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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Sem data para a virada

A pergunta cuja resposta vale mais de 1 milhão de dólares consiste em saber quando afinal a economia brasileira começará seu processo de recuperação

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Atualização:

A pergunta cuja resposta vale mais de 1 milhão de dólares consiste em saber quando afinal a economia brasileira começará seu processo de recuperação. As pessoas querem saber quando o jogo, hoje contra, virará a favor.

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A presidente Dilma vinha declarando que o ajuste é passageiro e que dentro de pouco tempo - não disse quanto - a inflação será recolocada nos trilhos e que o crescimento voltará, sólido e sustentável.

As autoridades da área econômica garantiam mais ou menos a mesma coisa. Mas tudo ficou pior, os indicadores econômicos não apontam para nenhuma recuperação imediata e o início da retomada vai sendo adiado à medida que o ano avança.

A presidente Dilma Rousseff Foto: Stephen Lam/Reuters

Esqueletos fiscais e os efeitos das pedaladas aparecem todos os dias, o cumprimento da meta fiscal deste ano está cada vez mais improvável, as projeções do PIB encolhem, pouca gente acredita em que a inflação convergirá para a meta de 4,5% ao final de 2016, como insiste o Banco Central, e o mercado de trabalho, medido pelas estatísticas de emprego, está em franca deterioração.

O problema é que não dá para exigir a observância de cronograma de recuperação. Estados Unidos e Europa há quase oito anos tentam deixar a crise para trás e ainda não conseguiram voo de cruzeiro. Com a queda dos preços das commodities e o mercado internacional tão arredio, como o de agora, a volta por cima do Brasil também ficou mais difícil.

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A mola que falta para a arremetida do fundo do poço é o investimento. A Petrobrás, cujos investimentos corresponderam a8% de toda Formação Bruta de Capital Fixo do Brasil em 2014, acaba de cortar em quase 40% seu plano de negócios. As empreiteiras, paralisadas pela Operação Lava Jato, também não conseguem mais se apresentar para o jogo. E, mesmo depois de anunciado com foguetório, o Programa de Investimento em Logística 2015-2018 não consegue decolar.

A presidente Dilma é a primeira a reconhecer que os obstáculos são grandes. Entre eles está a excessiva lentidão das instituições de proteção ambiental em despachar certificados de licenciamento. O que de alentador nesse panorama cinzento se pode dizer é que a recessão não produz apenas estragos. Começa a mostrar resultados positivos. A queda do consumo derrubou em 18,5% as importações do primeiro semestre (em relação ao primeiro semestre de 2014) e contribui com força para que a balança comercial volte a mostrar saldos positivos. E, como ficou apontado nesta Coluna no domingo, a queda do consumo de energia elétrica é o principal fator que afasta o risco de um apagão ou de um racionamento.

Mais cedo ou mais tarde, os tarifaços também mostrarão sua força saneadora. O setor de energia elétrica está em franca recuperação. O mesmo se pode falar do caixa da Petrobrás . Outra consequência positiva do reajuste das tarifas de energia elétrica e de combustíveis é a recuperação da arrecadação dos Estados e municípios, na medida em que a participação desses dois produtos no ICMS é muito importante.

Pode ser pouco. Mas esses sinais têm de ser vistos como os primeiros passos ainda inseguros do paciente que está dispensando a cadeira de rodas.

CONFIRA:

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 Foto: infograficos/estadao

Aí está a evolução da produção industrial nos últimos dois anos.

Futuro comprometidoDepois de três meses de queda seguida, um avanço da produção industrial de 0,6% em maio (ante abril) pode passar a impressão de que a recuperação começou. Mas é prematuraconclusão assim. O dado mais preocupante é o mau desempenho do setor de bens de capital. Cresceu só 0,2% em maio ante abril e caiu 20,6% no acumulado de janeiro a maio (sobre igual período de 2014). Isso indica que o investimento está em retração. Ou seja, a produção futura pode estar comprometida.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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