A internet extravasou da comunidade acadêmica e sua importância comercial tornou-se óbvia. Antes gratuitos, nomes de domínio passaram a ser cobrados em 1995. Em 1996, o TCP/IP foi adotado como o protocolo oficial de redes como a NSFNet. A estrutura que garantia a perenização dos serviços de nomes na rede (DNS) pareceu algo pequena e acadêmica: em 1998, os EUA – que vinham financiando a Arpanet via departamento da defesa – descreveu como poderia ser a transição da gestão de nomes e números para a nova realidade e colocou no jogo o departamento de comércio. Buscava-se “privatizar” a IANA.
O herdeiro da IANA seria quem fizesse a melhor proposta e mostrasse que teria a participação dos diversos segmentos da sociedade. A escolha foi a ICANN, uma ONG criada em 1998 em Los Angeles e sediada no mesmo prédio da IANA. Tudo indicava uma transição suave e sem riscos, mas Postel faleceu após complicações de uma cirurgia cardíaca. Com a ICANN recém-criada e, sem Postel, o departamento de comércio queria garantir que nada de anormal ocorresse na gestão da raiz: em janeiro de 2001, um ano após a ativação da ICANN, a NTIA assinou com ICANN um contrato – que acabou sendo renovado a cada três anos – para supervisionar a IANA. A NTIA validaria as alterações na raiz de nomes.
O poder de um país supervisionar alterações feitas na raiz de nomes gerou desconforto. Em março de 2014, em pleno “caso Snowden”, a NTIA anunciou que, se houvesse uma proposta adequada, ela cederia esse poder e não renovaria o contrato. Nada é tão simples: se as comunidades de nomes, números e protocolos concordassem, ICANN poderia ser a única responsável final pela IANA, sem a NTIA. Eventualmente, um novo “mecanismo” poderia dar poder às comunidades no papel de supervisão da NTIA.
Na 55ª reunião da ICANN de Marrakesh, no Marrocos, comemorou-se o fim do processo, sendo enviada uma proposta à ICANN e, depois, à NTIA e ao Congresso dos EUA. Se tudo der certo, num novo cenário não haverá mais “um” governo em posição diferenciada. A gestão da internet será multissetorial. A internet quer seguir e ir “pra lá de Marrakesh”, mas há as eleições norte-americanas a considerar. Conseguirá?