A divulgação da queda de 0,8% da produção industrial em agosto, na comparação dessazonalizada com julho, abaixo do piso das projeções de mercado, de -0,7%, não mudou a visão de recuperação gradual da economia brasileira por parte de diversos analistas. A explicação sintética é que “olhando por dentro, o retrato é bem melhor do que o dado agregado”, como diz um economista de uma gestora de recursos no Rio. Esse analista comentou que o resultado ruim veio em grande parte da indústria extrativa (que recuou 1,2% ante julho, em termos dessazonalizados), na qual houve uma revisão para cima na série.
Já a indústria de transformação ficou estável, sempre na mesma base de comparação. A produção de bens de capital cresceu 0,5% em agosto e os bens de consumo durável deram um salto de 4,1%, com a contribuição da indústria automobilística.
Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Haitong, observa que a queda da produção industrial foi puxada por fortes recuos em alguns poucos segmentos. A maioria dos “ramos”, ou um total de 16 em 24, experimentou avanço.
Da mesma forma, o economista Maurício Schwartsman apontou em relatório que o índice de difusão dessazonalizado da média móvel trimestral até agosto da indústria foi de 66,7%, o que denota “que a contração foi limitada a poucos, mas importantes, setores”. Petróleo e biocombustíveis, máquinas e equipamentos e, na série dessazonalizada, extração mineral e produção de alimentos foram os “vilões”.
Para Santos, do Haitong, “o resultado da produção industrial em agosto parece uma flutuação meramente pontual, e a trajetória de recuperação continua”.
O departamento de pesquisa do Itaú, por sua vez, chama a atenção, na produção industrial de agosto, para números positivos como a alta de 0,5% nos insumos típicos da construção civil. Para o banco, esse último dado, “junto com as fortes altas da produção de bens de capital, é consistente com crescimento positivo da formação bruta de capital fixo (investimento) no trimestre”.