O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, lembra que a inflação perdurou no Brasil dos anos 60 aos 90, e manter a memória de seus efeitos negativos é fundamental para o País não ser leniente com a alta de preços.
Os jovens hoje não conseguem definir inflação. O que ela é?
É a perda do poder de compra da moeda. A cada passar do relógio, o dinheiro vale menos. Quando a inflação é alta, tem um efeito desagregador muito grande. Corrói a poupança das famílias e das empresas, gera transferências repentinas de riqueza, gera pobreza, especulação. Na Alemanha, que é referência nesse tema, não se tem dúvida de que uma das sementes do nazismo foi a hiperinflação, que destruiu a classe média e gerou ressentimentos. A sociedade alemã é intolerante com a inflação até hoje. Parece que o Brasil não formou a mesma memória hiperinflacionária.
Quais as vantagens e desvantagens de termos uma geração que não viveu a inflação galopante?
A desvantagem é que a falta de uma memória coletiva pode fazer com que ela seja mais tolerante com o risco inflacionário. Vários artigos apontam que uma das causas da crise nos Estados Unidos foi o fato de os gestores subestimarem os riscos por não terem memória de uma crise financeira. Por outro lado, para contrabalançar, gerações mais novas não têm instrumentos mentais contra a inflação que levem à indexação.
Há quem diga que a inflação de hoje não seria tão preocupante já que o País veio da hiperinflação...
Não é bem assim. Não existe inflação benigna. A vigilância precisa ser constante, até porque ela pode permanecer, ainda que dormente, na economia e ressurgir lá na frente.