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(Poder pessoal)²

Os EUA e o Brasil passam, neste momento, por uma tempestade política. Donald Trump, gigante do setor imobiliário no exterior, sem qualquer experiência política anterior, hoje lidera firmemente a corrida para a indicação presidencial do Partido Republicano, depois das primárias da semana passada. Sua ascensão, alimentada pela reiteração de temas populistas e nacionalistas, ameaça os recentes e importantes avanços dos EUA, tanto interna quanto externamente. Isso inclui acabar com o Medicare e com o recente acordo com o Irã para impedir que atinja a condição de potência nuclear. Ele vai além, repudiando a eficácia da globalização e de sua evolução. Segundo ele, a solução óbvia está na proteção da indústria americana.

Por Albert Fishlow
Atualização:

Não há apenas um traço de absolutismo em seu contínuo denegrir os concorrentes, tanto os atuais quanto os potenciais. Trump agora ameaça com tumultos, se a liderança que ele projetou no número de delegados não lhe permitir a indicação. Agora que sua ascensão é iminente, os líderes republicanos buscam alguma maneira de impedir esse resultado.

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No Brasil, o ex-presidente Lula tenta voltar ao governo para chefiar a Casa Civil e liderar os esforços de Dilma, visando evitar o impeachment pretendido pelo Congresso, elaborar novas medidas econômicas, e, não por acaso, escapar da possível prisão. A revelação de conversas telefônicas gravadas fornece claras provas desta possibilidade.

Além de Dilma, o que está em jogo é a própria existência do PT, e Lula, muito menos popular depois da operação Lava Jato, resolveu voltar a concorrer à presidência em 2018 para salvar o que ele criou. A multidão recorde que foi às ruas no domingo provavelmente pesou na sua decisão de aceitar o cargo; era essa certamente a intenção de Dilma. A opinião popular, divulgada na internet, embora às vezes de maneira imperfeita, é um dos fatores que pesaram.

Aqui e no exterior, Lula e Trump mostram pouca preocupação com o que acontecerá a prazo mais longo ou mesmo a médio prazo. O que predomina é o imediato. É preciso fazer tudo o que for necessário para ir em frente. Apelar para aqueles cujo destino recente tem sido adverso; enfatizar as glórias passadas; esquecer do futuro; preocupar-se só com o presente.

Infelizmente, a liderança positiva ao redor do mundo tornou-se mais escassa. A democracia nem sempre garante a utopia desejada. Na Alemanha, Angela Merkel sofreu perdas nas urnas em consequência de sua resposta positiva às pressões da imigração de refugiados sírios e afegãos. Outros países do Oriente Médio não são tão pacíficos. Aumentam as pressões sobre o compromisso da UE com a livre movimentação de bens, capital e pessoas através das fronteiras nacionais. Shinzu Abe, que tenta expandir a importância internacional do Japão, enfrenta internamente o declínio de sua popularidade.

Crescimento. Mas o desempenho econômico também conta. Existe uma grande diferença entre os EUA e o Brasil. Os EUA avançam lenta, porém persistentemente desde a Grande Recessão. O Produto Interno Bruto do Brasil deve declinar novamente este ano, somando-se à crise que o País vem registrando há dois anos, pior que todas as outras.

A economia americana está em fase de expansão desde que o presidente Obama assumiu o cargo. Alguns economistas teriam preferido um aumento dos gastos do governo, mas o Congresso não estava inclinado a concordar. Em vez disso, a política monetária continuou facilitando o acesso ao dinheiro. Agora, depois que, em dezembro, o Federal Reserve elevou os juros para meros US$ 0,25-0,50%, a última reunião indicou que, em 2016, só haverá mais dois aumentos. O desemprego caiu abaixo de 5%, em relação aos valores iniciais que chegavam a mais do dobro, em 2009. A expansão do PIB no período 2011-2016 é de 2,3% ao ano, à frente da UE e do Japão.

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Os países do Brics apresentam um declínio em comparação ao elevado crescimento agregado em razão da crescente contração apresentada por Brasil, Rússia e África do Sul. Os EUA, como a tartaruga da lenda da Eneida, continuaram com ritmo positivo.

Os desafios persistirão além das eleições de 2016 e da ameaça de uma possível presidência de Trump. O aumento da expectativa de vida da população seguirá pressionando os gastos do Medicare e da Seguridade Social. A necessidade de garantir uma melhoria da educação em todos os níveis terá custos. A ratificação de tratados para garantir a expansão do comércio internacional e da globalização permanece na agenda. Os juros da dívida pública deverão aumentar. O aumento dos gastos do governo no plano federal são inevitáveis.

No Brasil, o PIB se aproximou do zero no governo Dilma. O crescimento inicial foi efêmero, dependendo de um ciclo de preços muito elevados das commodities, com uma resposta limitada. As projeções de crescimento futuro foram colocadas em níveis impossíveis de alcançar. A Petrobrás não conhecia limites de lucro, aumentando as perspectivas de expansão futura. O coeficiente de investimentos em relação à produção total baixou a patamares nunca vistos desde os anos 50. A inflação continua acima da meta do Banco Central, como vem acontecendo há cinco anos.

Ao mesmo tempo, o déficit governamental atinge níveis consideráveis, até certo ponto em razão dos altos juros, e muito mais por causa dos efeitos das pedaladas das quais o público não tinha conhecimento até 2014, e finalmente foram admitidas nas contas do ano passado.

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A dívida pública, que já é de dimensões preocupantes, aumentará nos próximos anos; por sua vez, o desemprego continua crescendo, com taxas que não eram vistas há mais de dez anos. Somente o superávit comercial voltou recentemente a níveis positivos – não pelo crescimento das exportações, mas pelo declínio das importações.

No total, a semelhança entre os dois países é quando muito parcial. A atuação do Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal e o Judiciário tem sido excelente, com uma reduzida contribuição do Executivo e do Congresso. É ali que a mudança terá de ocorrer, se o Brasil quiser sair de mais uma década perdida. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Os EUA e o Brasil passam, neste momento, por uma tempestade política. Donald Trump, gigante do setor imobiliário no exterior, sem qualquer experiência política anterior, hoje lidera firmemente a corrida para a indicação presidencial do Partido Republicano, depois das primárias da semana passada. Sua ascensão, alimentada pela reiteração de temas populistas e nacionalistas, ameaça os recentes e importantes avanços dos EUA, tanto interna quanto externamente. Isso inclui acabar com o Medicare e com o recente acordo com o Irã para impedir que atinja a condição de potência nuclear. Ele vai além, repudiando a eficácia da globalização e de sua evolução. Segundo ele, a solução óbvia está na proteção da indústria americana.

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Não há apenas um traço de absolutismo em seu contínuo denegrir os concorrentes, tanto os atuais quanto os potenciais. Trump agora ameaça com tumultos, se a liderança que ele projetou no número de delegados não lhe permitir a indicação. Agora que sua ascensão é iminente, os líderes republicanos buscam alguma maneira de impedir esse resultado.

No Brasil, o ex-presidente Lula tenta voltar ao governo para chefiar a Casa Civil e liderar os esforços de Dilma, visando evitar o impeachment pretendido pelo Congresso, elaborar novas medidas econômicas, e, não por acaso, escapar da possível prisão. A revelação de conversas telefônicas gravadas fornece claras provas desta possibilidade.

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Além de Dilma, o que está em jogo é a própria existência do PT, e Lula, muito menos popular depois da operação Lava Jato, resolveu voltar a concorrer à presidência em 2018 para salvar o que ele criou. A multidão recorde que foi às ruas no domingo provavelmente pesou na sua decisão de aceitar o cargo; era essa certamente a intenção de Dilma. A opinião popular, divulgada na internet, embora às vezes de maneira imperfeita, é um dos fatores que pesaram.

Aqui e no exterior, Lula e Trump mostram pouca preocupação com o que acontecerá a prazo mais longo ou mesmo a médio prazo. O que predomina é o imediato. É preciso fazer tudo o que for necessário para ir em frente. Apelar para aqueles cujo destino recente tem sido adverso; enfatizar as glórias passadas; esquecer do futuro; preocupar-se só com o presente.

Infelizmente, a liderança positiva ao redor do mundo tornou-se mais escassa. A democracia nem sempre garante a utopia desejada. Na Alemanha, Angela Merkel sofreu perdas nas urnas em consequência de sua resposta positiva às pressões da imigração de refugiados sírios e afegãos. Outros países do Oriente Médio não são tão pacíficos. Aumentam as pressões sobre o compromisso da UE com a livre movimentação de bens, capital e pessoas através das fronteiras nacionais. Shinzu Abe, que tenta expandir a importância internacional do Japão, enfrenta internamente o declínio de sua popularidade.

Crescimento. Mas o desempenho econômico também conta. Existe uma grande diferença entre os EUA e o Brasil. Os EUA avançam lenta, porém persistentemente desde a Grande Recessão. O Produto Interno Bruto do Brasil deve declinar novamente este ano, somando-se à crise que o País vem registrando há dois anos, pior que todas as outras.

A economia americana está em fase de expansão desde que o presidente Obama assumiu o cargo. Alguns economistas teriam preferido um aumento dos gastos do governo, mas o Congresso não estava inclinado a concordar. Em vez disso, a política monetária continuou facilitando o acesso ao dinheiro. Agora, depois que, em dezembro, o Federal Reserve elevou os juros para meros US$ 0,25-0,50%, a última reunião indicou que, em 2016, só haverá mais dois aumentos. O desemprego caiu abaixo de 5%, em relação aos valores iniciais que chegavam a mais do dobro, em 2009. A expansão do PIB no período 2011-2016 é de 2,3% ao ano, à frente da UE e do Japão.

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Os países do Brics apresentam um declínio em comparação ao elevado crescimento agregado em razão da crescente contração apresentada por Brasil, Rússia e África do Sul. Os EUA, como a tartaruga da lenda da Eneida, continuaram com ritmo positivo.

Os desafios persistirão além das eleições de 2016 e da ameaça de uma possível presidência de Trump. O aumento da expectativa de vida da população seguirá pressionando os gastos do Medicare e da Seguridade Social. A necessidade de garantir uma melhoria da educação em todos os níveis terá custos. A ratificação de tratados para garantir a expansão do comércio internacional e da globalização permanece na agenda. Os juros da dívida pública deverão aumentar. O aumento dos gastos do governo no plano federal são inevitáveis.

No Brasil, o PIB se aproximou do zero no governo Dilma. O crescimento inicial foi efêmero, dependendo de um ciclo de preços muito elevados das commodities, com uma resposta limitada. As projeções de crescimento futuro foram colocadas em níveis impossíveis de alcançar. A Petrobrás não conhecia limites de lucro, aumentando as perspectivas de expansão futura. O coeficiente de investimentos em relação à produção total baixou a patamares nunca vistos desde os anos 50. A inflação continua acima da meta do Banco Central, como vem acontecendo há cinco anos.

Ao mesmo tempo, o déficit governamental atinge níveis consideráveis, até certo ponto em razão dos altos juros, e muito mais por causa dos efeitos das pedaladas das quais o público não tinha conhecimento até 2014, e finalmente foram admitidas nas contas do ano passado.

A dívida pública, que já é de dimensões preocupantes, aumentará nos próximos anos; por sua vez, o desemprego continua crescendo, com taxas que não eram vistas há mais de dez anos. Somente o superávit comercial voltou recentemente a níveis positivos – não pelo crescimento das exportações, mas pelo declínio das importações.

No total, a semelhança entre os dois países é quando muito parcial. A atuação do Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal e o Judiciário tem sido excelente, com uma reduzida contribuição do Executivo e do Congresso. É ali que a mudança terá de ocorrer, se o Brasil quiser sair de mais uma década perdida. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA