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Pesquisa sobre expectativa leva Nobel

Americanos Thomas Sargent e Chistopher Sims aperfeiçoaram modelos usados por BCs

Por FERNANDO DANTAS/RIO
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O prêmio Nobel de Economia de 2011 foi ganho pelos economistas americanos Thomas Sargent e Christopher Sims. Ambos com 68 anos, eles contribuíram, trabalhando separadamente, para a compreensão das relações de causa e efeito entre decisões de política econômica e mudanças efetivas na economia. Os dois criaram ferramentas, por exemplo, para analisar como mudanças nos juros afetam a inflação e o crescimento.Os vencedores do Nobel de Economia de 2011 ajudaram também a integrar as expectativas dos participantes da economia nos modelos macroeconômicos matemáticos mais utilizados atualmente, inclusive pelos bancos centrais (incluindo o brasileiro). Num momento em que estes modelos são questionados por não terem ajudado a prever a crise global de 2008 e 2009, a decisão do Riksbank (banco central sueco), que outorga o prêmio, causou alguma surpresa. Os dois ganhadores do prêmio de 2011, mas especialmente Sargent, da Universidade de Nova York, têm ligações com a teoria das expectativas racionais, que se tornou um dos alvos prediletos da crítica de alguns economistas keynesianos depois da crise global. Embora sejam temas diferentes, a teoria das expectativas racionais e a hipótese dos mercados eficientes - esta mais diretamente associada à desregulamentação financeira na raiz da crise - têm vinculações. Sargent, que estudou a alta da inflação nos EUA nos anos 70 nos e sua posterior queda, era o único nome da trinca de grandes economistas responsáveis pelo desenvolvimento das expectativas racionais que não tinha ganhado o Nobel, já conferido a Robert Lucas e Edward Prescott. O Riksbank enfatizou no seu comunicado que a premiação de Sargent e Sims deveu-se "à sua pesquisa empírica sobre causa e efeito em macroeconomia". Para alguns, isso desvinculou o prêmio de 2011 das expectativas racionais em si, levando o foco para a contribuição em possibilitar que a teoria fosse testada na prática com métodos estatísticos.As expectativas racionais referem-se ao fato de que as pessoas tomam decisões projetando de forma racional os dados e indicadores que ainda não são conhecidos. Assim, por exemplo, se o governo aumenta a quantidade de dinheiro em circulação para tentar artificialmente estimular a economia, os empresários perceberiam o truque e aumentariam seus preços em vez de aumentar a produção, provocando apenas inflação, e não crescimento. Segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), "as expectativas racionais impõem disciplina, porque quem faz a modelagem não pode supor que é mais inteligente do que quem habita o mundo de ficção dele".Uma das críticas às expectativas racionais é a de que, no mundo real, os governos conseguem, de fato, estimular a economia no curto prazo emitindo dinheiro ou aumentando os gastos. Assim, não há um funcionamento perfeito dos mercados, em que a ação do governo seja totalmente antecipada e neutralizada. Porém, como explica o economista Aloísio Araújo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, a conquista definitiva das expectativas racionais é que "não se pode mais deixar de olhar para a frente, e o que se faz é incorporar fricções aos modelos". Ele refere-se a imperfeições dos mercados que explicam por que eles não funcionam perfeitamente. Aliás, tanto Sargent quanto Sims, da Universidade Princeton, trabalharam para restringir a hipótese das expectativas racionais. Sims também desenvolveu métodos para determinar o que é causa e o que é efeito em indicadores com alta correlação.Crise. Sobre a atual crise, os vencedores do Nobel deixaram claro ontem que não têm respostas definitivas. Segundo Sargent, a crise europeia está ligada à questão das expectativas, e gastos do governo para relançar a economia perdem a eficácia se a população percebe que a situação fiscal precária limitará o estímulo. "Tentamos experimentar (as possíveis decisões de política econômica) nos nossos modelos antes de provar um estrago no mundo", disse. Já Sims defendeu uma maior união fiscal para resolver os problemas europeus, mas ironizou quando perguntado sobre soluções para a crise, dizendo que, "se eu tivesse uma solução simples, eu estaria espalhando pelo mundo". Mas o economista acrescentou que os métodos desenvolvidos por ele e por Sargent "são centrais para nos ajudar a sair desta bagunça".

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