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Sem Petrobrás, leilão de petróleo da ANP vende apenas 14% dos blocos

Resultado é o pior desde 2003, quando foram oferecidos 908 blocos e 101 foram arrematados; ANP reconheceu que resultado ficou 'aquém do desejado'

Por Antonio Pita , e
Atualização:
Povos indígenas protestaram durante o leilão da ANP, na frente deMagda Chambriard, presidente da agência reguladora Foto: Pilar Olivares/Reuters

(Texto atualizado às 16h)

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RIO - Sem a participação da Petrobrás, que não apresentou oferta por nenhum bloco exploratório, a 13ª rodada de concessões de áreas de exploração de petróleo ofertou 266 blocos e apenas 37 blocos (14%) foram arrematados em quatro bacias - Recôncavo, Potiguar, Sergipe-Alagoas e Parnaíba. Esse é o pior resultado já alcançado pela agência desde a 5ª Rodada, realizada em 2003. Naquela data, foram oferecidos 908 blocos e 101 foram arrematados.

O leilão chegou ao fim com um bônus de assinatura no valor de R$ 121,1 milhões - o que corresponde a cerca de 12% do bônus mínimo total em oferta, estimado em R$ 978,77 milhões. 

A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, reconheceu que o resultado final da 13ª rodada ficou "aquém do desejado". Para ela, o cenário de baixas cotações de petróleo e a ausência da Petrobrás contribuíram para a pouca adesão de empresas estrangeiras e de grande porte.

"Esperávamos participação maior de estrangeiras em águas profundas, não tivemos essa participação", afirmou a diretora, em entrevista coletiva sobre os resultados. "A Petrobras é e tem sido grande locomotiva da exploração no País. Empresas estrangeiras querem e pleiteiam parceria com a Petrobras de forma que essa pode ter sido uma das razões para as grandes petroleiras não terem participado. (...) Ter 14% dos blocos (arrematados) é um resultado aquém do desejado", completou Magda.

Para o diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Elói Fernández y Fernández, ainda assim, o leilão foi positivo, porque deu uma indicação para a indústria de que a intenção do governo é dar continuidade às licitações. "A realização do leilão é o principal fator positivo", afirmou. Em sua opinião, a ausência da Petrobras contribuiu para a falta de concorrência, mas foi conjuntural.

A Petrobrás não fez nenhuma oferta em todo o leilão, assim como outras gigantes do setor, como a Shell. A maior parte dos lances foi feito por empresas de pequeno e médio porte. Das dez bacias ofertadas, apenas quatro receberam ofertas das empresas. Das 17 vencedoras, 11 são empresas nacionais.

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A principal bacia produtora do País, Campos não teve nenhuma oferta para os três blocos ofertados. A Bacia do Recôncavo foi amais disputada, com 18 blocos entre 82 ofertados. Em seguida, a Bacia do Parnaíba teve 11 blocos arrematados, entre 22 ofertados. A Bacia Potiguar teve seis blocos arrematados, de um total de 71 oferecidos. Por fim, a Bacia de Sergipe Alagoas teve dois blocos arrematados, entre 10 ofertados.

Com oferta por apenas dois blocos, a Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) foi a empresa com maior investimento unitário na rodada, com R$ 72 milhões destinados exclusivamente à Bacia de Sergipe-Alagoas. A região era considerada das mais promissoras entre as ofertadas, pelos indícios de óleo em águas ultraprofundas, mas não houve disputa nas ofertas.

"Não ter concorrência facilitou. A proposta foi aquém do que o bloco tem a oferecer", avaliou o presidente da empresa, Lincoln Guardado. Segundo ele, a falta de ofertas é reflexo da "contingência do momento e do mercado".

Para o geólogo Pedro Zalan, da consultoria ZAG, a ausência de ofertas pelos blocos da bacia do Espírito Santo não era esperada. "Geologicamente não vejo explicação. Só posso atribuir à situação atual de insegurança jurídica e política do País, além dos preços baixos do petróleo. Talvez por se tratar de blocos de águas profundas o custo tenha sido considerado muito elevado", avaliou.

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O presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), Aluízio dos Santos, criticou a realização da rodada e a dependência da indústria à Petrobrás. "O resultado está ainda pior do que era esperado. Uma coisa é ter ofertas abaixo do volume esperado, outra coisa é não ter ofertas", avaliou Aluízio dos Santos, também prefeito de Macaé, uma das principais bases da Petrobrás que enfrenta forte queda nas receitas. "Temos uma indústria que representa 12% do PIB sem produzir", afirmou

Para o ex-diretor da ANP e consultor, John Forman, o fraco resultado não surpreendeu pela conjugação de três fatores: preços do petróleo em baixa, dinheiro escasso e caro e potencial modesto de produção dos blocos ofertados. "Isso não abre o apetite de grandes empresas do petróleo. Para elas não vale a pena buscar um bloco de reservas modestas que dará tanto trabalho quanto um grande e renderá pouco", disse.

Protestos. No lugar das tradicionais manifestações lideradas por petroleiros, grupos indígenas de cinco etnias ocuparam o hotel onde foi realizado o leilão. Eles se posicionam contra a exploração de áreas próximas às suas tribos que foram leiloadas no passado. Suas comunidades estão espalhadas pelo Acre, São Paulo e Paraná. "Estamos protestando contra o que o leilão vai significar para as nossas gerações futuras", afirmou Kretã Kaingang, da tribo Kaingang, localizada no Paraná. 

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Todos os índios, das diferentes etnias, carregam adesivos da organização "No fraking", que se posiciona contra o fraqueamento de rochas de xisto. No Paraná, petroleiras foram impedidas de avançar na exploração de áreas licitadas pela ANP, por determinação da Justiça a pedido do Ministério Público.

Segundo o diretor do Sindipetro-RJ Edson Munhoz, "esse leilão não cumpriu prazos legais e envolve áreas de preservação ambiental." Ele disse ainda que há áreas na reserva do encontro entre os rios Negro e Solimões, "por isso os indígenas estão aqui. É um absurdo entregar essas áreas a uma indústria tão poluente quanto a petrolífera", afirmou.

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