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Revisão no modelo de ferrovias trava uso da Norte-Sul

Trecho de 855 Km inaugurado por Dilma Rousseff há um ano está sendo coberto pelo mato por falta de utilização

Foto do author André Borges
Por André Borges e BRASÍLIA
Atualização:

O desperdício de recursos que vê no transporte pelas águas também corre solto pelos trilhos. Há um ano em meio, a presidente Dilma Rousseff fez um passeio simbólico em uma locomotiva levada até a Ferrovia Norte-Sul para inaugurar um trecho de 855 km da malha, entre as cidades de Palmas (TO) e Anápolis (GO).

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Do dia em que Dilma passeou no trecho até hoje, apenas um único trem de carga cruzou por ali, carregando minério de ferro na cidade de Gurupi (TO). No mais, a malha foi acessada como atalho para que 18 locomotivas da empresa de logística VLI chegassem até o trecho superior da Norte-Sul, onde a empresa opera, entre as cidades de Palmas e Açailândia (MA).

Segundo uma fonte que atua na gestão da Norte-Sul, diversos trechos da ferrovia já estão sendo cobertos pelo mato e há pontos em que a erosão do solo começa a prejudicar a segurança. A Valec, estatal federal responsável pela ferrovia, alega que tem realizado intervenções pontuais no traçado, mas o fato é que parte dos trabalhos de manutenção só vai ocorrer, de fato, quando se souber que algum trem passará por ali.

Há expectativas de que, ainda neste fim de ano, o trecho passe a ser parcialmente usado para transporte de algumas cargas da VLI. O funcionamento efetivo desse traçado da Norte-Sul, no entanto, ainda depende das definições sobre qual será, de uma vez por todas, o modelo de exploração comercial e de concessão da ferrovia.

Outro modelo. Depois de quatro anos de discussões para montar um modelo aberto e concorrencial da utilização da malha, o governo decidiu jogar tudo fora e voltar à tradicional concessão por monopólio, onde um único operador assume a malha e, se sobrar espaço e tempo nos trilhos, abre a ferrovia para outras empresas.

Ocorre que, agora, a concessão desse trecho pronto e feito 100% com dinheiro público está condicionada à construção de mais um traçado da ferrovia no extremo Norte do País, ligando Açailândia ao porto de Barcarena (PA). São 500 km de ferrovia em solo amazônico, em mata fechada e longe de estradas, o que dificulta as operações. São tantas as dificuldades desse trecho que o próprio governo, que originalmente queria estrear seu pacote de concessões com a oferta desse empreendimento, logo desistiu da ideia, porque não encontrou interessados.

Sem uso, o que poderia estaria estar gerando receita transforma-se num fardo que ajuda a pressionar ainda mais o caixa já combalido da Valec. Até setembro, segundo informações do presidente da Valec, Mário Rodrigues Júnior, a Valec acumulava R$ 600 milhões em dívidas com fornecedores.

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A falta de recursos obrigou a empresa a se concentrar em obras de manutenção e reparos da estrutura que já existe. A falta de dinheiro obrigou a empresa a adiar a compra de trilhos da China que adquiriu para tocar outro projeto, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia, além de ver sua força de trabalho cair de 5,6 mil para 2,9 mil funcionários, em todo o traçado da malha baiana.

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