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Pet shop se especializa em animais silvestres

Wildvet fatura R$ 900 mil e atende mil animais por ano; consulta é 30% mais cara do que a de um pet center convencional

Por Marcelo Osakabe
Atualização:

André Grespan colecionava borboletas e aranhas na infância e na adolescência, mas nunca havia pensando em estudar medicina veterinária. Começou a trabalhar como sacoleiro entre São Paulo e o Paraguai e, só de pois que sua mãe lhe deu a dica, decidiu estudar para se tornar veterinário. Já na faculdade, inscreveu-se para participar de um congresso em Foz do Iguaçu, cidade que conhecia dos velhos tempos, e acabou definindo ali sua trajetória profissional. "Lá eu me deparei com um curso sobre contenção de animais selvagens. Me apaixonei." O estudante se especializou no assunto e, depois de formado, trabalhou em zoológicos. Em 2002, foi trabalhar em uma grande loja especializada em animais silvestres e exóticos, a Amazon Zoo, que já fechou as portas. Foi quando decidiu abrir uma clínica exclusiva para tratar desses bichos. "Resolvi investir porque eram grandes clientes e não havia concorrência. Foi o primeiro empreendimento do tipo na América Latina." O começo foi difícil. A Wildvet demorou quatro anos para se manter sozinha. Nesse meio tempo, Grespan teve outros empregos e chegou a dobrar o turno em um hospital veterinário. "Me chamavam de louco, mas mantive o propósito de ser exclusivo e nunca atendi cachorro ou gato", conta. "Com essa estratégia, eu garantia indicação de outros veterinários, já que não era considerado concorrente." Doze anos depois, a Wildvet faz cerca de mil atendimentos e fatura R$ 900 mil por ano - a consulta especializada é 30% mais cara do que a de um pet center convencional. A empresa também é uma loja de produtos especializados e um hotel para animais silvestres. "Imagina você colocar uma arara que vale R$ 60 mil no meio de um monte de gato?", brinca. Especialização. Para o coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV, Tales Andreassi, a aposta de Grespan em um nicho específico e com pouca ou nenhuma concorrência tem como vantagem o rápido reconhecimento. "Você se torna referência. Comunicar-se e fazer propaganda também é muito mais fácil e rápido." A desvantagem é a possível limitação do crescimento. O mercado de animais silvestres e exóticos cresceu na esteira do mercado convencional, que faturou R$ 15,2 bilhões em 2013, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). A Associação Brasileira de Criadores e Comerciantes de Animais Silvestres e Exóticos (Abrase) estima que apenas com a venda de animais registrados, o setor tenha faturado mais de R$ 1,3 bilhão. Os números, entretanto, escondem o fato de que o segmento sofre com problemas de regulamentação por parte do Ibama, que desde 2007 estuda o lançamento da lista PET. É essa relação que determinará quais são os animais silvestres que poderão ser comercializados. Em entrevista ao Estado em maio de 2013, o presidente do Ibama, Volney Zanardi Junior, afirmou que a lista teria cerca de uma centena de espécies. O número é bem inferior ao que já foi liberado pelo próprio órgão e deve contemplar quase que exclusivamente aves. "Em todo o mundo, mais de 450 espécies de répteis, anfíbios e mamíferos brasileiros são reproduzidos e vendidos de forma legal", diz o presidente da Abrase, Luiz Paulo Amaral. Ainda não há previsão para que essa lista seja criada. A restrição não afetaria o negócio de Grespan no curto prazo, uma vez que 60% dos atendimentos da clínica já são de aves. "Mas, no longo prazo, prejudica. Isso aumentaria o número de animais ilegais, e eles não chegam ao meu pet shop", afirma.

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