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Samarco não vai retomar as operações neste ano

Empresa ainda depende de licenças para voltar a operar após a tragédia ambiental

Por Mariana Durão
Atualização:

RIO - A retomada das operações da Samarco Mineração em 2017 está descartada. A empresa, joint venture da Vale e da BHP Billiton, confirmou ao Estadão/Broadcast que a partir do momento em que obtiver a licença ambiental para o uso da cava de Alegria Sul depósito de rejeitos ainda levará de cinco a seis meses fazendo obras de adequação da estrutura. Como o aval das autoridades ambientais ainda está pendente, não haverá tempo hábil para a retomada este ano.

Rompimento da barragem da Samarco arrasou o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) Foto: Márcio Fernandes/Estadão

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O Estadão/Broadcast apurou que na melhor das hipóteses a volta das atividades da pelotizadora ocorrerá no fim de 2018. A empresa diz que não pode precisar uma data, mas informou que quando isso ocorrer, a operação não voltará a funcionar a plena carga. O rompimento da barragem de Fundão, que deixou o município de Mariana e adjacências cobertos de lama, completará dois anos em novembro. Desde então a produção na unidade está paralisada.

Em abril o então presidente da Vale, Murilo Ferreira, afirmou em teleconferência sobre os resultados da mineradora que continuava acreditando que a operação da Samarco seria retomada no segundo semestre deste ano.

Para a retomada da Samarco são necessárias duas licenças ambientais: a da cava de Alegria Sul e o Licenciamento Operacional Corretivo (LOC) das estruturas existentes no complexo de Germano, em Mariana. O uso da cava é considerado pela Samarco uma solução mais segura para a disposição de rejeitos, assim como seu empilhamento após a filtragem e seu aproveitamento na fabricação de outros produtos. A empresa pretende deixar de lado as barragens. O processo de licenciamento ambiental de Alegria Sul já está em curso e teve audiências públicas realizadas em dezembro do ano passado nas cidades de Ouro Preto e Mariana.

Em outubro de 2016 a Samarco teve todas as licenças do complexo de Germano suspensas. Até então, elas estavam apenas embargadas. Por conta disso, a empresa foi convocada a realizar também o licenciamento corretivo das estruturas existentes no complexo. A revisão de todas as licenças foi solicitado pelo Estado de Minas, mas a Samarco ainda não entregou sequer o estudo de impacto ambiental à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

Entrave. O maior entrave no caso do complexo de Germano é a falta de um acordo com a prefeitura de Santa Bárbara, Minas Gerais, município que a empresa capta água, desde 2014, para parte de seu processo produtivo. Sem o sinal verde do município não há como viabilizar o abastecimento e a produção. Para dar início ao licenciamento operacional corretivo, a Samarco precisa apresentar cartas de conformidade dos municípios da sua área de influência direta. De acordo com a empresa, as prefeituras de Mariana, Ouro Preto, Catas Altas e Matipó já concederam as respectivas cartas. A exceção é Santa Bárbara.

“Embora não haja qualquer alteração no sistema de captação, que já operava com todas as licenças e outorgas necessárias, a Prefeitura de Santa Bárbara precisa declarar se o empreendimento está, ou não, de acordo com a Lei Municipal de Uso e Ocupação do Solo”, explica o presidente da Samarco, Roberto Carvalho, em artigo publicado no site da companhia em maio. No dia 30 de junho, entretanto, o município publicou um documento em que afirma que o empreendimento da Samarco é não-conforme à área de recuperação ambiental de Santa Bárbara.

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Um estudo da Tendências afirma que a continuidade da paralisação da Samarco põe em risco 20 mil vagas diretas e indiretas de emprego em 2017. Pelos cálculos da consultoria, o atraso na retomada das atividades da empresa implica na perda de R$ 4,4 bilhões de faturamento direto e indireto na cadeia de produção da companhia este ano – valor correspondente a 1% do PIB mineiro -, e na perda de R$ 989 milhões em arrecadação para o governo. Desde janeiro os contratos de 800 empregados da Samarco estão suspensos, em regime de layoff, com previsão de término em 31 de outubro.

PARA LEMBRAR Em 5 de novembro de 2015 o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco Mineração, sociedade entre Vale e BHP Billiton, matou 19 pessoas e espalhou um mar de lama ao longo de 650 Km de extensão. O impacto do rompimento da barragem, entre a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves e o município de Regência (ES), se concentrou nos rios. Municípios como Governador Valadares (MG), e Colatina (ES) ficaram sem água. Os rejeitos de mineração seguiram pelo Rio Doce e chegaram até o mar, danificando o ecossistema. Em março de 2106 , a Samarco, a BHP e a Vale firmaram um acordo com a União e os estados de Minas e Espírito Santo, para o pagamento de R$ 20 bilhões como compensação por danos sociais, ambientais e econômicos provocados pelo desastre.Em novembro de 2016, após denúncia d0 Ministério Público Federal (MPF), a Justiça de Minas Gerais abriu ação contra 21 integrantes da cúpula da Samarco e representantes da Vale e da BHP Billiton por homicídio qualificado com dolo eventual – quando se assume o risco de cometer o crime. A Samarco refuta as acusações.

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