O canal de vídeos Porta dos Fundos, criado há seis anos por um grupo de humoristas que inclui Fábio Porchat e Gregório Duvivier, se prepara para dar seu primeiro passo no mercado internacional. Tereza Gonzalez, presidente executiva do Porta dos Fundos, diz que a empresa está fazendo uma seleção de seu catálogo de 850 vídeos para detectar quais podem ser adaptados para outras culturas. Os primeiros testes devem ser feitos em breve, em espanhol. O controle do site foi vendido no ano passado para o grupo americano Viacom – dono de canais como Comedy Central e MTV. A transação foi de cerca de R$ 50 milhões, segundo uma fonte do setor de mídia. Tereza diz que o grupo americano tem recursos e conhecimento necessário para fazer a marca Porta dos Fundos crescer além das fronteiras nacionais como uma produtora de conteúdo em diferentes plataformas (internet, TV e cinema). A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como você se tornou presidente do Porta dos Fundos? Eu conheci o Porta dos Fundos por meio do Fábio Porchat, em 2012, antes do Porta explodir. Nós trabalhamos juntos no filme Entre Abelhas. A parceria deu certo. O Porta explodiu e eles queriam expandir o negócio.
É o maior caso de uso profissional do YouTube no Brasil? Sim. Eles queriam, como produtores, abrir um núcleo para produzir para TV e cinema – e me chamaram para fazer isso. Também sou responsável pela internet. Eu cheguei em agosto de 2014. E, depois de algum tempo, veio a proposta de compra da Viacom, fechada há menos de um ano. Fizemos longas, séries para a TV, teatro. Invadimos outros territórios – e foi justamente por isso que a Viacom se interessou.
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Uma vantagem é que nem só o Porta dos Fundos, mas também seus membros individualmente, vêm com um público embutido. A gente tem 14 milhões de inscritos no canal, quase 70 milhões de visualizações por mês. Conseguimos manter uma boa visibilidade, apesar de o cenário ter mudado muito. A plataforma cresce de maneira exponencial, então a disputa é maior.
Fora da internet, o que já foi feito pelo Porta dos Fundos em outras plataformas? O programa da Fox era mais do que a internet na televisão. A gente fez ligações entre os esquetes (que já estavam no YouTube) – foram 20 programas de meia hora. Foi feita a adaptação porque, honestamente, o público não migra da internet para a TV. A gente muda de plataforma e acaba expandindo o público. A gente fez uma série chamada O Grande González e o longa Contrato Vitalício, que serviu para aprendermos que nem sempre o público vai migrar de uma plataforma para outra.
E quais são os novos projetos? A internacionalização. O grande encontro com a Viacom foi esse: a possibilidade de expansão que uma grande empresa de comunicação traz. Nós temos total liberdade criativa. Podemos até produzir para outros parceiros e outras plataformas, fora dos canais da Viacom. Os sócios individualmente também podem fazer seus projetos, tanto que o Fábio Porchat está na Record e o Gregório Duvivier faz uma série para a HBO.
Mas a nova série do Porta dos Fundos é no Comedy Central, da Viacom. Sim, a série Borges é mais próxima da linguagem da sitcom (comédia de situação). A maior parte da ação se passa em uma importadora que faliu. O dono coloca os funcionários como sócios e foge, deixando uma dívida gigante. E aí eles fazem um vídeo para se justificar com os credores. O vídeo é tão ruim que viraliza como comédia. Para ganhar dinheiro, essas pessoas se tornam produtoras de vídeo para a internet.
Em termos de receita, a internet ainda é o segmento mais importante para o Porta? Sim, o nosso negócio é principalmente digital. A gente está criando novos produtos para as marcas, que não são apenas inserções dentro de esquetes do canal do YouTube. Com o Bob’s, por exemplo, a gente acabou de fazer um outro tipo de campanha: um vídeo para o nosso canal que tem repercussões, com duração menor, no Facebook e no Instagram.
E a internacionalização? A gente está discutindo como ampliar o Porta dos Fundos. Vamos fazer uns vídeos de testes em outros países. Primeiro, em espanhol.
Que tipo de conteúdo pode ser exportado? O Porta faz um humor próximo do cotidiano das pessoas. Temos vídeos sobre astrologia, relacionamento, religião e relações de trabalho. Estamos fazendo uma curadoria dos 850 vídeos que já temos produzidos para entender quantos deles podem ser adaptados. O humor argentino é diferente do mexicano, que é diferente do humor dos latinos que vivem nos EUA. Estamos buscando talentos locais para refilmarmos as histórias.