ATENAS - A população grega foi às urnas neste domingo para dizer "sim" ou "não" às condições impostas pela União Europeia para a renegociação da dívida e a concessão de pacotes de ajuda financeira ao país. No plebiscito “relâmpago”, convocado e realizado em uma semana pelo governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras (do partido de extrema esquerda Syriza), os primeiros resultados divulgados mostram a vantagem do “não”.
Às 21h47 (horário local), com 50,11% das urnas apuradas, o voto contrário às condições impostas pela UE aparecia com 61,21% dos votos no plebiscito, enquanto o favorável reunia 38,79%, de acordo com dados oficiais do governo grego. A diferença, por enquanto, é maior do que a mostrada por pesquisas divulgadas após o fechamento das urnas.
Um levantamento do Instituto GPO, publicado pelo jornal Ethnos, divulgado no momento do fechamento das urnas em Atenas, às 19h (13h em Brasília), indicava a vitória para o "não", por uma margem bastante apertada: 51,5%, contra 48,5% do sim. O resultado, porém, terá de ser confirmado nas urnas, já que a margem de erro é de 3 pontos percentuais.
Outras pesquisas, algumas delas feitas por telefone pela TV grega, mostraram números semelhantes. Levantamento da Marc, feita por telefone com 2 mil pessoas, mostra o "não" com 52% e o "sim" com 48%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais. Os números da Skai TV também mostram um cenário indefinido, mas com vantagem para o "não": segundo a emissora, o voto contrário às propostas da UE teria entre 49,5% e 54,5%, enquanto o favorável teria entre 45,5% e 50,5%.
Cerca de 10 milhões de eleitores na Grécia estavam aptos a votar no plebiscito. Pela lei, o voto é obrigatório no país, mas na prática o texto não é aplicado há bastante tempo – o que deixa a escolha livre para a população. O ministro do Interior grego, Nikos Voutsis, afirmou, em declaração à imprensa, que o governo considera o plebiscito um sucesso – com mais de 50% dos eleitores comparecendo às urnas. "Nós enfrentamos dificuldades institucionais e regulatórias, além de ataques de hackers a websites do governo, mas conseguimos resolver esses problemas com a ajuda de todos."
Depois de um verdadeiro duelo de protestos na sexta-feira, quando os que advogam pelo “sim” e pelo “não” reuniram milhares de pessoas em diferentes pontos de Atenas, o clima da cidade se acalmou entre sábado e este domingo. O clima era calmo na maioria dos locais de votação e não havia filas. Tampouco a panfletagem, tão comum nos pleitos brasileiros, não sujou as ruas da capital grega. Como havia poucas seções eleitorais nas proximidades dos pontos turísticos, os turistas mal percebiam que este era um domingo vital para a economia grega.
Contexto. Embora os gregos tenham ido às urnas para responder a uma pergunta sobre as condições para renegociação da dívida e manutenção da ajuda da União Europeia, por trás do plebiscito – o primeiro na Grécia em 41 anos, desde que a população decidiu extinguir a monarquia, em 1974 – pode estar o futuro do país como membro da União Europeia.
O “sim” e o “não” representam duas apostas distintas no futuro. Aceitar o que a UE propõe significa a continuidade do plano de austeridade financeira implementado durante os últimos cinco anos. Os resultados para a economia e para a população, porém, têm sido desastrosos: desde 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) acumula uma retração de 24% e o desemprego entre os jovens dobrou, chegando a 50%. Apesar disso, quem opta “sim” acredita que, sem o colchão de segurança oferecido pela UE, o desastre deverá ser ainda maior.
Já o voto no “não” é uma aposta de que a situação não pode ficar pior do que está. De acordo com o primeiro-ministro Alexis Tsipras, a proposta do referendo é mostrar a insatisfação com a intransigência na negociação das dívidas, e não buscar a saída da União Europeia. O objetivo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveis de negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. Ao votar, Tsipras afirmou que a democracia venceria o “medo” e a “chantagem” – recado direto para o que considera uma posição intransigente da UE.
Calote. A economia grega deteriorou-se ainda mais na última semana. O plebiscito foi anunciado pelo primeiro-ministro no último dia 26 e organizado em poucos dias – o site oficial com as explicações sobre as regras só entrou no ar na última quarta-feira. Diante do iminente calote de uma dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que acabou se confirmando –, Tsipras determinou o fechamento dos bancos desde a segunda-feira e um limite máximo diário de saques de € 60, expondo a fragilidade do sistema bancário nacional.
Há relatos de que o dinheiro pode ‘secar’ nos caixas eletrônicos na segunda-feira caso o Banco Central Europeu (BCE) não faça uma nova injeção de capital para que as máquinas possam ser abastecidas. Embora o limite para saques não valha para turistas, o Estado ouviu no sábado relatos de visitantes que tiveram dificuldade de sacar dinheiro e usar o cartão de crédito em ilhas como Mykonos e Santorini.