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Recuo no preço da comida segura inflação dos mais pobres

Índice de Preços apurado pela FGV teve queda de 0,01% em fevereiro, depois de uma alta de 0,50% em janeiro; previsão é de alta este mês

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

SÃO PAULO E RIO - Após a alta de 0,50% de janeiro, a inflação das famílias mais pobres recuou em fevereiro e fechou o mês praticamente estável, com uma pequena queda de 0,01%, segundo o Índice de Preços de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Isso trouxe um certo alívio para o orçamento das famílias com renda mensal entre um e 2,5 salários mínimos (de R$ 954 a R$ 2.400). A perspectiva para o ano é que a comida continue aliviando a inflação dos mais pobres, que gastam a maior fatia da renda com alimentação e são os mais afetados pelo desemprego elevado, preveem economistas.

A queda da inflação dos mais pobres no mês passado foi provocada pelo recuo dos preços dos alimentos que tinham subido muito em janeiro por causa da oferta menor, afirma o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, André Bráz. “Em janeiro, o clima meio doido fez o preço dos alimentos vendidos na feira oscilarem bastante”, observa.

Mayra Tavares, de 27 anos, notou a queda dopreçodos produtos na feira Foto: JF Diorio/Estadão

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As hortaliças e legumes subiram 16,3% em janeiro e frutas, 5,05%. Com isso a alimentação como um todo aumentou 1,19% para as famílias de menor renda. Já em fevereiro, as hortaliças recuaram 0,39% e as frutas ficaram praticamente estáveis. Resultado: o grupo alimentação, que pesa 31,5% no orçamento das famílias de menor renda, caiu 0,31% no mê passado.

A atendente de telemarketing Mayra Tavares, de 27 anos, casada e que está prestes a ser mãe, sentiu o recuo dos preços no mês passado nas frutas e legumes que compra na feira. “Percebi que os preços da banana, da maçã e do tomate baixaram um pouco”, observa. Isso fez com que o desembolso com a feira que ela faz a cada quinze dias ficasse mais próximo de R$ 50. Geralmente a despesa com a feira varia entre R$ 50 e R$ 100. Ela e o marido, que é porteiro, somam uma renda mensal de cerca de R$ 2.400.

Mayra não notou recuo nos preços dos supermercados, que na sua opinião ficaram estáveis. Em compensação, os gastos com a conta de água e luz subiram e as despesas com transporte também. No IPC-C1 de fevereiro, o a tarifa de energia subiu 0,84%, o ônibus urbano teve alta de 0,47% e a gasolina ficou 1,93% mais cara. Esses três itens estão entre os que mais exerceram pressão de alta do indicador, que foi derrubado pelo recuo dos alimentos. A atendente de marketing diz que o alívio que houve no gasto com a feira foi usado para cobrir despesas com as tarifas, que subiram.

O economista da FGV acredita que a inflação dos mais pobres deve voltar ao terreno positivo este mês, com alta de 0,15% a 0,20%, puxada por uma ligeira pressão nos alimentos. No ano, no entanto, a comida deve continuar ajudando os brasileiros de menor renda a controlarem o orçamento doméstico. Para uma inflação projetada pelo economista para a baixa renda de 3,4% em 2018, a alimentação deve subir cerca de 3%.

Defesa. “Enquanto os alimentos estiverem bem comportados, vamos ter uma inflação baixa para as famílias de menor renda e isso é uma defesa importante para parte dessa população. Isso porque eles são as maiores vítimas do desemprego”, diz Bráz. Ele pondera que muitos não conseguem perceber o benefício do recuo da comida pelo fato de não terem renda porque estão desempregados.

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Fabio Romão, economista da LCA Consultores, diz que hoje os sinais estão cada vez mais claros de que a inflação dos alimentos deve ficar abaixo do inicialmente previsto este ano por conta de vários fatores. Entre eles estão a safra um pouco menor, mas ainda abundante em razão do clima; o câmbio estável que influencia a cotação de vários produtos com preços formados no mercado internacional e o avanço menor da renda do brasileiro neste ano, o que impede grandes reajustes.

“Imaginávamos que a alimentação neste ano ia acelerar um pouco, mas os sinais mais recentes mostram que ela será mais modesta”, diz Romão. Ele começou o ano prevendo uma alta entre 4 e 4,5% nos preços dos alimentos no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação que apura o custo de vida para as famílias com renda de até 40 salários mínimos. Agora ele projeta uma avanço de 2,8%. A alimentação neste ano vai acelerar em relação ao que foi em 2017, quando houve deflação para esse grupo, o que é uma raridade, diz o economista da LCA. “Essa é a boa notícia para as famílias de baixa renda”, conclui.

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