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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Projeto truncado

É inegável que boa parcela da população de baixa renda passou a ter acesso a uma boa beirada do mercado de consumo. Mas é uma realidade mais conhecida por símbolos do que pelo rigor estatístico.

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Atualização:

Quando se apresentam como antídoto ao que denominam administrações neoliberais, políticos e dirigentes do PT argumentam que ninguém lhes tira o mérito de ter promovido a ascensão para as classes médias de 40 milhões de pessoas que antes viviam em condições precárias de renda e consumo.

Embora esta seja afirmação sempre repetida sem preocupação de atestar sua sustentação, é inegável que boa parcela da população de baixa renda passou a ter acesso a uma boa beirada do mercado de consumo. Mas é uma realidade mais conhecida por símbolos do que pelo rigor estatístico, embora algo de suas dimensões também exista (veja o gráfico abaixo). Um desses símbolos foi o pote de iogurte e outro, a TV de tela plana, que passaram a fazer parte da cesta de consumo das classes de baixa renda.

 Foto: Infográfico Estadão

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Seja qual tenha sido seu alcance, essa ascensão econômica foi construída por meio do forte aumento das despesas públicas, distribuição de crédito farto e relativamente barato, reajustes de salários acima da variação da inflação e da produtividade da mão de obra e por algumas políticas sociais, como o Bolsa Família.

Teve dois graves erros de concepção. O primeiro deles é o de que essas políticas não se assentaram em fundamentos sólidos da economia. A partir do momento em que o rombo das contas públicas saltou, que as contas externas se desequilibraram e que a inflação disparou, o processo que deveria garantir o resgate da população mais carente sofreu forte reversão. A queima de renda popular por meio da inflação, do desemprego – que hoje ultrapassa os 11 milhões de brasileiros –, do forte endividamento familiar e do crescimento da inadimplência, atirou a maior parcela desses supostos resgatados de volta ao chão de onde veio. Enfim, foi um processo que não se sustentou e que, deixado às suas próprias forças, tenderia ao colapso.

O segundo grande erro de concepção foi ter dado acesso (temporário) a laticínios, máquinas de lavar roupa, a telefones celulares, a viagem de avião e até a conta bancária e, ao mesmo tempo, ter descuidado do que poderia ter promovido e valorizado o ser humano, como a melhora da educação, acesso a serviços minimamente aceitáveis de saúde e a treinamento profissional. Foi a escolha do ter sem base no ser, que deu no que deu.

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O pressuposto foi o de que o gosto pelo consumo acabaria por criar mais demanda e, portanto, por compor uma sociedade de massas cuja principal força seria dar sustentação política que garantisse a perpetuação no poder dos governos do PT. Agora que procura o apoio dos movimentos sociais para derrotar o projeto do impeachment, o governo Dilma não o encontra. As chamadas classes populares não parecem identificadas com o que vai sobrando dos governos petistas.

Alguém poderia apontar aqui também um desvio ideológico. Embora as esquerdas brasileiras continuem enaltecendo o proletariado, o que acabaram por fazer (temporariamente) foi apenas alçar parte dele à condição de pequena burguesia. Era esse, então, o objetivo?

CONFIRA:

 Foto: Infográfico/Estadão

Esta é a evolução do Índice Bovespa, que retrata o comportamento do mercado de ações ao longo de 2016.

Confiança

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Juntamente com o câmbio (queda das cotações do dólar), a força do mercado de ações dá uma boa ideia da maneira como acontece o resgate da confiança na política econômica. Ao longo de 2016 (até o fechamento desta segunda-feira), o mercado de ações mostrou valorização de 30,3%. Apenas em julho, a alta é de 9,6%. Mas este é um mercado volátil que pode “realizar lucros” ao aparecimento de qualquer ameaça.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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