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PIB e PIB per capita no Brasil

Por Antonio Corrêa de Lacerda
Atualização:

A expansão da renda média dos brasileiros, genericamente definida pelo Produto Interno Bruto (PIB) per capita, é uma das condições relevantes para a melhora da qualidade de vida. Há um outro desafio, no nosso caso, que é a melhora da distribuição de renda. Como pré-requisito, portanto, a questão é garantir o crescimento do PIB per capita real, o que somente ocorre na medida em que o crescimento da economia seja maior que o crescimento populacional. Esse indicador, que cresceu 2,8% ao ano (a.a.), na média de 2003 a 2010, caiu para 1,2% a.a., no período 2011-2014, deverá retroceder em 2015, considerando-se as projeções de desempenho do PIB e o crescimento populacional. Mantendo um crescendo médio de 2,8% a.a., como de 2003 a 2010, o PIB per capita brasileiro dobra a cada  26 anos, o que nos aproximaria dos níveis atuais de países mais desenvolvidos. Do contrário, crescendo apenas 1,2% a.a., como de 2011 a 2014, dobrá-lo demandaria 59 anos! O desempenho 2003-2010 somente foi possível mediante condições internacionais extremamente favoráveis, como o crescimento chinês de 10% ao ano, o que proporcionou que os preços das commodities quase dobrassem no período. Isso garantiu renda ao Brasil, favorecendo o crescimento do PIB da renda e do emprego. Porém, o quadro internacional atual é desfavorável e o cenário doméstico contempla os impactos negativos da Operação Lava Jato, as políticas monetária e fiscal restritivas, causando a deterioração nas expectativas dos agentes econômicos, além do efeito da crise política. Além disso, vários dos instrumentos que foram utilizados para incentivar o mercado doméstico, sobretudo após a eclosão da crise de 2008, encontram-se esgotados ou limitados (expansão dos gastos públicos, bancos públicos, crédito ao consumidor, etc.). A oportunidade de expansão, portanto, se dará via maiores investimentos em infraestrutura, fator sabidamente possuidor de enorme demanda reprimida, além de crescimento das exportações, em especial aquelas de maior valor agregado. Ademais, deve-se considerar que o Brasil hoje tem um crescimento populacional médio de 0,8% a.a., bem abaixo dos 3% da década de 1960/70. Ou seja, a taxa de crescimento populacional vem apresentando e deverá continuar registrando uma tendência de queda. Em tese, o crescimento do PIB necessário é menor para elevar o per capita. Portanto, sob um outro ponto de vista, no futuro próximo o crescimento populacional deverá ter um menor impacto potencial no crescimento do mercado, por conseguinte, do nível de atividades. Ou seja, será preciso crescer e produzir mais, sem o acréscimo da população, logo, com maior produtividade. A desvalorização em curso do real deverá reduzir o PIB per capita expresso em dólares. Assim, a comparação em dólares tem mais efeito estatístico, uma vez que a renda do brasileiro não é integralmente gasta em dólar, mas em real. Em reais correntes, o PIB per capita segue uma tendência de crescimento, devendo atingir R$ 28.847, em 2015. Entretanto, para uma medida mais adequada em termos de poder de compra, há que se descontar a inflação (lembrando que a inflação já leva em conta o efeito câmbio nos preços). Apesar do crescimento em valores nominais, o PIB per capita brasileiro deverá apresentar um recuo em termos reais neste ano. Isso considerando as projeções, tanto do PIB quanto da inflação, lembrando que o crescimento populacional se manteve. Como é uma média, resultado da relação entre o PIB e a população, o PIB per capita pode crescer mesmo com uma maior concentração de renda e, assim, elevar o grau de desigualdade. Portanto, não basta apenas elevar o PIB per capita em termos reais. É preciso atrelar esse aumento a avanços sociais, como, por exemplo, uma melhora da distribuição de renda e uma queda dos níveis de pobreza.*Antonio Corrêa de Lacerda é professor doutor. Coordena o Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da PUC-SP e é sócio-diretor da ACLacerda & MacroSector Consultores Associados (www.aclacerda.com).

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