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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Remando contra a maré

A pressão no País para que o Banco Central siga cortando os juros é grande

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Atualização:

Mesmo sofrendo com baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ou até com recessão, as maiores economias emergentes podem ser forçadas a adotar políticas monetárias mais restritivas do que se esperava antes da eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos.

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A pressão virá pela valorização do dólar frente às principais moedas internacionais, dada a expectativa de que Trump adotará estímulos fiscais, dando maior gás ao crescimento da economia americana, o que alimentaria uma inflação mais alta e, por tabela, juros mais elevados. Isso deflagraria o chamado efeito “aspirador de pó”, sugando de volta para os Estados Unidos os dólares investidos em outros países e deixando a moeda americana mais cara.

No Chile, o banco central manteve os juros inalterados na semana passada, apesar de a inflação estar perdendo fôlego, desacelerando para uma taxa anualizada de 2,8% em outubro, abaixo da meta de 3%. “A volatilidade dos mercados financeiros aumentou depois das eleições nos Estados Unidos", justificou o BC chileno. O México elevou os juros em 0,50 ponto porcentual para lidar com a pressão inflacionária causada pela forte desvalorização do peso depois da vitória de Trump. Os bancos centrais da Turquia, África do Sul e Colômbia se reúnem nesta semana. Na melhor das hipóteses, esses três países devem manter os juros parados, mas não há quem descarte até um aperto monetário. Embora a atividade econômica esteja mais fraca do que o esperado, a recente depreciação de suas moedas deixou menos espaço para corte de juros.

Para 2017 em diante, o cenário para a política monetária dos países emergentes seguirá desafiador, em razão do que se espera para a economia, a inflação e os juros nos Estados Unidos. O banco JP Morgan estima que Trump irá promover um corte de impostos de US$ 200 bilhões, o que adicionaria 0,4 ponto porcentual ao PIB americano ao fim de 2018. Os economistas do banco também preveem um pacote de investimento em infraestrutura de US$ 150 bilhões, acrescentando 1 ponto porcentual ao PIB. Já o banco Goldman Sachs aposta que uma provável reforma tributária a ser proposta pelo republicano incentive as empresas americanas a repatriarem US$ 200 bilhões em dinheiro hoje estacionado em aplicações no exterior. Diante de tantos estímulos esperados, o banco francês Société Générale elevou a projeção para o crescimento do PIB americano de 1% para 2,1% em 2018 e de 0,2% para 1,2% em 2019. Não à toa, a aposta de vários analistas passou a ser de aceleração da alta de juros pelo Federal Reserve (Fed). O Goldman Sachs projeta uma alta de 1 ponto porcentual nos juros ao longo de 2017.

Se, por um lado, uma mudança na política econômica no governo Trump deve dar um impulso ao crescimento da maior economia do mundo, de outro o efeito de curto prazo para os mercados emergentes tende a ser mais negativo do que positivo. Primeiro, porque um potencial aumento esperado das importações americanas – caso haja um maior aquecimento da economia – seria neutralizado em parte pela perspectiva de uma política protecionista, limitando compras de bens e serviços de países emergentes. Depois, porque juros americanos mais altos, levando a um dólar mais caro, deixariam as condições financeiras mais adversas para os emergentes.

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Assim, quais bancos centrais de países emergentes vão administrar o risco Trump corretamente? O México, que se antecipou e elevou os juros? O Chile, que não cortou sua taxa básica apesar da inflação cedendo?

No Brasil, os analistas esperam um corte de 0,25 ponto da taxa Selic, hoje em 14% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 29 e 30 deste mês. A pressão para seguir reduzindo os juros é grande: o País ainda está em recessão, com mais de 12 milhões de desempregados. Se o dólar não voltar a disparar frente ao real, o BC brasileiro poderá remar contra a corrente de outros emergentes.

É COLUNISTA DO BROADCAST