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Referendo desafia 'medo' e 'chantagem', afirma premiê grego

Após votar, Alexis Tsipras disse que eleição que diz 'sim' ou 'não' às condições da UE para negociar dívida é 'celebração da democracia'

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

ATENAS - O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras já votou no referendo deste domingo em que 10 milhões de pessoas devem dizer "sim" ou "não" às condições impostas pela União Europeia à renegociação da dívida e à liberação de novos empréstimos ao país. A votação segue até as 19h (horário local, 13h em Brasília). As primeiras pesquisas de boca de urna devem sair no início da noite na Grécia e o resultado está previsto para a madrugada.

Além de falar com repórteres, Tsipras também divulgou um comunicado oficial afirmando que "hoje é um dia de celebração da democracia". Ao mesmo tempo, ele também tentou passar o seu recado, já que tem feito campanha aberta para que os gregos votem "não" para que o país consiga melhores termos de negociação com os credores.

Primeiro-ministro grego,Alexis Tsipras, vota em Atenas Foto: John Liakos/Intimenews/Reuters

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  "Ninguém pode ignorar a vontade do povo que está buscando viver com dignidade e em seus próprios termos", afirmou o primeiro-ministro depois de votar. "A democracia vai conquistar o medo e a chantagem (...) buscando um caminho adiante", frisou. "Hoje, a democracia conquistará o medo." Durante a semana passada, Tsipras chegou a dizer que a UE chantageava a Grécia.

Ao contrário do que ocorre no Brasil em dias de eleição, o plebiscito grego transcorre tranquilamente. Os militantes de cada lado, que fizeram corpo a corpo pesado ao longo da semana, hoje mal são vistos na rua. Os turistas circulam normalmente pela cidade. Não há papelada espalhada pelo chão e, até o início da tarde, havia poucos relatos de filas nas seções eleitorais. O Estado visitou uma delas, localizada num bairro nobre próximo ao centro de Atenas - um reduto do "sim" às condições da UE.

O fiscal do partido Syriza (o mesmo do primeiro-ministro Alexis Tsipras), Yannis Kastanos, 51 anos, admitiu que não havia muito o que fazer. "Estou aqui para fiscalizar, mas a eleição por aqui está tranquila." E aproveitou para dar sua opinião sobre o que os gregos devem fazer neste domingo: "Acho que é uma questão fácil: será que devemos continuar a ser oprimidos?", disse. 

Yannis Kastanos (esq.) fiscaliza eleição, mas diz que há pouco a fazer Foto: Fernando Scheller/Estadão

 Escolha. Hoje, os gregos estão indo às urnas hoje para responder a uma pergunta sobre as condições para renegociação da dívida e manutenção da ajuda da União Europeia - se consideram os termos justos, devem responder "nai" (sim); se querem exigir um novo pacto, assinalam "oxi" (não). Pode parecer simples. No entanto, por trás da decisão do plebiscito de hoje - o primeiro na Grécia em 41 anos, desde que a população decidiu extinguir a monarquia, em 1974 -, pode estar o futuro do país como membro da União Europeia.

O "sim" e o "não" representam duas apostas distintas no futuro. Aceitar o que a UE propõe significa a continuidade do plano de austeridade financeira implementado durante os últimos cinco anos. Os resultados para a economia e para a população, porém, têm sido desastrosos: desde 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) acumula uma retração de 24% e o desemprego entre os jovens dobrou, chegando a 50%. Apesar disso, quem opta "sim" acredita que, sem o colchão de segurança oferecido pela UE, o desastre deverá ser ainda maior.

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Já o voto no "não" é uma aposta de que a situação não pode ficar pior do que está. De acordo com o primeiro-ministro Alexis Tsipras, a proposta do referendo é mostrar a insatisfação com a intransigência na negociação das dívidas, e não buscar a saída da União Europeia. O objetivo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveis de negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. O plebiscito de hoje foi convocado porque o governo não conseguiu costurar um acordo melhor sozinho.

Caso optem por rejeitar a receita dos credores para a crise, os gregos correm o risco de o recado ser entendido de outra forma: que o país prefere sair do bloco econômico e caminhar com as próprias pernas. Por causa da votação de deste domingo, as negociações com o Eurogrupo sobre a situação financeira da Grécia estão suspensas desde quarta-feira.

A economia grega deteriorou-se ainda mais na última semana. O plebiscito foi anunciado pelo primeiro-ministro no último dia 26 e organizado em poucos dias - o site oficial com as explicações sobre as regras só entrou no ar na última quarta-feira. Diante do iminente calote de uma dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - que acabou se confirmando -, Tsipras determinou o fechamento dos bancos desde a segunda-feira e um limite máximo diário de saques de € 60, expondo a fragilidade do sistema bancário nacional.

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Meio a meio. No meio deste turbilhão, a população está indecisa. As pesquisas, que no início da semana passada mostravam uma vitória do "não", agora mostram uma divisão meio a meio. Diversos institutos de pesquisa mostram que existe um empate técnico. Na maioria dos casos, as pesquisas apontam uma vantagem entre 0,5 e 1 ponto porcentual para o "sim", enquanto um levantamento mostra uma leve dianteira do "não". De qualquer maneira, a margem de erro é de 3 pontos porcentuais.

Numa coisa, no entanto, a maior parte da população parece concordar: é importante permanecer na União Europeia. Um levantamento do instituto Alco mostrou que 74% dos gregos são a favor da permanência no bloco econômico, enquanto 15% dizem que preferem sair e 11% estão indecisos.

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