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S&P vê esforço do governo, mas diz que Congresso 'hostil' atrasa ajuste fiscal

Analista da agência de classificação de risco disse que o governo Dilma tem mostrado 'comprometimento', mas destacou cenário político conturbado e piora das contas fiscais

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e correspondente
Atualização:

Atualizado às 16h55

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NOVA YORK - A situação da economia brasileira piorou rápido nos últimos meses e os riscos aumentaram desde março, quando a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) fez a revisão do rating soberano do País, afirmou a analista da instituição responsável por Brasil, Lisa Schineller, em uma teleconferência com jornalistas e analistas na tarde desta terça-feira, 28, para comentar a mudança de perspectiva do rating soberano brasileiro para "negativa".

Logo no começo de sua apresentação, Lisa disse que as investigações de corrupção na Operação Lava Jato contribuem para elevar a incerteza na economia, afetando a melhora da confiança do setor privado. O Congresso mais hostil também tem dificultado a condução da política econômica, barrando alguns pontos importantes para o ajuste fiscal. "Vimos que o risco político piorou."

Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Lisa frisou que o governo de Dilma Rousseff tem mostrado "comprometimento" e a expectativa é de que o Brasil consiga reverter esse quadro de maior deterioração, talvez com algum atraso em relação ao que se esperava antes e com mais riscos. Não fosse essa perspectiva, a diretora da S&P disse que a nota brasileira teria sido rebaixada para abaixo da categoria grau de investimento. A S&P projeta que a economia brasileira ficará estagnada em 2016 e volta a ter crescimento apenas em 2017. 

"Perspectiva negativa não quer dizer rebaixamento da nota. Afirmamos o rating", disse Lisa em diversos momentos da teleconferência. Ela comentou que desde março houve aumento da incerteza na economia brasileira, em meio à piora da atividade econômica, das contas fiscais e do cenário político conturbado no Congresso. "É uma dinâmica mais fraca de crescimento do que assumimos antes, uma história fiscal mais fraca." Para a analista, esse quadro compromete a execução de políticas.

Segundo Lisa, uma deterioração adicional da economia brasileira, incluindo a piora de indicadores fiscais e externos, e mesmo uma falta de comprometimento do governo em tocar o ajuste necessário para reequilibrar o país pode levar o Brasil a ser rebaixado e deixar o seleto grupo que faz parte da categoria grau de investimento.

Ao mesmo tempo, Lisa frisou na teleconferência que vê comprometimento da equipe econômica em tocar o ajuste necessário para que o País volte a crescer e vê disposição do governo em dialogar com o Congresso. A S&P, disse ela, vai monitorar essas conversas e o andamento das medidas no segundo semestre. Ela mencionou ainda o esforço do Banco Central para conter a inflação e ressaltou que a expectativa do mercado para 2016 já mostram maior convergência para perto da meta do governo.

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Lisa mencionou que a nota soberana do Brasil pode ficar estável em uma próxima revisão se a incerteza política e a execução da política econômica, que vem sendo comprometida pelo Congresso, melhorar. Esses fatores iriam contribuir para que o país saia da recessão em que está, completou a analista da S&P. O comprometimento do governo em bancar medidas de ajuste também é um fator importante na avaliação, disse ela. 

 Foto: Infográficos/Estadão

Impeachment e corrupção. O impeachment da presidente Dilma Rousseff não faz parte do cenário base da S&P para a economia brasileira, afirmou Lisa. Já no Congresso, medidas importantes para o ajuste fiscal ainda precisam de aprovação, mesmo com a equipe econômica "trabalhado duro" para discutir as medidas e conversar com deputados e senadores.

Quando a S&P afirmou o rating e a perspectiva da nota brasileira em março, Lisa disse que já se esperava alguma demora em aprovar medidas importantes para o ajuste fiscal, por conta da fragmentação política, mas a decepção acabou se mostrando maior do que o esperado. O mesmo ocorreu com o crescimento do PIB, que acabou se mostrando pior do que previsto. 

Lisa comentou em diversos momentos da teleconferência, que durou cerca de 50 minutos, os impactos das investigações de corrupção na Petrobrás na economia brasileira e no ambiente de negócios.Ainda há muita incerteza sobre os rumos da Operação Lava Jato, disse ela, destacando que a S&P vai monitorar o risco de as investigações, que têm atingido uma lista de políticos cada vez maior, afetar a condução da política econômica brasileira. "As investigações estão contribuindo para aumentar o nível de incerteza", disse ela. 

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