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'Quero minha casa enquanto estou viva'

Maria espera há três décadas moradia por meio de programas de habitação

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Por Murilo Rodrigues Alves
Atualização:
No programa Minha Casa, a artesã Maria se inscreveu em 2009, e até agora espera pelo imóvel Foto: Dida Sampaio/Estadão

Aos 9 anos, a baiana Maria Freitas Xavier se mudou para a recém-inaugurada capital federal e foi morar com o pai na antiga Vila do Iapi, assentamento que se formou de forma irregular pelos candangos, às margens da construção de Brasília. O governo transferiu todas as famílias que moravam nesse local para uma nova cidade batizada de Ceilândia. O nome surgiu da sigla da Campanha de Erradicação das Invasões (CEI) mais o modismo de sufixos do inglês da época. Desde então, Maria nunca conseguiu ter casa própria. O pai se mudou para a zona rural e ela passou a viver de favor em Ceilândia, Águas Lindas de Goiás (GO) e agora em São Sebastião, a 26 km de Brasília. Com 55 anos, a artesã tenta há quase três décadas conseguir moradia por meio de um programa de habitação. Antes do Minha Casa Minha Vida, ela já tinha se inscrito em ações que doavam terrenos para construção. Hoje, vive em um cômodo de, no máximo, 25 m², onde funcionava uma lanchonete do irmão, que faleceu. O sobrinho ofereceu o espaço com um banheiro e sem divisão entre sala, quarto e cozinha, onde ela vive com o atual companheiro, a cachorra Honey Baby (em homenagem à música Vapor Barato, de Zeca Baleiro) e a gata Chulé ("porque não sai do meu pé"). Quando fez a sua primeira inscrição para o programa anterior ao Minha Casa Minha Vida, o filho Elder tinha apenas 5 anos. Hoje ele tem 34 anos, já foi casado com três mulheres e deu a Maria quatro netos. Ele também não tem casa própria. Quando o presidente Lula lançou o Minha Casa, em 2009, Maria se encheu de esperança: "Achei que tinha chegado minha hora". Não chegou. "Quero minha casa enquanto ainda estou viva. Quando morrer, vou morar no cemitério", diz, com olhos marejados. Maria diz que "infelizmente" votou em Dilma. "Ela prometeu uma coisa, fez outra. Será que esse povo tem amnésia? Falam uma coisa na campanha, chegam lá e só querem roubar", critica. 

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