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Sem vagas formais, bicos e negócio próprio viram opção

A busca frustrada por uma recolocação no mercado de trabalho se tornou uma oportunidade para o casal Natacha Ribeiro e Gilberto Ribeiro Júnior colocar em prática dois planos que até então não passavam de vagas ideias: mudar da capital para o interior de São Paulo e transformar o hobby de cozinhar em um negócio. Eles fazem parte do contingente de brasileiros que, empurrado pelo fechamento de vagas, começou a trabalhar por conta própria.

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Por Redação
Atualização:

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, na comparação do trimestre encerrado em janeiro 2016 com o mesmo período do ano passado, mais de 1,3 milhão de pessoas passaram a trabalhar por conta própria – um avanço de 6,1%. Já o número de empregados com carteira assinada recuou 3,6% na mesma comparação.

Natacha, arquiteta, trabalhava desde 2011 para uma pequena construtora que fazia, principalmente, obras do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, e do CDHU, do governo estadual paulista. “No ano passado, as obras novas pararam, e eu trabalhava no setor comercial, que cuidava de concorrências e projetos”, conta. Ao ser demitida, em setembro, enviou dezenas de currículos – sem sucesso. “Na Catho, por exemplo, tinha apenas 50 vagas em arquitetura para todo o País.”

Da planta à chapa: Natacha abriu um food truck com o marido Foto: Ricardo Lima/Estadão

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O marido, que atuava com tecnologia da informação, havia saído do emprego em abril, e desde então já trabalhava por conta própria. Os clientes, porém, eram poucos. “Depois que eu saí do emprego, ficamos sem praticamente nenhuma renda”, diz Natacha.

Foi aí que eles cogitaram investir de vez no que era um hobby de Júnior. Ele, que sempre gostara de cozinhar, começou a desenvolver receitas de hambúrguer, a preparar para os amigos e, aos poucos, a fazer pequenos eventos. “Com a minha rescisão, investimos R$ 50 mil para comprar um veículo e abrir um food truck, o Harmona Burguer”, diz Natacha. 

A aposta veio junto com outra grande decisão: mudar para Araras, interior de São Paulo, onde já moravam os pais de Júnior. “O custo de vida é mais baixo. Além disso, como estávamos pensando em abrir um food truck, em São Paulo esse modelo já está saturado, mas no interior ainda é novidade”, diz ela. 

O casal se mudou com seus dois filhos pequenos em outubro, e em dezembro deram início ao novo negócio. Eles abrem de quinta a domingo à noite. “Conseguiremos ter lucro só a partir de um ano. Mas a gente está conseguindo se manter e pagar as contas, então para nós está sendo muito bom.” A renda mensal líquida da família é de R$ 3 mil.

O desemprego também tem impulsionado os chamados bicos, os empregos esporádicos. Depois de ser demitido da indústria, Eduardo Rocha começou a fazer bicos como “marido de aluguel”. “Faço de tudo: da instalação elétrica completa da casa a trocar uma resistência de chuveiro. Até trocar pneu de carro eu já fui.”

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O que era bico virou negócio: com divulgação via sites e redes sociais, ele começou a ganhar o equivalente ao que ganhava na indústria, por volta de R$ 3,5 mil mensais. “Em meses bons dava pra tirar até R$ 5 mil”, diz.

Com a crise, porém, a demanda vem caindo. Hoje, tira por volta de R$ 2 mil por mês. O orçamento fica apertado: Eduardo paga R$ 900 de aluguel e R$ 400 de pensão, e viu as despesas básicas subirem. A solução foi se virar mais uma vez: ele comprou um veículo num leilão, por R$ 28 mil, e hoje também faz carreto. “Comecei com as mudanças para tentar abrir o leque. Mas, pelo investimento que eu fiz, esperava mais serviço.”

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