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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Reviravolta

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Nas suas três primeiras semanas de governo, o presidente Mauricio Macri vai promovendo radical transformação da economia argentina, que vinha prostrada depois de 12 anos de políticas populistas perpetradas pelo casal Kirchner. Nada será como antes. Falta saber como serão enfrentados os grandes problemas que virão a galope.

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Macri começou por passar sinais com o objetivo de recuperar a confiança. A primeira das decisões-chave foi a redução a zero do confisco (retenciones) praticado nas exportações de grãos e de carne. Ficou apenas o imposto de exportação de 30% sobre a soja (antes era de 35%). Nesse caso, o exportador era tungado duas vezes. Primeira, por ter de pagar esse imposto. E, segunda, por receber pelos seus produtos vendidos ao exterior menos pesos por dólar, porque o câmbio oficial se manteve achatado em torno de 9 pesos por dólar, enquanto o câmbio paralelo (blue) pagava 14 pesos por dólar. 

O imposto sobre exportações tinha por objetivo reduzir os preços praticados ao consumidor interno, dentro da política populista cujo objetivo era comprar o apoio da população.

O desestímulo ao produtor provocado por esse confisco reduziu os investimentos e, portanto, também a produção. O presidente Macri conta com um ambiente externo favorável para essa operação porque os preços internacionais das commodities estão achatados. Por esse lado, a alta imediata ao consumidor tende a ser moderada.

Em seguida, Macri promoveu a descompressão do câmbio. Fora de condições excepcionais, quase todas elas sujeitas à autorização, como era o caso das importações, o cidadão argentino não conseguia comprar moeda estrangeira no câmbio oficial. A liberalização do câmbio esvaziou o blue, mas atirou as cotações para a altura dos 13 pesos por dólar, nível em que fechou o mercado na última quarta-feira (veja o gráfico).

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Como a Argentina enfrenta uma brutal crise cambial (escassez de moeda estrangeira), para que não acontecesse nova fuga de dólares, a liberação só foi possível graças a novas circunstâncias. Tanto o fim das retenciones como a liberação do câmbio promoveram desova de estoques de alimentos, aumento das exportações e, portanto, da entrada de dólares. Também se espera novo afluxo de capitais tanto de estrangeiros, que contam agora com uma política econômica mais confiável, como dos próprios argentinos que mantinham depósitos no exterior.

O maior desafio agora é enfrentar a inflação que pode saltar dos 28% ao ano para alguma coisa próxima dos 40%, seja porque o fim das retenciones aumentou o preço dos alimentos antes subsidiados, seja porque a alta do dólar provocou alta de preços dos produtos importados. 

As pressões por brutais aumentos de salários e aposentadorias deverão começar. Até lá, o governo Macri terá de montar as condições políticas para enfrentá-las. Para equilibrar as contas públicas que apontam para um rombo de 4% do PIB, espera por um aumento da produção, que levará a mais arrecadação e ao aumento de vagas de trabalho. Esse conserto não será nada fácil, como de resto não é em lugar nenhum do mundo.

Enfim, o governo Macri começa com outro astral. A política econômica ensaia um voo em direção à normalidade, aos investimentos, à maior transparência e à regularização das relações do governo com os credores externos.

CONFIRA

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  Foto: Infográficos|Estadão

Este foi o efeito da liberalização do câmbio da Argentina pelo governo Macri. Com o fim do “cepo”, as restrições às compras, as cotações do câmbio oficial se aproximaram das cotações do câmbio paralelo (blue).

Simi em lugar das Djai

Quarta-feira, o governo Macri avançou na normalização das importações. Substituiu o mecanismo de licenças prévias que na prática bloqueavam as importações, as Djai, por novo sistema, mais flexível, agora denominado Simi. As licenças prévias continuam, mas o governo está obrigado a dar resposta em dez dias.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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