PUBLICIDADE

Publicidade

PF deflagra operação para apurar fraude bilionária no sistema de controle de bebidas

Fraude envolve contrato de R$ 6 bilhões e mais R$ 100 milhões em pagamento de propina a servidores da Receita e da Casa da Moeda

Por Andreza Matais e Luci Ribeiro 
Atualização:

Atualizada às 15h20

PUBLICIDADE

BRASÍLIA - A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira, 1º, operação que tem como alvo uma fraude no contrato de implantação do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe). O faturamento referente a essa contratação ultrapassou a cifra de R$ 6 bilhões nos últimos seis anos. Já o pagamento de propina para servidores da Receita Federal e da Casa da Moeda pode ter chegado a R$ 100 milhões.

A suspeita é de que empregados da Casa da Moeda estariam tentando direcionar licitação para a recontratação da empresa Sicpa, para a operação do Sicobe, que prevê a instalação, nas linhas de produção de bebidas frias (cervejas, refrigerantes, sucos, águas minerais e outras), de equipamentos contadores de produção, bem como de sistema para o controle, registro, gravação e transmissão dos quantitativos medidos à Receita Federal, para fins de tributação.

De acordo com nota da Fazenda, a implantação do Sicobe começou em 2008 por meio de contrato firmado por inexigibilidade de licitação, mas as investigações levantaram indícios de que essa contratação foi fraudulentamente direcionada à empresa Sicpa. "Foram ainda colhidas evidências de que o novo processo licitatório para o Sicobe, realizado entre 2014 e 2015, também foi fraudado para beneficiar a mesma empresa". Ainda será investigado se o sistema de controle da produção de cigarros, anterior ao Sicobe, teria sido também objeto de contratação fraudulenta na Casa da Moeda.

Casa da Moeda é responsável por sistema decontrole de produção e importação debebidas alcoólicas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os mandados estão sendo cumpridos nas dependências da Receita Federal, da Casa da Moeda e na sede da empresa Sicpa, além de residências e escritórios de investigados. São 23 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A Justiça também determinou o sequestro dos bens dos principais investigados e quebra de sigilos fiscal e bancário. A operação foi batizada de Vícios. 

Participam da operação cerca de 70 policiais federais e 12 servidores da Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda. A investigação conta também com o apoio da Auditoria Interna da Casa da Moeda e do Ministério Público Federal.

Em 2012, o então presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci foi demitido do cargo após a imprensa revelar suspeitas de recebimento de propina de fornecedores do órgão por meio de firmas abertas no exterior em nome dele e da filha. Denucci havia sido indicado para o cargo pelo PTB, mas mantido na posição após perder o apoio da sigla pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega. A Casa da Moeda é subordinada ao ministério. Após o escândalo, a diretoria do órgão foi substituída por técnicos.

Publicidade

O Estado apurou que Denucci é um dos investigados na Operação Vícios, além de um ex-coordenador de fiscalização da Receita, que ocupou o cargo em 2008. O contrato sob investigação foi assinado quando Denucci comandava a Casa da Moeda.

Em nota, a Casa da Moeda informou que o atual presidente da empresa, Francisco Franco, identificou em 2012 uma suspeita de irregularidade na forma de contratação da prestação de serviço do Sicobe e acionou os controles internos da empresa, entre eles, a auditoria e, em paralelo, encaminhou o caso à Polícia Federal, órgão responsável por investigar possíveis desvios em empresas federais. 

"Desde que a Polícia Federal foi acionada, há dois anos, a direção da Casa da Moeda tem colaborado com as investigações. A direção ressalta ainda que todos os empregados envolvidos no caso serão exonerados dos cargos e, se comprovada na Justiça a sua participação, serão demitidos", diz a nota.

A Sicpa também divulgou nota na qual “reitera que não cometeu nenhuma irregularidade”. A companhia informou que “tem cumprido desde 2008 todos os requisitos legais e operacionais do contrato com a Casa da Moeda. As concorrências em questão, em 2008 e 2013, foram procedimentos internacionais para avaliação de fornecedores, os quais a SICPA venceu por notória especialização, devidamente amparada pela Lei de Licitações 8666”. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A Sicpa disse, ainda, que colaborará com as autoridades brasileiras e com a investigação em curso. A SICPA tem uma história de 37 anos no País, contanto com 28 filiais e cerca de 1 mil funcionários.

Oposição. O PPS divulgou nota na qual informa que irá requisitar a cópia de todos os contratos da Sicpa Brasil Indústria de Tintas e Sistemas com a Casa da Moeda. O partido também irá cobrar explicações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre o esquema de corrupção envolvendo a autarquia e a Receita Federal.

"Não bastasse o caso do Carf, que envolve a Receita Federal, agora a corrupção atinge também a Casa da Moeda, alvo de um pedido de investigação feito pelo PPS em 2012. Isso confirma que a roubalheira é generalizada no governo da presidente Dilma. Ao contrário do que ela alega, não há nenhum controle sobre as quadrilhas que agem dentro do aparelho do Estado. O que nos alertamos lá em 2012, agora se confirmou", afirmou o líder do partido na Câmara, deputado Rubens Bueno.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.