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Sem espaço, inflação de serviços deve perder fôlego

Para 2016, analistas preveem que ritmo de alta dos preços deve ser o menor em 7 anos

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

O número 15 tem assombrado a rotina do empresário Claudio Belke, proprietário do restaurante Miletto, no centro do Rio. O valor reflete ao mesmo tempo, em termos porcentuais, a queda no movimento de clientes e o aumento nos custos com alimentos, energia elétrica e taxa de água este ano. “Com o movimento menor, tive de pedir adiamento da data de pagamento de aluguel pela primeira vez em nove anos”, conta. A empresa que gere o edifício, também sem muitas alternativas, aceitou o trato.

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Para tentar equilibrar as finanças, Belke já apelou para reformulações no cardápio, demitiu um funcionário e renegociou prazos com fornecedores. Mesmo assim, considera mexer na tabela de preços no segundo semestre para tentar recompor uma parte do que foi perdido.

Só que os empresários do setor já não encontram mais espaço no bolso do consumidor para repassar os custos. Com isso, reajustes modestos devem ser daqui para a frente o mantra do setor, o que deve levar a inflação de serviços em 2016 ao menor resultado em pelo menos sete anos. 

Foco. Claudio Belke diz que, com movimento menor, teve de adiar pagamento do aluguel Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

O ritmo de avanço de preços deve ficar entre 6,5% e 7,0% no ano que vem, nas estimativas de economistas, que admitem até mesmo que a taxa fique abaixo de 6,5%, o que seria o menor resultado desde 2007.

No caso do restaurante Miletto, a alta planejada para os preços dos pratos é de 5%. “Mas vou ter de pensar muito bem o que vou fazer”, afirma Belke, admitindo receio de perder ainda mais clientela. O valor cogitado é bem mais tímido do que o aumento médio de 10,89% verificado na alimentação fora de casa no Rio ao longo dos 12 meses até junho.

Desde a Copa do Mundo, a realidade do restaurante mudou e até a crise da Petrobrás prejudicou, conta o proprietário. Muitas empresas que prestavam serviços para a estatal demitiram ou simplesmente fecharam, o que diminuiu o público do restaurante, que fica próximo à sede da Transpetro, subsidiária de logística da petroleira.

Desemprego. Após quatro anos acima de 8%, o alívio na inflação de serviços virá à custa do emprego e do poder de compra das famílias. “Há uma correlação muito forte, quando mais alto o desemprego, menor é a inflação de serviços”, explica o economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano.

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Em junho, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do País atingiu 6,9%, o maior resultado para o mês desde 2010, e a tendência é subir ainda mais. Além disso, os trabalhadores já perderam 2,1% do seu poder de compra no primeiro semestre em relação ao ano passado.

Um dos reflexos dessa deterioração é que a receita nominal do setor de serviços prestados às famílias (que reúne restaurantes, hotéis, cabeleireiros, entre outros) encolheu 1,4% em maio ante igual mês de 2014 – o primeiro resultado negativo na série, iniciada em 2012. Isso significa que nem a inflação do setor, que é elevada, foi suficiente para impulsionar o faturamento das empresas.

“Os serviços prestados às famílias são bens não essenciais, então são os primeiros a sofrerem um ajuste. As pessoas vão ter de se adaptar a essa nova realidade”, avalia o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. “A questão é quando isso vai se traduzir na inflação. Já começamos a ter alguns indícios de que os empresários não estão conseguindo repassar. O limite já foi alcançado.”

A inflação de serviços já tem mostrado desaceleração e, neste ano, ficará abaixo do IPCA médio pela primeira vez desde 2009. Uma histórica fonte de impulso para a inflação, os serviços têm dado lugar para os preços administrados, que assumiram posição de destaque diante do tarifaço promovido pelo governo no primeiro semestre.

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Apesar disso, economistas consideram o movimento ainda tímido, já que a inflação do setor segue elevada, em alta de 7,90% em 12 meses até junho. Descontando as passagens aéreas, que têm comportamento volátil, o aumento chega a 8,16%, nos cálculos do Besi Brasil. A principal explicação é que aumentos em tarifas de energia elétrica, taxa de água e esgoto e gasolina contaminam os preços de itens como condomínio e alimentação fora de casa.

Deterioração. Será em 2016 que a inflação de serviços vai ceder de vez, reflexo da intensa deterioração no mercado de trabalho. “Esse movimento ainda é muito pontual. A desaceleração de fato na inflação dos serviços será no ano que vem”, diz Serrano.

Especialistas sinalizam que o arrefecimento dos preços no setor é um ponto importante para que o Banco Central consiga entregar o que vem prometendo há meses: uma inflação dentro da meta de 4,5%. “A inflação de serviços vai fazer parte do ajuste. Não passará em branco”, afirma o economista Leonardo França Costa, da Rosenberg Associados.

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