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Petrobrás aproveitará conferência para fazer desagravo sobre crise

Estatal deve tentar amenizar efeitos das denúncias de corrupção, que fizeram com que a auditoria externa não validasse os resultados trimestrais e atrasaram a entrega do balanço da companhia

Por Antonio Pita
Atualização:

RIO - A Petrobrás aproveitará a conferência de apresentação de resultados trimestrais para fazer uma espécie de desagravo sobre a crise institucional que abateu a companhia nas últimas semanas. Na pauta, está uma nova tentativa de explicar as razões que levaram a auditoria externa a não validar seus indicadores financeiros, além das conclusões de sindicâncias internas sobre as evidências de corrupção em seus contratos. A apresentação destacará a alta de 9% da produção no trimestre, na comparação com 2013 - a única estratégia possível para a estatal resgatar a credibilidade junto ao mercado e à opinião pública.

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Caberá à diretoria executiva dar as explicações aguardadas - a presença da presidente Graça Foster não estava confirmada até à noite de domingo. A executiva evita discursos e entrevistas desde junho e sequer assina o anúncio publicado nos jornais sobre as medidas adotadas durante a crise. Não é uma posição confortável, sobretudo diante da exposição pública da intimidade de alguns de seus ex-colegas com a corrupção.

Após oito meses, a estatal anunciou aos conselheiros, em reunião na última sexta-feira, que suas auditorias internas confirmaram "desvios de comportamento e quebra de regras" nas três principais obras investigadas pela Operação Lava Jato. Não foram citados os responsáveis. A Petrobras classificou como "irregularidades no cadastro" as apurações sobre duas empreiteiras envolvidas no esquema, a Sanko Sider e a Toyo Setal. Executivos de ambas detalharam à Justiça Federal, após acordo de delação premiada, pagamentos de propina que chegavam a US$ 8 milhões somente na Diretoria Internacional.

Sob alegação de que precisaria analisar melhor as auditorias e o impacto das denúncias sobre as finanças da empresa, a PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusou a validar o balanço trimestral da Petrobrás, na última quinta-feira. A estatal perdeu o prazo legal para apresentação dos resultados e poderá ser penalizada pelos órgãos reguladores. Após três confusos comunicados, a diretoria decidiu manter a teleconferência programada para amanhã com a justificativa de "manter o mercado minimamente informado".

A apresentação deverá ser comandada por Almir Barbassa, diretor financeiro desde 2006. Ele tem a missão de justificar aos investidores como nunca detectou o desvio de cifras bilionárias da companhia. Há apreensão sobre o registro de uma 'baixa contábil' no balanço financeiro do trimestre, quando ele finalmente for apresentado, em dezembro. Só então o mercado saberá o impacto da alta do dólar sobre o endividamento da estatal, hoje acima de US$ 100 bilhões.

Produção. Quem também terá papel central na apresentação, e no futuro da companhia, é o diretor de Exploração e Produção, José Formigli. A área operacional é o único pilar que ainda sustenta toda a Petrobrás. Entre julho e setembro, a companhia atingiu média de 2,09 milhões de barris produzidos por dia, alta de 5% ante o trimestre anterior. A produção de gás subiu 7%. A meta da companhia é ampliar em 7,5% ante 2013 e apesar da expansão contínua nos últimos nove meses, nada está garantido. São necessários mais 287 mil barris de óleo por dia para alcançar o objetivo. Até dezembro, a estatal ainda receberá mais uma plataforma. Outras quatro foram conectadas desde janeiro, e ainda podem ampliar a capacidade de produção, com novos poços.

A melhora vem, sobretudo, do pré-sal. No dia 28 de outubro, foram registrados 640 mil barris por dia, e os primeiros testes nas áreas de Libra e Tartaruga Verde darão fôlego até o final do ano. Outro ponto positivo do balanço operacional é a alta de 4% na produção de derivados em relação a 2013. A carga processada chegou a 2,138 milhões de barris de petróleo por dia. Segundo o comunicado, a estatal está utilizando 100% da capacidade das refinarias, o que preocupa entidades sindicais. O parque antigo dá sinais de esgotamento, mesmo com obras de melhorias realizadas recentemente - os contratos dessas obras foram os alvos do esquema de desvios na estatal.

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O resultado reforça a pressão para o início da produção na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. A previsão era a primeira semana de novembro, mas a companhia não entregou todos os documentos para autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP). Mais um sinal da "paralisia" em tempos de crise, como relatam funcionários. A agência agora analisa a papelada. A Rnest é o maior exemplo do prejuízo causado à estatal pela corrupção de seus executivos. O orçamento inicial de US$ 2 bilhões foi descrito pelo ex-diretor responsável pela obra, Paulo Roberto Costa, como "conta de padeiro". Até agora, a obra ainda não concluída custou à Petrobrás US$ 18 bilhões, e os mais de 100 aditivos das licitações irrigaram os cofres de empreiteiras e também de agentes políticos, com impactos ainda não totalmente esclarecidos. 

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