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Produtores rurais reclamam de exigências dos bancos para liberar crédito

Representantes de associações afirmam que as instituições financeiras têm demandado dos produtores requisitos não cobrados na safra anterior

Por Clarice Couto
Atualização:

SÃO PAULO - Produtores rurais de diferentes regiões do Brasil queixam-se das exigências impostas pelos bancos para liberar recursos previstos no Plano Agrícola e Pecuário 2015/16, anunciado há dois meses. Tanto representantes da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Rio Grande do Sul como de Mato Grosso afirmam que as instituições financeiras têm demandado dos produtores requisitos não cobrados na safra 2014/15. "Os bancos estão emprestando, mas exigindo mais garantias", disse ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, o coordenador da comissão de política agrícola da Aprosoja-MT, Adolfo Petry.

Em Mato Grosso, as entidades bancárias começaram a condicionar a concessão de crédito não apenas ao tradicional penhor da safra (ou seja, a própria safra pode vir a ser utilizada para pagar a dívida), mas também a avalistas e à chamada hipoteca de primeiro grau (bem que não está vinculado a nenhuma outra dívida). O problema é que boa parte dos produtores já dava sua hipoteca como garantia em financiamentos para adquirir máquinas agrícolas e silos. "Qual produtor tem uma hipoteca sem nenhum ônus? Bem menos da metade dos agricultores do Estado", disse Petry. 

Bancos condicionam a concessão de crédito ao penhor da safra, avalistas e hipoteca de primeiro grau Foto: Thiago Teixeira/Estadão

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Na região, há outros agravantes. As revendas de insumos, que no ciclo 2014/15 custearam quase 1/3 dos produtos, no atual ano-safra devem financiar somente de 10% a 15%, na estimativa do coordenador da Aprosoja-MT. Além disso, o atraso na concessão de crédito no primeiro semestre fez com que os produtores do Estado postergassem a aquisição de insumos e ainda amargassem os prejuízos de compras com dólar bem mais alto. Se no ano passado, neste época do ano, agricultores da região já tinham "comprado e pago" os insumos, segundo Petry, neste ainda falta adquirir 18% do volume a ser aplicado na temporada 2015/16. "Então existe uma demanda represada", complementou. 

Apesar da dificuldade, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, afirmou na semana passada que os recursos do Plano Safra 2015/16 "estão saindo normalmente" e que, no mês de julho, o primeiro do ano-safra, foram liberados 32% mais recursos em relação a julho de 2014. Segundo dados do Banco Central (BC) sobre crédito rural, as contratações em julho somaram R$ 11 bilhões e, em julho de 2014, R$ 8,647 bilhões. Somente os bancos públicos, no mês passado, liberaram R$ 6,8 bilhões, aumento de 62% no volume de crédito em relação a julho de 2014. Os bancos privados aumentaram em 6% a oferta de crédito e ofereceram R$ 3,7 bilhões aos agricultores. 

No Rio Grande do Sul, a reclamação é semelhante. Produtores relatam que não apenas os bancos ampliaram as exigências para aprovar linhas de crédito como também as revendas. "Produtores que têm refinanciado sua dívida não conseguem mais crédito para a safra nova", conta o presidente da Aprosoja-RS, Décio Lopes Teixeira. As distribuidoras, segundo o executivo, também têm enfrentado dificuldades. "Tenho ouvido empresas com 30% a 40% (da dívida) na rua, sem receber", diz Teixeira. 

Para ele, a situação no Rio Grande do Sul é preocupante. Os que acessam linhas de crédito, em sua percepção, são aqueles sem dívidas ou que se desfizeram de algum bem para quitar débitos. "Milho aqui tem gente que nem planta mais. Grandes empresas estão desaparecendo todos os anos, porque a despesa é maior do que os ganhos", afirma.

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