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Revolução thatcherista

Arábia pensa em fazer um IPO da Aramco, talvez a empresa de valor mais elevado do mundo

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Por Redação
Atualização:

A Arábia Saudita cogita abrir o capital da Saudi Aramco, estatal que é a maior produtora de petróleo do mundo e quase com certeza a empresa de valor mais elevado do planeta. O príncipe Mohammed bin Salman, segundo homem na linha de sucessão do reino saudita e homem forte por trás do trono de seu pai, o rei Salman, revelou a The Economist que em poucos meses as autoridades do país devem chegar a uma decisão sobre o assunto. “Pessoalmente, estou entusiasmado com esse passo”, disse ele. “Acho que atende aos interesses do mercado saudita e também aos interesses da Aramco.”

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A ideia de lançar ações da empresa em bolsa é aventada num momento em que a Arábia Saudita sofre os efeitos do colapso nos preços do petróleo, atualmente abaixo de US$ 35 o barril. Seu anúncio também ocorre em concomitância com o agravamento das tensões nas relações com o arquirrival Irã, em decorrência da execução do clérigo saudita Nimr Baqr al-Nimr, no início deste mês. Mas é apenas uma das medidas que as autoridades de Riad estudam incluir num plano destinado a reequilibrar o orçamento e abrir as portas da fechada economia do país.

As declarações foram feitas na primeira entrevista oficial do príncipe Mohammed, concedida na segunda-feira, durante a qual ele discorreu sobre vários assuntos, da geopolítica da região aos esforços que o governo saudita vem envidando com o intuito de promover reformas econômicas radicais.

Saudi Aramco é a maior produtora de petróleo do mundo Foto: Reuters

O príncipe coordenou recentemente duas reuniões com autoridades de alto escalão para discutir a possibilidade de abrir o capital da Saudi Aramco. Fontes do governo saudita dizem que, num primeiro momento, as alternativas estudadas vão do lançamento de ações de algumas petroquímicas e outras subsidiárias do downstream petrolífero (atividades de transporte, distribuição e comercialização dos derivados de petróleo) à venda de ações da própria holding, que inclui a produção de petróleo propriamente dita.

Segundo as autoridades sauditas, a Saudi Aramco vale “trilhões de dólares”, mas a estatal é uma das empresas mais fechadas do mundo; não revela dados sobre suas receitas e oferece acesso apenas limitado a informações sobre suas reservas de hidrocarbonetos.

Na opinião do príncipe Mohammed, a abertura de capital contribuiria para que a companhia se tornasse mais transparente. Diplomatas dizem que já há investidores sendo sondados. Fala-se em lançar, inicialmente, parte da companhia na Bolsa de Riad – representando, talvez, 5% da empresa; porcentual que poderia aumentar com o tempo, embora o reino não pense em abrir mão do controle da empresa.

Ideia de lançar ações na bolsa vem quando o país sofre com a queda do preço do petróleo

A parte de upstream do negócio (atividades de exploração, perfuração e produção) é a que mais interesse despertaria entre os investidores. Com 261 bilhões de barris, as reservas de hidrocarbonetos declaradas da Saudi Aramco são mais de dez vezes superiores às da ExxonMobil, maior empresa privada do setor de petróleo do mundo. A Saudi Aramco também opera com um dos custos mais baixos do setor, graças a condições geológicas extremamente favoráveis à produção de petróleo.

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Falando sobre o Irã, o príncipe Mohammed defendeu a decisão tomada pela Arábia Saudita no último domingo, quando o país suspendeu as relações diplomáticas com a potência rival – depois que sua embaixada em Teerã foi incendiada por manifestantes que protestavam contra a execução de Nimr. O príncipe negou a possibilidade de um conflito armado entre os dois países. “Uma guerra entre Arábia Saudita e Irã seria o início de uma catástrofe de enormes proporções na região”, disse ele. “É claro que não permitiremos que isso aconteça.” Ontem, porém, o Irã acusou os sauditas de lançarem ataques aéreos contra sua embaixada em Sanaa, capital do Iêmen.

Depois que, há pouco mais de um ano, o príncipe Mohammed foi posto no comando do Ministério da Defesa e do Conselho para Assuntos de Economia e Desenvolvimento, as investidas geopolíticas do país são acompanhadas, internamente, da formulação de planos voltados para a implementação de grandes transformações econômicas. Esses planos incluem a eliminação gradual dos subsídios sobre energia elétrica, água e habitação; o estímulo à participação do setor privado nas áreas de educação e saúde; a introdução de um imposto sobre valor agregado para bens de consumo supérfluos; e a possibilidade de privatização completa ou parcial de mais de duas dezenas de órgãos estatais, incluindo a companhia aérea e as empresas de telecomunicações do país.

Indagado se a Arábia Saudita estava passando por uma “revolução thatcherista”, o príncipe Mohammed respondeu: “É bem provável que sim”.

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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