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Seca e fartura: os extremos no São Francisco e no Rio Grande

Mananciais que abastecem reservatórios de usinas e garantem água para a população vivem situações opostas

Por René Moreira
Atualização:

FRANCA - Eles nascem em Minas Gerais e somam mais de 4 mil quilômetros de extensão, abastecendo reservatórios de usinas e garantindo peixes, turismo e água para muita gente. Mas o Rio São Francisco e o Rio Grande, importantes mananciais do País, enfrentam situações opostas.

Enquanto o Velho Chico tem pontos com baixo nível de água no Nordeste, o Rio Grande se recupera da crise hídrica dos últimos dois anos no Sudeste e hoje é motivo de alegria para muita gente em seu caminho, que inclui parte da divisa de Minas e São Paulo.

Luiz Pereira, caseiro de um clube no Rio das Velhas, que deságua no Rio São Francisco Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Com 1.360 quilômetros, o rio abastece 11 reservatórios, mantém o lago de Furnas e é responsável por 25,38% da energia elétrica produzida no Sudeste e Centro-Oeste. Graças às chuvas no norte paulista e sul de Minas, suas usinas estão operando com bom nível, caso da Mascarenhas de Moraes, que está com mais de 70% da capacidade, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS).

Outros setores também vivem momento de alívio. “Agora está bem melhor, dá para sobreviver”, diz o pescador Airton Soares, de Alfenas (MG). Ele conta que em 2014 teve de trabalhar na construção civil porque o lago de Furnas estava muito baixo e os peixes eram raros.

Com a seca a partir daquele ano a piscicultura na região teve prejuízo de R$ 5 milhões, segundo a Associação de Piscicultores. Com o reservatório cheio, a expectativa é fechar a safra em 2017 com 800 toneladas de peixe, o dobro da anterior.

O turismo também se recupera. “O movimento caiu muito quando a água estava baixa. Aqui perto o pessoal chegou a atravessar o rio a pé”, diz César Leandro de Oliveira, funcionário de um restaurante em São João Batista do Glória (MG).

Banhada pelo Rio Grande, a cidade viu a água subir, o rio voltar a ser navegável e os negócios prosperarem com a presença do turista. “É bonito ver o rio cheio”, disse o professor Éder Luis da Silva, que saiu de Itaú de Minas (MG) para almoçar em um dos muitos restaurantes e bares às margens da água.

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Velho Chico. Em situação oposta, o São Francisco atravessa uma de suas piores fases. O rio percorre mais de 2.800 quilômetros a partir da nascente em Minas, cruza a Bahia e passa por Pernambuco, Alagoas e Sergipe, indo desaguar no Atlântico. Abastece cinco hidrelétricas e é navegável acima de Pirapora (MG).

Municípios de Sergipe reclamam que poderão ficar sem água depois que o São Francisco baixou a um nível inédito, o que levou a Agência Nacional de Águas (ANA) a reduzir o volume liberado pelas comportas de Sobradinho (BA).

Segundo o ONS, o São Francisco responde por 96,86% da capacidade de produção de energia do Nordeste e a represa de Sobradinho está com menos de 7% da capacidade. Três Marias opera com 14% da capacidade e a de Itaparica, com 15%.