Guedes anuncia 'debandada' com saída de Salim Mattar e Paulo Uebel da Economia

Com saída de secretários especiais, equipe já perdeu cinco nomes e os dois eram os que mais defendiam o discurso liberal

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Por Adriana Fernandes e Camila Turtelli
4 min de leitura

BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes perdeu nesta terça-feira, 11, dois integrantes da sua equipe que mais tinham a marca da agenda liberal que prometeu implementar na economia no início do governo. 

Os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pediram demissão. O empresário, um dos fundadores da Localiza, Mattar, e o economista Uebel saem após um ano e meio de dificuldades para implementar as medidas para quais foram convidados a integrar o governo Bolsonaro: as privatizações e a reforma administrativa, duas das quatro principais agendas de Guedes, além das reformas da Previdência e tributária.

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Ministro confirmou a debandada da equipe econômica, mas disse que governo vai avançar com as reformas. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Auxiliares de Guedes reconhecem que esse é um dos momentos mais difíceis para ele desde o início do governo e temem que ele também possa pedir demissão.

“Se me perguntarem se houve uma debandada hoje, houve”, disse Guedes, depois de se reunir com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo o ministro, apesar das demissões, o governo vai “avançar com as reformas”. “Nossa reação à debandada que ocorreu vai ser avançar com as reformas”, afirmou. 

Segundo Guedes, Mattar saiu porque está insatisfeito com o ritmo das privatizações. “O establishment não deixa. Não avançamos nas privatizações com a mesma velocidade do que na Previdência”, disse Guedes.

Já Uebel pediu demissão por discordar da estratégia do governo federal de deixar parada a reforma administrativa, que faz uma reformulação do RH do Estado. Guedes disse que o “timing” da reforma, engavetada pelo presidente Jair Bolsonaro por mexer com o funcionalismo público, é “político”.

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Salim deixou o governo por estar insatisfeito com o ritmo das privatizações no governo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Com as duas saídas de hoje, a equipe econômica soma agora cinco baixas. Nas últimas semanas, Mansueto Almeida já havia deixado o Tesouro Nacional, Caio Megale deixou a diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda e Rubem Novaes anunciou que deixará a presidência do Banco do Brasil

A queda de Mattar e Uebel, considerados liberais “puro sangue” do governo, foi interpretada com uma derrota da agenda liberal de Guedes em troca da reeleição do presidente Bolsonaro, que se aproximou de lideranças políticas contrárias à reforma administrativa e à venda das estatais.

Conflito

Durante a campanha eleitoral, o conflito do presidente, um político com viés desenvolvimentista, e a agenda liberal do seu superministro Paulo Guedes, o seu “posto Ipiranga”, foi previsto por economistas e cientistas políticos. A crise da pandemia de covid-19 acirrou os conflitos entre os dois grupos e antecipou a disputa por conta dos planos da retomada econômica, segundo admitem fontes do governo. 

Mattar, um dos grandes financiadores do desenvolvimento do movimento liberal no País, nos últimos anos, vinha manifestando desconforto nos bastidores com as resistências em avançar nas privatizações, entre elas, dos Correios e estatais ligados à área de infraestrutura. Há duas semanas, diante de notícias de que deixaria o governo, chegou a disparar mensagens pelo celular e nas redes sociais que continuava animado com o trabalho em Brasília. Ele chegou ao governo com um dos nomes mais festejados da equipe de Guedes.

Uebel pediu demissão por discordar da estratégia de deixar a reforma administrativa parada. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Com Mattar, nenhuma estatal federal de controle direto que foi privatizada ou liquidada. Pelo contrário. O governo Bolsonaro criou uma nova estatal, a NAV, responsável pela navegação aérea. O Ministério da Economia cita como realizações na área a venda de subsidiárias por estatais-mãe, como a Petrobrás, o que é tecnicamente considerado um desinvestimento, cuja decisão e todo o processo não passa pelo governo.

Já o economista Paulo Uebel não resistiu ao fracasso da reforma administrativa, que foi engavetada pelo presidente. A gota d’água foi a notícia de que o presidente deixaria a sua discussão para 2021, no mesmo dia que o Instituto Millenium, do qual foi um dos dirigentes, iniciou a campanha “Destrava” para que ela voltasse à agenda ainda neste segundo semestre.

“Trocaram a agenda liberal pela eleitoral”, avaliou o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). Segundo ele, a saída dos dois secretários é um sinal de que a agenda liberal perdeu força.

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