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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Recessão anunciada

Saiu nesta sexta-feira mais um indicador que aponta para uma queda ainda mais acentuada do PIB;Ninguém consegue enxergar o fundo do poço

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Atualização:

Saiu nesta sexta-feira mais um indicador que aponta para uma queda ainda mais acentuada do Produto Interno Bruto (PIB), que é uma das melhores medidas do estado de saúde da economia.

Trata-se do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) que mostrou um crescimento de 0,03% em maio em comparação ao mês anterior. Afirmar que, afinal, se trata de um avanço é ignorar o mais importante. A evolução da atividade econômica é negativa quando se comparam os primeiros cinco meses deste ano com igual período de 2014 (queda de 2,64%) e o período de 12 meses terminado em maio também com o período anterior correspondente (queda de 1,68%).

 Foto: infograficos/estadao

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Esse IBC-Br foi montado para antecipar em alguns meses o comportamento do PIB, que só sai quatro vezes por ano e, ainda assim, com um atraso de mais de dois meses.

Neste ano, por exemplo, a gente já sabe que o PIB do primeiro trimestre acusou uma queda de 0,20% sobre o trimestre anterior. Mas não se conhece ainda o PIB do segundo trimestre, cuja divulgação está agendada para o dia 28 de agosto.

Se o IBC-Br indica recuo de 2,64% em cinco meses, e se já se conhecem outros indicadores de mau desempenho em junho, então dá para dizer que do primeiro semestre do ano não se pode mesmo esperar por coisa melhor do que uma boa trombada. Só não se sabe o tamanho das avarias.

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O Banco Central já admitiu no Relatório de Inflação uma queda do PIB em todo o ano de 2015 de 1,1%. O Ministério da Fazenda afunda esse barco um pouco mais, para menos 1,5%, mesma aposta do mercado financeiro, como vem sendo aferida pela Pesquisa Focus, do Banco Central. Mas a cada semana aparecem novas projeções dos bancos, que se situam já na queda de 2,0% a 2,2%.

Um desempenho tão ruim da economia produz consequências em cadeia. A arrecadação baqueia ainda mais e tende a aumentar o rombo das contas públicas; o desemprego aumenta (veja, no Confira, os últimos números do Caged); as receitas das famílias, que já vinham sendo corroídas pela inflação, diminuem ainda mais; o consumo afunda; os investimentos são adiados para quando as coisas melhorarem; tudo isso vai derrubando a confiança e a esperança no futuro.

Pior que tudo é que ninguém consegue enxergar o fundo do poço. Quando alguém quebra o braço sabe que vai ficar x meses imobilizado mas que, ao fim desse período, vai sair de lá tão bom quanto estava antes. Desta vez, o fim da crise foi sendo sucessivamente adiado para o segundo semestre, para o fim do ano, para 2016, mas alguns analistas já começam a dizer que a recuperação só virá em 2018.

Por aí se vê como foi desastrada e irresponsável a política econômica montada ao longo do primeiro governo Dilma, supostamente inspirada no maior economista do século 20, John Maynard Keynes, como se ele tivesse defendido pedaladas fiscais e farras de consumo.

CONFIRA:

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 Foto: infograficos/estadao

Esta é a evolução do emprego com carteira assinada a cada primeiro semestre dos últimos sete anos.

Não há vagas O comportamento do emprego formal (contratos com registros em carteira) mostra desempenho negativo proporcional ao recuo do PIB. Em junho, apenas a agricultura contratou mais gente. Os demais setores (indústria, serviços e construção civil) estão demitindo e demitindo cada vez mais. Nos últimos 12 meses houve uma redução de 602 mil postos de trabalho, queda de 1,45% em relação ao período anterior, também de 12 meses.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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