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Pessimismo atinge mercado e aumentam projeções que mostram retração do PIB em 2017

Operação Lava Jato volta a ameaçar o governo Temer e a economia ainda não dá sinais de reação

Por Fabrício de Castro
Atualização:
Economia segue em recessão Foto: Estadão

A proximidade de 2017 traz um sentimento de déjà vu (já visto) a uma parcela do mercado financeiro: o próximo ano pode ser tão ruim para a economia quanto 2016. Esta percepção ganhou corpo nas últimas semanas, após a Lava Jato voltar a ameaçar a sustentação política do governo Michel Temer e a atividade dar mostras de que segue em retração. O resultado é que já há quem estime queda do Produto Interno Bruto (PIB) de quase 1% em 2017. 

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No último boletim de mercado Focus, publicado na segunda-feira, 12, a projeção mediana do PIB para 2017 indica crescimento de apenas 0,70% no próximo ano. A estimativa já é 0,68 ponto porcentual inferior ao 1,38% de crescimento da economia calculado em meados de setembro, no auge da euforia com o novo governo. É como se, em três meses, cerca de R$ 45 bilhões tivessem evaporado do PIB previsto para 2017. 

Algumas casas são mais pessimistas ainda. A abertura dos dados do Focus mostra que há quem projete recuo de 0,95% da economia no próximo ano. Se isso se confirmar, serão três anos seguidos de recessão.

"Para 2017, estamos com projeção de queda de 0,2% do PIB. Antes, projetávamos alta de 1,0%", afirma o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria. Segundo ele, a percepção piorou nas últimas semanas, após a divulgação do PIB do terceiro trimestre, quando houve retração de 0,8% da economia ante os três meses anteriores. "Foi muito negativo, e a gente ainda tinha expectativa de que neste segundo semestre a economia fosse bater no fundo do poço e voltar a crescer, mesmo que lentamente", diz Lavieri. "O número foi um balde de água fria."

O principal fator para a piora das expectativas, de acordo com Lavieri, é o cenário político, que trava investimentos em vários setores. "É difícil você pensar em alguém querendo expandir capacidade, fazer grandes investimentos, em um País em que você não sabe quem será o presidente até 2018", diz o economista. "Ninguém quer se comprometer."

A Tendências Consultoria Integrada também enxerga um quadro difícil em função da política. "Mudamos recentemente a expectativa do ano que vem de avanço de 1,5% do PIB para alta de 0,7%. E mesmo este cenário é desafiador", afirma o economista Silvio Campos Neto. "Não será fácil obter um crescimento deste nas condições atuais."

Campos Neto afirma que a Operação Lava Jato e seus efeitos sobre a política brasileira nunca saíram do cenário como um fator de risco. "Porque cedo ou tarde, poderia realmente aparecer uma delação citando pessoas influentes do governo. Isso só complica um cenário que já era difícil", diz, em referência às informações mais recentes, publicadas na imprensa, sobre delações que envolvem parlamentares, ministros e o próprio presidente Michel Temer. 

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Para Campos Neto, neste ambiente de indefinição, os governos, as famílias e as empresas não têm motivos para tomar decisões de consumo ou de investimento. "O risco, na verdade, é que nos próximos meses as projeções para a economia piorem", alerta.

Mais otimista, a MCM Consultores Associados projeta um crescimento do PIB pouco abaixo de 1% em 2017 - portanto, mais próximo da estimativa do Ministério da Fazenda. "Nós reconhecemos que o ambiente político ganhou um nível de ruído mais elevado nas últimas semanas. Mas, por outro lado, também temos avanços nas reformas. Hoje mesmo o Senado completou a votação da PEC do teto", citou o economista Mauro Schneider, da MCM. 

"Mesmo que o crescimento de 2017 seja mais fraco, mais próximo de 0,50% do que de 1%, não dá para chamar isso de 'ano perdido'", defende Schneider. "O ano será perdido se não tivermos qualquer crescimento, em nenhum trimestre. Mas não é o que esperamos."

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Reações. Para acelerar a recuperação da atividade e reduzir o foco sobre a Operação Lava Jato, o Ministério da Fazenda prepara-se para lançar, nos próximos dias, um pacote econômico. Entre as medidas estudadas estão o alongamento da dívida de empresas com o BNDES e o lançamento do Programa de Sustentação do Emprego (PSE). 

Já o Banco Central planeja anunciar esta semana medidas voltadas para a redução do custo de crédito. A instituição, no entanto, diz que as mudanças serão estruturais e não estarão voltadas para o curto prazo. Ao mesmo tempo, o BC tem passado indicações de que, em janeiro, em função da fraqueza da atividade, que segura a inflação, deve acelerar o ritmo de cortes da Selic (a taxa básica de juros), hoje em 13,75% ao ano.