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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Pelo sim, pelo não

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Atualização:

Os termos do plebiscito que está sendo realizado hoje na Grécia podem ser confusos e, até certo ponto, incompreensíveis para a população, na medida em que apresentam conceitos técnicos só acessíveis a especialistas. Mas isso não elimina nem seu sentido geral nem as consequências graves, para a Grécia e para o euro.

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A população entende que tem de escolher entre a rejeição das exigências feitas pelos credores e continuar lutando para arrancar mais condições favoráveis para pagar sua enorme dívida, voltar a crescer e integrar-se à Europa. Mas a realidade dura simplificou essa escolha entre sair ou permanecer no clube do euro.

Os desdobramentos imediatos, qualquer que seja o resultado, carregam certo grau de imprevisibilidade. Mas essa limitação não deve servir de pretexto para deixar de examinar o que vem depois.

Plebiscito. termos confusos Foto: Christian Hartmann/Reuters

A vitória do não (oxi), como vem pedindo o governo de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras, implicaria ruptura com a União Europeia e os credores. Dificilmente a negociação da dívida poderia ser retomada nas velhas bases. E a saída do euro pode ser inevitável se os bancos, sob pressão dos saques, deixarem de contar com o socorro imediato do Banco Central Europeu. O governo da Grécia teria de arrochar ainda mais as restrições para a saída de capitais e prolongar o racionamento das retiradas. Ficaria inevitável a adoção de uma moeda nacional que aterrissaria no bolso dos gregos com uma desvalorização substancial, provavelmente da ordem de 50%. Isso levaria a um encolhimento automático, nas mesmas proporções, do valor das propriedades, dos salários, das aposentadorias, dos depósitos e das aplicações financeiras administradas pelos bancos gregos. Ficaria muito difícil de evitar o caos que se seguiria às quebras em cadeia e às demonstrações de desespero. É uma situação que tenderia a levar a desdobramentos políticos explosivos.

Uma vitória do sim (nai) devolveria o problema da Grécia para o colo dos credores, mas dificilmente as negociações que se seguiriam poderiam ser conduzidas pelo atual governo. Tsipras já avisou que renunciaria em caso de derrota do não.

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A Grécia permaneceria no clube do euro, acabaria por obter uma recomposição das condições da dívida, seus bancos receberiam injeções imediatas de soro vital, mas inevitavelmente teria de se submeter a reformas de base e a uma rígida disciplina fiscal. O que tem de ser perguntado é se e até quando o governo que assumisse a incumbência da aplicação do tratamento de choque teria respaldo para fazer o que teria de ser feito.

As últimas pesquisas dão conta de que a experiência de uma semana de filas nos bancos e do racionamento das aposentadorias ajudou a reverter a disposição que antes era de votar pelo não. Ainda que o atual governo venha afirmando que o plebiscito não tem nada a ver com ficar ou sair da área do euro, parece inevitável que tem essa dimensão. Entre se manter no aconchego do euro ou abandoná-lo, a escolha mais provável é a de ouvir o próprio bolso e ficar com uma moeda mais confiável.

CONFIRA

 Foto:

Veja a evolução do estoque dos saldos da caderneta de poupança na rede bancária até dia 29 de junho.

Esvaziamento

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Amanhã deverão ser divulgados os números definitivos de junho. Até dia 29, as retiradas eram R$ 10,1 bilhões superiores aos depósitos. Dois são os fatores que vêm contribuindo para esse relativo esvaziamento das cadernetas. Primeiro, a melhor remuneração obtida pelas outras aplicações de renda fixa; segundo, a necessidade de complementar o orçamento doméstico, que vem sendo reduzido pela inflação e pela queda da renda.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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