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Setor de alimentos alivia desemprego em Marília

Cidade do interior de São Paulo foi a 1ª em geração líquida de vagas formais em agosto; indústria de alimentos absorveu parte de ex-metalúrgicos

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Entre o fim do período de aviso prévio e o início no novo emprego, o torneiro mecânico José Augusto do Amaral, de 27 anos, casado e pai de um filho, ficou apenas uma semana parado. “Dei sorte”, disse ele, minutos antes de entrar para o turno da tarde na fábrica de alimentos Dori, em Marília, município que fica no centro-oeste do Estado de São Paulo. Amaral trabalhou durante três anos como torneiro mecânico na Man, fabricando máquinas para produção de tijolos e telhas. Tirava cerca de R$ 1,7 mil. Com a crise, o metalúrgico e outros colegas foram demitidos.

A saída foi procurar trabalho na indústria da alimentação, que reúne 200 empresas na cidade, tida como a capital nacional do alimento. “Não senti tanto a crise porque arrumei outro serviço”, afirmou, ponderando que tem muitos colegas ainda desempregados. Agora como encarregado de manutenção, ele ganha R$ 2,3 mil.

Investimentos feitos em 2014 e 2015 seguraram o emprego no Grupo ZDA Foto: Gabriela Biló|Estadão

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A migração feita por Amaral e outros trabalhadores, da indústria metalúrgica, que vai mal, para uma parcela do setor de alimentação, que começa a contratar, somada à abertura de vagas nos serviços, especialmente de tecnologia da informação (TI), fizeram de Marília o município que mais gerou empregos formais no Estado de São Paulo em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho. No ano, entre demissões e admissões, foram 993 vagas abertas, a maior parte na indústria de alimentos e nos serviços.

Uma análise feita pela secretaria de Desenvolvimento Econômico do município mostra que, comparado a cidade vizinhas de porte semelhante, Marília é praticamente a única que tem saldo positivo de emprego no ano. A diversificação da economia explica, segundo o secretário Cássio Luiz Pinto Junior, o desempenho positivo. “A diversificação fez com que a fase ruim da metalurgia fosse compensada pelos alimentos e os serviços de TI”, observou.

O resultado favorável da geração de emprego não significa que a cidade seja um oásis. “Há muito desempregado, mas as contratações nas grandes empresas de biscoitos e confeitos estão segurando as pontas”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Marília, Wilson Vidoto Manzon. Hoje, o emprego na indústria de alimentos é cerca de 10% menor em relação ao começo do ano. Mas o quadro poderia ser pior se as grandes empresas não tivessem começado a contratar.

A Marilan, segunda maior fabricante de biscoitos do País, admitiu 300 trabalhadores para ampliar em 40% a capacidade de produção. Com 3 mil funcionários, dos quais 1,8 mil na fábrica, a companhia não revela as cifras investidas.

De acordo com o secretário municipal, a Nestlé vai começar a produzir cookies na cidade e contratou 120 trabalhadores. Procurada, a empresa informou que ampliou a produção e fez admissões, mas não confirmou o número de vagas abertas nem revelou o investimento em novos fornos para os biscoitos.

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A maioria das indústrias de alimentos da cidade vem de um período de investimento muito forte em novas linhas de produtos. Eles foram planejados no passado, quando a economia crescia. Ocorre que esses projetos estão sendo concluídos agora. “Isso tem ajudado nos volumes vendidos e segurado o emprego”, explicou Luiz Reinaldo Noda, diretor de Operações Estratégicas do Grupo ZDA, que fabrica cobertura de chocolate e barras de cereais, entre outros confeitos.

Em 2014 e 2015, a sua empresa, por exemplo, investiu perto de R$ 40 milhões em equipamentos e infraestrutura para fabricar novos produtos, como a pipoca pronta, chocolate diet e moedas de chocolate. Este último era importado da China, mas, por causa da oscilação do dólar, passou a ser produzido localmente. Com 250 empregados na fábrica de Marília, Noda contou que as novas linhas ocuparam 50 trabalhadores. “Se não tivéssemos isso, provavelmente teríamos de demitir.”

Há também um aumento de produção de confeitos e biscoitos por causa do período mais favorável de consumo de fim de ano e de insumos para a Páscoa, como cobertura de chocolate, que as indústria começa a produzir agora. Esse é outro fator que tem ampliado o emprego.

Tecnologia. Apesar do peso dos alimentos a ponto de a cidade até cheirar a biscoito, o setor de tecnologia está em franca expansão e é outro pilar que tem garantido o emprego. “Há 200 companhias de TI num raio de 30 quilômetros de Marília e, no 1.º semestre, o emprego no setor cresceu 9%”, disse Elvis Fusco, presidente da associação das empresas de TI. A Tray, especializada em software para comércio eletrônico, ampliou em 5% os quadros. “Tivemos uma contenção de despesa por causa da crise, mas não demitimos. Temos 7 vagas abertas”, contou Daniele Pereira, gerente de RH.

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