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Presidente da Varig descarta risco de paralisação no curto prazo

Ele revelou que solicitou ao governo uma linha de crédito que permita adiar para o segundo semestre o pagamento aos principais fornecedores da companhia, entre eles Infraero e BR Distribuidora

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, descartou hoje qualquer risco de a companhia paralisar suas atividades no curto prazo. "Eu descarto sim, sem dúvida", disse. O executivo informou já ter solicitado ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, uma audiência para falar sobre o plano de recuperação e a atual situação financeira da empresa. Ele revelou que solicitou ao governo uma linha de crédito que permita adiar para o segundo semestre o pagamento aos principais fornecedores da companhia, entre eles Infraero e BR Distribuidora. Segundo ele, essa linha poderia dar um alívio na situação financeira da Varig até o final da chamada baixa temporada, época em que tradicionalmente as receitas da empresa aérea diminuem. "A idéia é de alguma maneira criar um colchão, alguma facilidade para que possamos superar isso (a crise financeira)." Segundo ele, os investidores ficam mais receosos em injetar recursos na companhia sem que o processo de recuperação seja finalizado, com a criação a Fundo de Investimentos e Participações (FIPs). Bottini admitiu ainda que o caixa da Varig é "bastante limitado", o que exige uma solução mais rápida para a crise financeira em que ela está envolvida. Infraero deu um ultimato à Varig Nesta terça, a Infraero, estatal que administra os aeroportos brasileiros, deu um ultimato à Varig: se a companhia aérea não retomar os pagamentos diários das tarifas de operação nos aeroportos até o final desta semana, a estatal ameaça passar a cobrar os valores à vista nos aeroportos, no início de cada vôo da empresa. Com isso, várias rotas podem deixar de ser operadas e os clientes desses vôos poderão saber disso somente momentos antes da decolagem. A Varig deve R$ 116 milhões à Infraero. Na correspondência encaminha formalmente à Varig, a estatal afirma que "houve uma quebra de compromisso" por parte da companhia aérea, que acertou na última sexta-feira que retomaria o pagamento diário das tarifas aeroportuárias na segunda-feira passada, mas não o fez. A Varig deve recolher em média R$ 900 mil por dia ao governo para poder usar as instalações dos aeroportos para pousos e decolagens. De acordo com fontes da Infraero, a inadimplência da Varig foi tratada nesta terça pela diretoria da estatal, que preferiu não fixar uma data-limite para início das cobranças à vista. No entanto, um tempo considerado "razoável" é até o final desta semana. "A estatal tentou evitar a todo custo essa medida (cobrança à vista), que é dura e pode agravar ainda mais a situação da Varig. Mas a Infraero também não pode se furtar aos seus deveres" comentou uma fonte do governo. A Infraero não descarta a possibilidade de apresentar à justiça uma nova ação de cobrança contra a Varig. Proposta da VarigLog não é bem aceita Ontem, a companhia recebeu uma oferta da VarigLog, controlada por investidores brasileiros e o fundo americano Matlin Patterson. A oferta não foi bem recebida pelo principal credor da companhia, a Aerus. Entretanto, Bottini acredita que a proposta pode ser melhorada durante o processo de discussão. "A Varig passa desde o ano passado por um plano de recuperação e é extremamente necessário que haja um investimento. (...) Eu aprovo qualquer proposta que seja um investimento na Varig e que possa apresentar a ela uma solução de continuidade", disse. Contudo, admitiu que a oferta é complexa e que ainda pode ser melhorada. O projeto de compra da Varig pela ex-subsidiária VarigLog prevê um forte enxugamento da companhia, com queda dos cerca de 11 mil empregados atuais para apenas 6 mil, redução da frota de 71 (54 deles voando atualmente) para 48 aviões e a criação de uma nova empresa, sem dívidas. A proposta não contempla solução para o pesado endividamento, que ficaria isolado numa outra empresa. Sindicatos de trabalhadores e o fundo de pensão Aerus já rejeitaram ontem o projeto. Segundo a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, porém, os cortes podem ser ainda maiores. Ela disse que a proposta prevê a criação de uma nova empresa com apenas 4,9 mil empregados. Segundo os aeroviários, restariam na empresa 770 pilotos, 1,85 mil comissários e 2,25 mil empregados em terra.Na Varig, já há vários programas de desligamento incentivados, não quantificados ainda. O presidente do Aerus, Odilon Junqueira, disse que o projeto deixa o fundo de pensão "no deserto", porque não reconhece a dívida acumulada. Segundo ele, "é consenso que os outros credores não devem aceitar". "Há um oportunismo grande na proposta. Querem ganhar dinheiro, comprar na bacia das almas", chegou a comentar o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Gelson Fochesato.

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