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Salário chinês pode ultrapassar brasileiro até 2016

Aumentos reais no Brasil perdem força e não conseguem acompanhar crescimento da renda média no mundo

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - Os salários no Brasil perdem força, não conseguem acompanhar o ritmo do aumento médio da renda no mundo e, em breve, um salário na China já será superior ao do brasileiro.

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Os dado são da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, hoje, publica seu informe anual sobre salários e indica que a tendência é de que o crescimento no Brasil nos próximos anos continue baixo. "Os salários reais no Brasil desaceleraram em 2013", alertou o documento.

Em todo o planeta, a estagnação da economia foi traduzida em uma expansão menor da renda. Nos países ricos, os salários ficaram paralisados em 2013 e praticamente todo o crescimento ocorreu graças aos emergentes. Na média, a alta foi de 2%, abaixo dos 3% registrados antes de 2008.

Mas no caso do Brasil, o freio foi maior e também acompanhou o fraco desempenho do PIB. Em 2012, os salários no País tinham crescimento em 4,1%. Em 2013, porém, a expansão foi de apenas 1,8%, quatro vezes menos que na China e bem inferior à expansão de 5,9% entre os emergentes.

A OIT aponta que, desde 2003, o Brasil foi um dos países que mais conseguiu reduzir a desigualdade social e, em grande parte, isso foi resultado do aumento dos salários mínimos e da taxa de pessoas empregadas. 72% da redução da desigualdade foi obtida justamente graças a essas políticas.

Ao contrário do restante das economias mundiais, o Brasil registrou um crescimento da produtividade do trabalhador inferior aos salários. Enquanto o crescimento do salário real médio do brasileiro foi de 30% entre 2003 e 2013, o crescimento da produtividade foi de apenas 16% neste mesmo período.

Nos países ricos, a taxa de produtividade aumentou em 17%, contra uma elevação de apenas 6% nos salários.

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Mas o freio na economia brasileira já começou a ser sentida nos salários. Em termos nominais, o salário médio no País era de R$ 861,00 em 2003. Hoje, ele chegou a R$ 1,9 mil. Mas entre 2012 e 2013, a elevação real não foi de mais de R$ 35,00.

O resultado do freio no Brasil foi uma desaceleração forte em toda a média da América Latina que, em 2013, viu os salários aumentarem em apenas 0,8%, uma das mais baixas do mundo.

Para Sandra Polanski, vice-diretora-geral da OIT, o Brasil "fez importantes avanços nos últimos dez anos". "É normal que possa haver uma desaceleração", disse. Segundo a OIT, o Brasil foi um dos países que mais conseguiu reduzir a desigualdade em dez anos. Isso graças a um aumento dos salários da porção mais pobre da população acima da média dos mais ricos.

Enquanto o Brasil sofre uma desaceleração, o aumento dos salários na China não dá sinais de perder força. Em 2013, metade da alta mundial da renda ocorreu exclusivamente por conta da elevação dos pagamentos médios na economia chinesa. Por mais de 15 anos, a China tem registrado um aumento de mais de 10%.

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Em yuan, o salário médio chinês passou de 498 em 1996 para 1,1 mil em 2003. Hoje, ele está em 4,2 mil, cerca de US$ 613,00. Em reais, isso significaria R$ 1,5 mil. No atual ritmo da expansão dos salários chineses, eles poderão ultrapassar a média do Brasil entre o final de 2015 e 2016.

Convergência. Outra constatação da OIT é a convergência cada vez maior dos salários de trabalhadores entre países ricos e emergentes. A disparidade ainda existe e é grande. Mas enquanto os salários aumentaram em 143% na Ásia desde 1999 e 30% no Brasil desde 2003, a elevação entre os países ricos desde o final dos anos 90 foi de apenas 6%.

Hoje, o salário médio em países ricos é apenas três vezes o que existe nos emergentes. "Isso é uma diferença radical à realidade que existia no mundo há apenas uma geração", indicou Polanski.

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Mas não foi apenas os salários nos países emergentes que subiram. A crise na Europa desde 2008 afetou de forma severa a renda média do cidadão. Na Grécia, os salários reais foram reduzidos em 25% desde 2008, contra uma queda de 8% no Reino Unido, 6% na Itália e 4% na Espanha. Nos EUA, a alta foi de apenas 1% em cinco anos.

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