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Presidente chinês defende globalização em Davos

Sem citar Trump, Xi Jinping criticou bandeiras defendidas pelo presidente eleito dos EUA

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Por Rolf Kuntz
Atualização:
Xi Jinping, presidente da China Foto: AP

O presidente da China, Xi Jinping, defendeu vigorosamente a globalização e a abertura de mercados na primeira sessão plenária da reunião do Fórum Econômico Mundial. Reafirmou o compromisso chinês com a integração internacional por meio das trocas e do investimento. Qualificou como um acerto o ingresso de seu país na Organização Mundial do Comércio (OMC). A China, afirmou, cumprirá o Acordo de Paris sobre o clima e cumprirá todos os compromissos internacionais.

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Pouco antes, num discurso de boas vindas aos participantes, a presidente da Federação Suíça, Doris Leuthard, havia alertado sobre os perigos do nacionalismo, do protecionismo e dos novos extremismos políticos.

Foram dois pronunciamentos consecutivos contra bandeiras sustentadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, mas sem menção a seu nome.

Não se pode, sustentou o presidente chinês, atribuir todos os males contemporâneos - como a crise dos milhões de refugiados - à globalização. As novas formas de produção e de comércio também geram, admitiu, novos desafios, mas é preciso enfrentá-los. Não se deve retornar à praia diante de qualquer tormenta e quem o fizer acabará destruído. É preciso, propôs Xi Jinping, mudar os motores do crescimento, valorizando a inovação, abrir oportunidades para todos e buscar novas formas de governança do mundo globalizado.

O crescimento econômico chinês é um produto, insistiu, da abertura econômica iniciada há 38 anos e da busca da integração no mercado internacional. Xi Jinping falou como um liberal, ao defender um regime de incentivo ao empreendimento e de recompensa dos esforços, mas em nenhum momento se referiu ao regime político ainda vigente em seu país.

O futuro presidente americano, com posse marcada para sexta-feira, foi defendido pouco mais tarde, em outra sessão, por um de seus principais colaboradores e membro da equipe de transição, o financista Anthony Scaramucci. Os Estados Unidos, argumentou, ajudaram a Europa a se recobrar da Segunda Guerra Mundial, com o Plano Marshall, e participaram de acordos comerciais assimétricos, projetados para ajudar seus parceiros. O comércio internacional, segundo ele, custou o fechamento de fábricas americanas, desemprego e empobrecimento de trabalhadores. O presidente Trump, insistiu, apenas pretende um comércio mais equilibrado, com menos assimetrias.

Em nenhum momento Scaramucci mencionou a criação de empregos durante 75 meses consecutivos - mais de seis anos - nem a atual taxa de desocupação dos Estados Unidos, inferior a 5% e uma das mais baixas do mundo.

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O secretário de Estado John Kerry entrou no debate horas depois, em outra apresentação, e contestou o vínculo entre comércio externo e demissões. Segundo ele, a mudança tecnológica é a causa principal de 85% do desemprego nos Estados Unidos. Boa parte de sua fala foi um balanço da ação diplomática do governo Obama, com críticas ocasionais ao presidente eleito. Mencionou o entendimento entre Estados Unidos e China como um fator fundamental para o Acordo de Paris sobre o clima, um compromisso contestado por Trump. Citou também a posição uniforme de governos democratas e republicanos contra assentamentos israelenses em território palestino. A mudança de posição anunciada pelo futuro presidente, comentou, põe em xeque a credibilidade americana.

Três dias antes de chegar à Casa Branca, o presidente eleito Donald Trump foi um dos temas principais, em menções diretas e indiretas, do Fórum de Davos. As incertezas políticas e novo nacionalismo continuariam, no entanto, na pauta do encontro. A agenda ainda previa, para outro dia, a presença da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, para falar sobre a negociação do Brexit, o abandono da União Europeia decidido no ano passado em plebiscito. Scaramucci reiterou ontem a simpatia pelo Brexit manifestada mais de uma vez por Donald Trump. 

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