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‘Quanto mais reformas, menor será o juro neutro’

Para presidente do BC, reformas como a da Previdência são essenciais para que País possa ter juros mais baixos

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes , Irany Tereza e Cristina Canas (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reiterou que, na visão do banco, o cenário básico para a política monetária prescreve uma antecipação do ciclo de redução dos juros - ou seja, reduzir a Selic num período menor. Mas ele deixou claro que o banco quer ter a flexibilidade para decidir qual será esse grau de antecipação, “que depende também da nossa visão sobre a extensão do ciclo”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

'Política do BC é técnica, olhamos os riscos embutidos nas nossas projeções', diz Ilan Foto: Adriano Machado|Reuters

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Boa parte da queda da inflação no IPCA veio dos alimentos. Há uma “contaminação” do choque dos alimentos em outros preços?

Estamos num processo de desinflação. Tem a queda dos alimentos, mas há uma desinflação mais difundida. Temos queda na inflação de serviços e de outros componentes. Em relação à inflação dos alimentos, temos dito que vamos considerar a queda, em parte, como um choque positivo, o que significa que, ao mesmo tempo, não vamos combater o impacto primário, a mudança de nível que vem desse choque. Mas, obviamente, vamos levar em consideração na nossa política qualquer impacto dos alimentos no resto dos preços. A inflação tem sido menor tanto pelos alimentos quanto pelo resto do índice.

O PIB negativo de 3,6% em 2016 pode aumentar a pressão que já existe, até em alguns setores do governo, por queda mais acentuada dos juros. O BC reage de que forma a esse resultado e a essa pressão?

Nossa política é técnica. Temos projeções de inflação, expectativas que vêm dos analistas, do mercado. Olhamos os riscos embutidos nas nossas projeções, no cenário, mas também levamos em consideração a atividade econômica tanto como uma base para nossas projeções como também levando em consideração o custo do processo de desinflação. Obviamente que dados de atividade que aconteceram no ano passado são, como já foi dito, como olhar o retrovisor. É importante entendermos porque houve uma queda intensa da atividade. Estávamos numa direção de política econômica insustentável. Essa política mudou. Mas gerou consequências que têm custo até agora. Tivemos não só o impacto externo da queda no boom de commodities, mas também políticas econômicas aqui intervencionistas, que congelaram preços de administrados, que geraram muita incerteza. Tivemos fatores não econômicos que também geraram incertezas. Tudo isso levou a uma queda do PIB nos últimos dois anos que vamos reverter daqui para a frente. Acho que a percepção é de que estamos melhor do que no passado.

As reuniões de diretores com analistas do mercado passaram a impressão que o BC estava tentando corrigir o entendimento na leitura da ata do Copom, especialmente em relação à antecipação do ciclo de política monetária. Quais as condições para essa antecipação?

Uma das partes enfatizadas na ata foi a antecipação do ciclo. E basicamente dizia o seguinte: nossa visão do cenário básico prescreve uma antecipação do ciclo e na verdade a gente reiterou essa prescrição. Ou seja, quando houve uma decisão de aceleração no ritmo no Copom, na reunião anterior, já houve essa ideia de antecipar. O que não significa que vamos manter o mesmo grau de aceleração. Vamos decidir se esse grau pode ser maior ou menor. Esse é o grau de flexibilidade que a gente se permitiu para a frente: qual o grau de antecipação que a gente quer colocar, que depende também da nossa visão sobre a extensão do ciclo. Vamos analisar as duas coisas ao longo do tempo.

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Se a reforma da Previdência vier mais fraca do que está propondo o governo, vai deixar o BC mais conservador?

A reforma da Previdência é importante não só para a política monetária, mas para o País. Ela torna o teto de gastos factível no longo prazo, permite ter espaço para vários outros gastos. Então, ela é fundamental. Sob o ponto de vista da política monetária, temos a taxa estrutural, que seria a taxa que os analistas chamam de taxa neutra. Aquela onde você tem uma economia com uma inflação baixa, estável, crescendo de forma sustentada. E essa taxa pode ser maior ou menor. Quanto mais reformas a gente fizer e mais ajustes, menor será essa taxa. E a Previdência é uma reforma importante.

O sr. falou do PIB usando a expressão “olhando no retrovisor”, mas como mostrar, no G-20, que o País saiu da recessão diante dos números que acabaram de ser divulgados?

No G-20 há uma discussão global sobre o que acontece na economia internacional e o impacto que diversas políticas monetárias e fiscais têm no mundo. Não é só uma discussão sobre o Brasil. É claro que, quando tivermos a capacidade e a disponibilidade, o momento de apresentar o Brasil, vamos dizer o que nós temos dito aqui. A política econômica mudou de direção. As reformas estão sendo aprovadas. O risco percebido do Brasil tem diminuído. Temos entradas de investimento direto, indicadores financeiros melhorando. E temos, neste trimestre, indicadores reais que mostram que a economia está se estabilizando. Com isso, se consegue passar a mensagem que há uma confiança na política econômica e que já está começando a gerar resultados.