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Segundo resgate não resolverá problemas da Grécia, dizem analistas

Empréstimo de 130 bilhões de euros para os próximos dois anos foi concedido na madrugada desta terça-feira

Por Marcia Bizzotto
Atualização:

O novo empréstimo concedido na madrugada desta terça-feira à Grécia pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudará o país a evitar um calote dentro de um mês, mas não resolverá seus problemas a longo prazo, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil. "Claro que esse resgate não resolverá o problema da Grécia, mas será uma ajuda imensa durante os próximos meses", opina Karel Lanoo, diretor executivo do Centro para Estudos de Política Europeia. O resgate, de 130 bilhões de euros para os próximos dois anos, permitirá ao governo grego pagar 14,5 bilhões de euros em dívidas que vencem em 20 de março. Segundo Lanoo, "é impossível saber agora por quanto tempo o país poderá aguentar antes de chegar novamente a um ponto crítico". "Vai depender muito de se o governo vai implementar as medidas de austeridade (combinadas com os credores internacionais) e com que velocidade. A Grécia precisa solucionar problemas acumulados durante anos para recuperar o equilíbrio", afirma. Para Jean Pisani-Ferry, diretor do centro de estudos econômicos Bruegel, com sede em Bruxelas, "está claro agora que levará anos, talvez uma década, para reformar o país e corrigir seus desequilíbrios econômicos". Austeridade As autoridades europeias reclamam que a Grécia passou muitos anos gastando mais do que arrecada e que a situação não mudou com a concessão do primeiro resgate, de 110 bilhões de euros, em maio de 2010. O plano de austeridade imposto pela UE e o FMI em troca da nova ajuda visa recortar o gasto público grego em um valor equivalente ao 1,5% do PIB em 2012, com o objetivo de reduzir a dívida pública dos atuais 160% do PIB para 120,5% em 2020. "Até agora não se fez nada substancial sobre o crescimento. Um programa de ajuste é necessariamente recessionário, mas não precisa impedir a mobilização de ferramentas para a recuperação econômica", critica Pisani-Ferry. No entanto, Lanoo defende que a Grécia "não tem alternativa a receber esse resgate e cumprir as condições" exigidas por seus credores, que incluem redução de salários e aposentadorias, demissão de funcionários públicos, flexibilização do mercado de trabalho e liberalização dos mercados. "Uma quebra ou a saída da zona do euro seria muito pior, seria um desastre para o país. A expectativa (com o atual plano) é de que a redução dos salários e outras reformas tornem o país mais barato e, portanto, mais atraente para as empresas. Isso ajudaria a melhorar a economia a longo prazo", explica. Calote Ao mesmo tempo, ambos analistas concordam que a evolução da situação dependerá, igualmente, de como os investidores privados responderão ao acordo fechado na madrugada desta terça-feira, que inclui o cancelamento de 106 bilhões de euros da dívida grega em mãos do setor bancário. "Essa operação é um calote voluntário. Mesmo se a UE não quer usar esse termo, trata-se de um calote, e a UE e os mercados sabem disso", ressalta Lanoo. Por sua parte, a Comissão Europeia (CE) recorda que a conclusão do segundo resgate para Grécia terá também "efeitos positivos" sobre os demais países vulneráveis da zona do euro, como Portugal, Espanha e Itália. "Portugal e outros países vulneráveis da UE sofrem os impactos das incertezas sobre a resposta global (europeia) à crise e da situação em Grécia. Por isso, a solução de um segundo resgate para Grécia também terá um impacto positivo em todos os países vulneráveis da UE", afirma o porta-voz de Assuntos Econômicos, Amadeu Altafaj.

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