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Por que a recessão não vai afetar o resultado das eleições no Brasil

País ainda consegue manter desemprego baixo e renda em alta; nas urnas, brasileiros não querem castigar Dilma por questões econômicas, mas buscam Marina por desejo de renovação

Por J. P.
Atualização:
Dilma: "surto de feriados" durante o mês da Copa do Mundo influenciou PIB negativo Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Recessão nunca é boa notícia para um governo. E, antecedendo uma eleição, esse fato pode decretar a morte de campanhas. Faltando cinco semanas para a data de ir às urnas, a oposição brasileira deve ter, portanto, comemorado silenciosamente os dados oficiais divulgados no dia 29 de agosto, mostrando que o Produto Interno Bruto (PIB) tinha recuado 0,6% no segundo trimestre e outros 0,2% nos primeiros três meses do ano. Mas, no cálculo eleitoral, o péssimo número pode importar menos do que os rivais da presidente Dilma Roussef gostariam. Mas, por quê?

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Dilma responsabiliza pela contração a fraca recuperação global desde a crise financeira de 2009, bem como um "surto de feriados" (ou seja, menos dias de trabalho) durante o mês da Copa do Mundo, realizada no Brasil e encerrada dia 13 de julho. Os feriados adicionais foram anunciados pelas autoridades na tentativa de aliviar a pressão sobre o transporte público nas cidades-sede da Copa. Mas os críticos destacam que isso não explica a queda na produção durante os primeiros três meses do ano - e, anteriormente, o governo tinha prometido tempos de prosperidade impulsionados pela Copa.

Dos 45 países que já divulgaram o crescimento do PIB no segundo trimestre até o momento, a Ucrânia, dilacerada pela guerra, foi o único a apresentar desempenho pior. Em vez disso, os críticos de Dilma descrevem a minguante confiança na economia e a queda nos investimentos como resultado do intervencionismo da presidente, da falta de disciplina fiscal e o fracasso em tratar de problemas crônicos: a infraestrutura precária, a burocracia indecifrável e aquele que é considerado o sistema fiscal mais confuso do mundo.

Tudo isso é ruim para o Brasil no médio prazo, mas dificilmente custará muitos votos à Dilma no curto prazo. Embora as empresas tenham reduzido sua produção, até o momento elas resistiram ao caro processo de demitir funcionários. Como resultado, o desemprego no Brasil é de apenas 4,9% - o mais baixo da história do País - e, por mais que uma alta seja provável, isso só deve ocorrer após a eleição. A renda média dos lares conseguiu acompanhar uma inflação que resiste em baixar. E, embora a confiança do consumidor continue baixa, esta recebeu um impulso quando a inflação do preço dos alimentos perdeu força e o preço dos serviços caiu após a Copa do Mundo. Contrariando um pouco o senso comum, a taxa de aprovação do governo, que estava em queda desde o início do ano, aumentou um pouco em agosto.

De sua parte, os mercados viram a divulgação dos números do PIB do segundo trimestre como algo capaz de aumentar as chances de vitória da oposição, torcendo para que um novo presidente implemente uma política econômica mais responsável. Isso explica o entusiasmo dos investidores - o principal índice brasileiro de ações, o Ibovespa, atingiu o ponto mais alto dos 20 meses mais recentes no dia 29 de agosto.

Dilma não tem mais a vitória garantida: as pesquisas de intenção de voto indicam que ela perderia em um segundo turno para Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ex-ministra que entrou para a corrida presidencial após a morte do antigo líder do partido, Eduardo Campos.

Marina é popular principalmente porque representa a renovação política, algo desejado ardentemente pelos brasileiros. E é essa perspectiva de renovação que terá mais impacto nos votos dos brasileiros, e não o desejo de castigar Dilma por sua gestão econômica.

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© 2014 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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