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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|São as incertezas, senhores

A recuperação da confiança na economia se baseia na aposta de que pelo menos alguma coisa da reforma da Previdência viria antes das eleições

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Atualização:

O País está imerso em indefinições e isso ameaça, outra vez, empacar a vida econômica.

Uma dessas indefinições tem a ver com o tratamento a ser dado ao rombo crescente da Previdência Social (veja gráfico abaixo). Até quem pensa com apenas dois neurônios sabe que à frente há um abismo e, depois do abismo, o imponderável.

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Ou sai imediatamente a reforma ou ficará mais perto o dia em que o Brasil inteiro se transformará num gigantesco Rio de Janeiro, onde os salários estão atrasados, o 13.º deste ano ficará para quando der e as aposentadorias, se chegarem, chegarão no pinga-pinga – e, obviamente, num cenário em que a bandidagem ganhará mais campo aberto.

O astral da economia tinha melhorado porque, embora lenta e insegura, a recuperação vinha dando bons sinais. Mas essa recuperação da confiança se baseia numa aposta: na de que pelo menos alguma coisa da reforma da Previdência viria antes das eleições. Não seria a virada definitiva do jogo hoje perdedor; seria apenas o primeiro passo de muitos que ainda terão de ser dados para reequilibrar as finanças da Previdência Social.

E foi com base nessa aposta que os investimentos reapareceram, que a Bolsa avançou em setembro e outubro e que outras aplicações de risco passaram a ser consideradas viáveis nos mercados, não só no financeiro.

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Mas bastou que o presidente da República admitisse publicamente que a reforma poderia ficar para depois, para que fosse colocado em dúvida o sucesso da aposta sobre a qual se apoiou boa parte da retomada da confiança e para que o azedume se reinstalasse em todos os setores da economia.

Ainda há aqueles que não acreditam na aritmética. São os que se aferram a pretensos direitos adquiridos, aqueles para os quais pagamento de aposentadoria é cláusula pétrea. Não é, senhoras e senhores. Não há mais milagres da multiplicação dos pães e dos peixes. É a receita que define a despesa, e não o contrário. Nas condições atuais, não há pagamento futuro garantido de aposentadorias e pensões. 

Quanto ao projeto de reforma da Previdência propriamente dita, estamos diante de duas hipóteses. Ou se aprova uma parcela das propostas em discussão, talvez apenas a imposição de idade mínima para aposentadoria; ou não se aprova nada. No primeiro caso, será um passo insuficiente para devolver a confiança no futuro das contas públicas, mas, pelo menos, será um passo na direção correta.

Se a reforma for rejeitada ou se o projeto continuar indefinidamente encalhado em Brasília, o risco de novo desastre será muito alto. O País ficará sujeito a aumento de impostos ou, simplesmente, ao calote da dívida pública, algo que, antes mesmo das agências de classificação de risco, o mercado financeiro se encarregará de prever.

Para quem tem um dinheiro aplicado no mercado financeiro, este cenário confuso imporá novas incertezas. A derrubada da inflação e dos juros empurra o aplicador para as opções de risco e, no entanto, diante desse céu exposto a turbulências, como se conformar com retorno cada vez mais baixo das aplicações financeiras? 

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CONFIRA:

» Aos solavancos O crescimento das vendas de veículos novos foi de 1,8% em outubro sobre setembro e de 27,6% em comparação com outubro do ano passado. De um mês para o outro, as variações têm sido díspares, mas essas comparações perderam significado porque são calculadas sobre as bases relativamente baixas de 2016, ano de fundo do poço. O importante aí é que se leve em conta que a recuperação das vendas têm sido consistentes, o que demonstra recuperação do poder aquisitivo do consumidor.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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