dívida por 10 anos a mais. Perfil, idade e renda do comprador também influenciam, mas os números "crus" desse cálculo ajudam a pensar melhor o financiamento. Você também pode fazer simulações usando as informações do seu imóvel e o juro oferecido pelo seu banco pelo Zap Imóveis, o mesmo usado pela reportagem.

*Crédito livre

"O consumidor opta por um prazo maior porque tem uma prestação menor e uma folga maior na renda", diz Rezende. A recomendação, contudo, é optar pelo menor prazo possível na hora de fechar um crédito imobiliário. Além de reduzir o gasto com o pagamento de juro, o comprador ainda terá uma margem de manobra para negociar com o banco, caso precise reduzir o valor da parcela no futuro. Essa escolha, porém, deve sempre respeitar o limite máximo de 30% para comprometimento da renda com o financiamento.

Roy Martelanc, economista e professor da FEA-USP, afirma que o consumidor deve evitar a prática de apenas checar se a prestação cabe no bolso e passar a olhar para o prazo. "Não recomendo (o financiamento imobiliário de longo prazo), são anos de vida que você está pagando. Se possível, financie em menos tempo ou compre um imóvel menor", afirma.

O aumento do comprometimento com dívida de imóvel é sinal de mudança de patamar do País, na avaliação de Eduardo Zylberstajn, economista da Fipe e coordenador do índice FipeZap, que mede o valor de apartamentos. "O Brasil está chegando hoje ao mesmo nível de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, onde o financiamento da moradia é uma dívida para o resto da vida".

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Mas Martelanc, da FEA-USP, pondera: "Ainda estamos longe dos outros países em tamanho da dívida imobiliária sobre o PIB".

A conclusão de Zylberstajn é que, além das condições facilitadas de crédito, o aumento da renda do trabalhador também explica o boom imobiliário, notadamente a partir de 2008. "O valor comprometido da renda mensal (com parcela de financiamento habitacional) manteve, aproximadamente, o mesmo peso para o trabalhador típico. Isso se explica pela combinação de juros mais baixos e prazos maiores, que permitiram o crescimento das tomadas de empréstimos", afirma.

O salto do preço dos imóveis já afeta também os consumidores mais endinheirados. Na Idea!Zarvos, empreiteira de imóveis de alto padrão, clientes que antes pagavam o imóvel à vista hoje optam pelo financiamento, conta o presidente da empresa, Otávio Zarvos. "Mas são prazos menores, de até 10 anos", ressalta. Apesar disso, ele considera positivo o movimento do mercado imobiliário e diz que já notou um aumento de procura dos jovens pela moradia própria.

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