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Real enche estádio até quando não joga

Uso do Santiago Bernabéu para reuniões de negócios, tours diários para visitantes e restaurantes permite ao clube faturar 120 milhões por ano

Por JAMIL CHADE e MADRI
Atualização:

Da Grécia Antiga, passando por Roma ou mesmo pelas catedrais do futebol do século 20, os estádios tiveram papéis importantes como caixa de ressonância das sociedades. Mas, agora, o clube mais rico do mundo - o Real Madrid - está transformando uma vez mais o conceito de estádio. Para o clube, já se foi o tempo em que estádio era apenas para os domingos de futebol. Nos últimos anos, o Santiago Bernabéu se transformou numa máquina de fazer dinheiro sete dias por semana, todo o ano. Com aluguéis de salas para reuniões, tours diários para visitantes de todo o mundo, restaurantes de diferentes países e uma verdadeira estrutura de centro de negócios, o estádio do Real Madrid atingiu no ano passado uma situação inédita: já recebe mais gente em dias sem jogo que em dias de rodada do campeonato espanhol.Um verdadeiro oásis de dinheiro numa Espanha quebrada, o Santiago Bernabéu se transformou numa das empresas mais rentáveis do país. Por ano, chega a faturar 120 milhões - valor suficiente para comprar a cada ano um novo Cristiano Ronaldo ou acima de toda a renda de Corinthians, São Paulo ou Flamengo. Esse valor nem sequer inclui o próprio time do Real Madrid e seus patrocinadores. Há 15 anos, a renda do estádio quase dependia exclusivamente do futebol, acumulando 33 milhões em 1998. O projeto de transformar o estádio criado em 1947 numa empresa tem cerca de 15 anos, e os resultados logo apareceram. Por ano, são mais de 700 mil pessoas que compram seus ingressos (a 16 cada) para passear pelo estádio. Em 2012, isso garantiu ao clube 29 milhões, praticamente sem esforço. Além de visitar os vestiários, caminhar pelo gramado, sentar no banco de reservas e conhecer os túneis, o visitante ainda pode tirar uma foto com Cristiano Ronaldo, com a taça da Liga dos Campeões ou mesmo abraçado com José Mourinho. Tudo graças a computadores. E, claro, com o desembolso de mais 20 por foto. Estrategicamente, o tour termina dentro da maior loja de artigos de um clube já construída. O visitante pode sair com a camisa do time com seu nome nas costas por mais 100. Mas não são os turistas que mais deixam dinheiro no estádio. Com 252 salas, o Real oferece a empresas a possibilidade de alugar as dependências para eventos que podem ir de 10 a 80 mil pessoas - ou seja, o estádio lotado. Uma das empresas que abandonaram o formato tradicional de reunião para ir ao estádio foi a Cisco Systems. "Aqui não trabalhamos para os jogos de futebol dos domingos. Aqui, há jogos todos os dias", comenta Marta Santamaria, uma das responsáveis pela gestão do local. Na temporada 2010-2011, foram 447 eventos, mais de um por dia. Jogos, apenas 27. O restante são atos comerciais de empresas, reuniões de grupos e promoções.O estádio já se tornou o terceiro ponto mais visitado de Madri, superado apenas pelos museus Rainha Sofia e Prado. Os três restaurantes de luxo estão todos os dias lotados para o almoço e pode-se escolher entre comida típica espanhola, um restaurante internacional ou um asiático. Isso sem contar os 78 bares espalhados pelo estádio.Para fazer a máquina funcionar, há um verdadeiro exército e, acima de tudo, uma sala de operação que lembra um filme de ficção científica. Das luzes aos elevadores, passando pelo gramado ou calefação, tudo é controlado de um só local por computadores. Novo Bernabéu. Para chegar a essa dimensão, o Real Madrid gastou 150 milhões nos últimos dez anos. Mas a estratégia deu tanto resultado que, a partir de 2016, o estádio passará por nova reforma, dessa vez para transformá-lo numa "referência esportiva, social, comercial e empresarial". O projeto já era para ter sido iniciado. Mas a crise na Espanha retardou seu início. A obra será realizada pela empresa alemã GPMArchitekten. A projeção é de que a reforma vai custar 250 milhões.Mas, segundo os cálculos, nos primeiros dois anos de funcionamento os gastos já seriam ressarcidos. Isso porque a nova estrutura vai permitir uma ampliação da renda em mais 50 milhões em relação ao que se ganha hoje.Florentino Perez, presidente do Real, foi categórico ao indicar o que espera do novo projeto: "Quero um estádio que não se pareça com um estádio". Para a direção do clube, a ideia de um "elefante branco" nem sequer entra nos cálculos. A meta, muito mais econômica que esportiva, é garantir o estádio como fonte de renda tão fundamental quanto o sucesso da equipe em campo.

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