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Pela primeira vez Banco Central prevê inflação de 2015 acima do teto da meta, em 7,9%

Anteriormente, BC via inflação em 6,1%; para 2016, porém, estimativa do IPCA recuou para alta de 4,9%

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Por Célia Froufe (Broadcast), Adriana Fernandes e Victor Martins
Atualização:
Sede do Banco Central, em Brasília Foto: André Dusek/Estadão

BRASÍLIA - Pela primeira vez, o Banco Central admitiu que a inflação vai estourar o teto da meta em 2015. De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação, o IPCA deve encerrar o ano em 7,9% no cenário de referência - que considera juros e câmbio constantes - e em 7,9%, no cenário de mercado. As projeções anteriores eram de uma alta de 6,1% no cenário de referência e de 6% no de mercado.

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Se esta estimativa se concretizar, o presidente do BC, Alexandre Tombini, terá de enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, justificando os motivos que levaram ao descumprimento da meta de 4,5%, com 2 pontos porcentuais de tolerância para cima e para baixo, e revelando o que pretende fazer para levar os preços de volta ao controle.

Esta semana, durante audiência pública no Senado, Tombini enfatizou que, apesar das críticas, nunca precisou confeccionar o documento. "Se tiver de escrever no futuro, o futuro dirá", afirmou. A última vez que a carta aberta foi escrita foi em 2004.

O discurso do BC era de que a alta dos preços - decorrente principalmente de realinhamentos dos administrados em relação aos livres e dos internos com os externos - deveria ficar circunscrita ao primeiro trimestre deste ano. Segundo o RTI, no cenário de referência, o IPCA acumulado em 12 meses deve ter alta de 8,1% até o primeiro trimestre (6,4% era a projeção anterior); de 8,0% até o segundo trimestre (de 6,1% antes) e de 8,2% até o terceiro trimestre (6,1% antes).

Apontados como os principais vilões da inflação no curto prazo, os preços administrados devem ter alta de 11% em 2015. Para chegar a estes porcentuais, o BC considerou a hipótese de alta de 8,4% do preço da gasolina e de 1,2% do preço do botijão de gás. No caso de tarifas de telefonia fixa, a estimativa é de queda de 4,1%. Para os reajustes das tarifas de energia elétrica, o BC projeta uma alta de 38,3% para 2015 ante alta de 17% do relatório de dezembro.

Para 2016, o Banco Central diminuiu ligeiramente sua estimativa. Segundo a instituição, no cenário de referência, a inflação deve subir 4,9% e não mais 5% como esperava antes. Já no de mercado, a previsão de alta de 4,9% foi substituída pela de 5,1%. A promessa do BC atualmente é a de entregar o IPCA no centro da meta de 4,5% no fim do ano que vem, o que vai exigir maior controle da inflação.

Risco de estouro da meta. Mesmo projetando que a inflação vai estourar o teto da meta em 2015, limite definido em 6,5%, o Banco Central mantém uma pequena esperança de que isso não ocorra. A instituição calcula as chances desse limite de tolerância ser rompido. No cenário de referência, que é o utilizado pela instituição para decidir a taxa básica de juros (Selic), ele projeta que o risco de estouro é de 90% - ou seja, existe a probabilidade de 10% de que o índice que mede o custo de vida permaneça abaixo da banda superior da meta de inflação. No cenário de mercado, o risco é de 89%, previsão ligeiramente menor que a do BC.

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O documento mostra ainda que a autoridade monetária elevou fortemente a probabilidade desse estouro do teto da meta ocorrer. Passou de 37% para 90% em 2015. No caso de 2016, essa probabilidade passou de 15% para 12% no cenário de referência, enquanto no de mercado, subiu 12% para 15%. 

Dólar. O Banco Central elevou para R$ 3,15 a taxa de câmbio usada como parâmetro para as projeções de inflação. O BC levou em consideração a data de 13 de março como corte para confeccionar o relatório divulgado há pouco pela instituição. Nesse dia, porém, a cotação do dólar fechou em R$ 3,26.

O valor é maior que os R$ 2,85 da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e que causou surpresa pela distância em relação do valor do dólar negociado no dia do encontro da diretoria colegiada, de R$ 2,9790. O BC optou por trabalhar com um dólar defasado ao tomar a decisão de elevar a taxa Selic de 12,25% ao ano para 12,75% ao ano. Vale ressaltar que aquele foi o último dia que a moeda americana encerrou os negócios no Brasil comercializada abaixo de R$ 3,00. O dólar para abril, no dia da reunião do BC, fechou a R$ 3,0020. No relatório trimestral de inflação de dezembro, a cotação usada pelo BC era de R$ 2,55. 

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