PUBLICIDADE

Publicidade

Pesquisa e extensão rural devem caminhar juntas

Quando experimentos acadêmicos chegam efetivamente ao campo, melhora na produção e na renda é o resultado

Por Niza Souza , WELLITON MORAES e ESPECIAIS PARA O ESTADO
Atualização:
Osmar Pereira produz leite em apenas seis hectares Foto: Edvaldo Santos/Estadão

Há dois anos, o pecuarista de leite Osmar Pereira, de Potirendaba (SP), não imaginava que pudesse em tão pouco tempo tornar seu pequeno pedaço de terra, de 6 hectares, em uma propriedade lucrativa. Com apoio da extensão rural gratuita, em menos de um ano já conseguiu atingir uma produção de 340 litros de leite/dia com 21 vacas em lactação. "Achava que no meu sítio, de apenas 6 hectares, não seria possível produzir leite, pois não tenho como fazer silagem de milho."

PUBLICIDADE

Foi então que ele conheceu o projeto Balde Cheio, desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste em parceria com as empresas de extensão estaduais. Em São Paulo, a parceria é com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura. O projeto tem como objetivo a transferência de tecnologia para o desenvolvimento da pecuária leiteira, tornando pequenas propriedades sustentáveis e rentáveis. Com a orientação de um extensionista, o produtor começou, há menos de um ano, sua criação de gado de leite em sistema de produção com piquetes rotacionados. "Tudo o que fiz foi orientado pelo extensionista", diz. "Ele ensinou o que plantar e quantos animais colocar. Essa orientação é essencial. A gente ouvir dizer como se faz é uma coisa, mas fazer é completamente diferente."

Exemplo.

O sítio de Potirendaba é um exemplo clássico de como a pesquisa pública pode ser aplicada na prática e com sucesso para milhares de produtores de leite do País com a ajuda da extensão rural. Mas, embora este seja um bom exemplo, ainda falta caminhar bastante para que os segmentos de pesquisa e extensão rural se aliem efetivamente no País, segundo especialistas. Principalmente em relação a setores da agricultura e da pecuária que não estejam no foco das grandes multinacionais. "Há um alto nível de concentração de conhecimento em um número reduzido de pesquisadores", diz o presidente executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), Ivo Carraro.

Lei de cultivares.

Carraro lembra que, na década de 1990, quando o Brasil abriu mercado para a produção de transgênicos, regulamentou a Lei de Patentes e instituiu a Lei de Proteção de Cultivares, tornou-se mais atrativo para investimentos estrangeiros, que acabaram ocupando grande parte do espaço das empresas nacionais de pesquisa. "Se, por um lado, isso trouxe grande avanço em alguns setores, por outro deixou outros dependentes apenas das instituições oficiais de pesquisa, que não dão conta de todo o universo agrícola", comenta.

"A pesquisa acaba sempre ficando aquém das necessidades de mercado", concorda o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Ágide Meneguette. "Na soja e no milho, por exemplo, que interessam às multinacionais, as pesquisas são bastante avançadas", diz Meneguette. Já em relação ao trigo - cereal do qual o Brasil é deficitário, dependendo de importações para atender à demanda nacional -, ele ressalta que as pesquisas deveriam avançar mais.

Publicidade

E, quando os resultados das pesquisas efetivamente conseguem chegar à prática do campo, o produtor rural só tem a ganhar. Documento elaborado pela Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) ressalta, com base em trabalho do doutor em economia Mauro Eduardo Del Grossi, da Universidade de Brasília (UnB), que a produtividade dos agricultores que recebem assistência técnica e extensão rural é até quatro vezes superior à daqueles que não recebem. De acordo com o presidente da Asbraer, José Ricardo Ramos Roseno, "estudo da Embrapa mostra que 68% do crescimento anual da produção brasileira de grãos pode ser atribuída à adoção de tecnologia, o que evidencia a importância de reforçar a relação entre pesquisa e extensão rural no País".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.